Não se fazem mais canções juninas
* Por
Hilton Gorresen
Num texto da década de
1940, o jornalista e crítico musical Jota Efegê nota que ninguém mais compunha
músicas de Natal. E isso não mudou até hoje. As belas canções natalinas
continuam as mesmas daquela época. Músicas alegres, festivas, mas também aquela
tristinha, composta por Assis Valente, do menino que pensava que todo mundo
fosse filho de Papai Noel. Nem todos, menino, nem todos...
Isso me fez lembrar
que desde minha infância não apareceram também novas canções para homenagear o
trio de santos festejados nas noites frias, tão frias de junho...
Sempre achei que
nossos festejos juninos buscavam lembrar um paraíso rural distante, onde
campeava a felicidade, de mistura com ingênuos namoros, fogueiras e balões. A
curiosidade que me move quando deparo com assuntos históricos me fez buscar
meus velhos alfarrábios (é mentira, hoje em dia basta clicar no Google) a fim
de extirpar as dúvidas sobre a origem dessas festas.
Como a maioria das
festas tradicionais, as festas juninas tiveram origem em ritos pagãos ligados
às estações do ano, nos quais se acendiam fogueiras. Encampados posteriormente
pela Igreja e espalhados pelo mundo ocidental, esses ritos transformaram-se em
homenagem aos santos católicos Antônio, Pedro e João. As festas, que em
Portugal tinham caráter agrário, foram trazidas ao Brasil pelos portugueses
durante o período colonial.
Na certa que houve
muitas modificações através do tempo. Da China, na época dos descobrimentos, os
portugueses trouxeram os enfeites, os balões e foguetes. Da França, séculos
mais tarde, a dança da quadrilha. Quadrilha aí não se refere, como alguns podem
pensar, àquele bando de malfeitores que podemos encontrar até (e
principalmente) em nossas instituições. Era uma dança composta por quatro pares
(se fosse por três pares seria tridilha), dançada nos salões pelos
aristocratas. Mas sua origem mesmo foi uma contradança (ou country dance)
inglesa. A famosa encenação do “casório” foi incluída porque em alguns países
aproveita-se a ocasião para realização de casamentos autênticos.
Assim como nas músicas
carnavalescas foram dispensadas as saudosas figuras de Arlequim, Pierrô e
Colombina, ninguém mais compõe canções falando de fogueiras e balões, nem com
lindos versos dizendo que as estrelas são os balões lá do céu.
(Crônica extraída de
meu livro "A língua é nossa - descomplicando linguagem e comunicação").
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Escritor catarinense, autor de seis livros: cinco de crônicas e um de memórias.
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