quinta-feira, 9 de junho de 2016

Falta alegria

* Por Pedro J. Bondaczuk


O mundo carece, cada vez mais, de alegria. As pessoas, a cada dia que passa, tornam-se (salvo honrosas exceções) mais solitárias, mais macambúzias, mais mal-humoradas e, sobretudo, mais tristes. É possível que essa evolução da solidão e do desamparo seja apenas quantitativa, dado o explosivo aumento da população mundial, notadamente a partir da última metade do século passado. Talvez...

É provável que as mazelas e infelicidades que assolam o homem deste início de século XXI sejam as mesmíssimas de sempre, embora afetando maior quantidade de gente. Nas grandes cidades, por exemplo, crescem, em progressão geométrica, a desconfiança e o medo.

Andar nas ruas, exercício há não muito simples e trivial, transforma-se, dramaticamente, em perigosa aventura, face aos inúmeros perigos, absolutamente reais, com os quais nos confrontamos, como assaltos, atropelamentos, balas perdidas etc., que expõem a risco não apenas nossa integridade física, mas, principalmente a vida. Corremos o risco de sair de casa para um simples passeio e jamais regressarmos. Ou de irmos parar num hospital com alguma grave mutilação que nos marque para sempre.

Como a Literatura é o reflexo da vida, do comportamento das pessoas de um determinado tempo, esta também anda, há já bom tempo, um tanto sombria e tensa. Falta, nela, o riso, o bom-humor e a alegria de escrever. Carece, por exemplo, da ironia de um George Bernard Shaw, da picardia de Mark Twain, da observação irônica e sempre inteligente de Mário Quintana, de Carlos Drummond de Andrade e, sobretudo, do “Bruxo do Cosme Velho”, Machado de Assis.

É verdade que temos bons escritores, e em profusão. Sinto, porém, que lhes falta o riso, embora abunde o siso; lhes falta a descontração, a observação galhofeira, o rir de si mesmo, em vez de escrachar pessoas humildes e fracas de cabeça, em textos que, não raro, descambam para o preconceito implícito (quando não explícito).

Está aí magnífico filão a ser explorado por escritores ousados e observadores que, certamente, lhes renderá bons dividendos caso se disponham a explorá-lo com competência, criatividade e picardia. Que tal trazer um pouquinho de alegria e de luz a um mundo crescentemente sombrio, violento, injusto, revoltante e, sobretudo, triste?


* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk


Um comentário:

  1. Meu filho Fernando Yanmar sabe fazer isso. Eu não consigo colocar humor algum no que escrevo.

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