segunda-feira, 13 de junho de 2016

Não se fazem mais canções juninas

* Por Hilton Gorresen


Num texto da década de 1940, o jornalista e crítico musical Jota Efegê nota que ninguém mais compunha músicas de Natal. E isso não mudou até hoje. As belas canções natalinas continuam as mesmas daquela época. Músicas alegres, festivas, mas também aquela tristinha, composta por Assis Valente, do menino que pensava que todo mundo fosse filho de Papai Noel. Nem todos, menino, nem todos...

Isso me fez lembrar que desde minha infância não apareceram também novas canções para homenagear o trio de santos festejados nas noites frias, tão frias de junho...

Sempre achei que nossos festejos juninos buscavam lembrar um paraíso rural distante, onde campeava a felicidade, de mistura com ingênuos namoros, fogueiras e balões. A curiosidade que me move quando deparo com assuntos históricos me fez buscar meus velhos alfarrábios (é mentira, hoje em dia basta clicar no Google) a fim de extirpar as dúvidas sobre a origem dessas festas.

Como a maioria das festas tradicionais, as festas juninas tiveram origem em ritos pagãos ligados às estações do ano, nos quais se acendiam fogueiras. Encampados posteriormente pela Igreja e espalhados pelo mundo ocidental, esses ritos transformaram-se em homenagem aos santos católicos Antônio, Pedro e João. As festas, que em Portugal tinham caráter agrário, foram trazidas ao Brasil pelos portugueses durante o período colonial.

Na certa que houve muitas modificações através do tempo. Da China, na época dos descobrimentos, os portugueses trouxeram os enfeites, os balões e foguetes. Da França, séculos mais tarde, a dança da quadrilha. Quadrilha aí não se refere, como alguns podem pensar, àquele bando de malfeitores que podemos encontrar até (e principalmente) em nossas instituições. Era uma dança composta por quatro pares (se fosse por três pares seria tridilha), dançada nos salões pelos aristocratas. Mas sua origem mesmo foi uma contradança (ou country dance) inglesa. A famosa encenação do “casório” foi incluída porque em alguns países aproveita-se a ocasião para realização de casamentos autênticos.

Assim como nas músicas carnavalescas foram dispensadas as saudosas figuras de Arlequim, Pierrô e Colombina, ninguém mais compõe canções falando de fogueiras e balões, nem com lindos versos dizendo que as estrelas são os balões lá do céu.

(Crônica extraída de meu livro "A língua é nossa - descomplicando linguagem e comunicação").

* Escritor catarinense, autor de seis livros: cinco de crônicas e um de memórias.


Nenhum comentário:

Postar um comentário