segunda-feira, 6 de junho de 2016

Discussões

* Por Ana Flores

                                                                                        

Como se discute por aqui! Tirante os execráveis programas sensacionalistas na TV, impossíveis de se acompanhar por mais de 5 minutos, proliferam entre nós mesas-redondas de A a Z, palestras e peças teatrais seguidas de perguntas da platéia e o insuperável papo na mesa do chope. Tudo se discute. Discussões boas, agradáveis e oportunas, quase sempre. A mídia discute seu papel e suas limitações diante de forças nem tão ocultas e cheias de poder. Discute-se em altas esferas a possibilidade de Plutão não ser propriamente um planeta pelo seu tamanho muito menor que o dos seus outros companheiros do sistema solar. Discute-se a melhor forma de se chegar ao desarmamento mundial. Discute-se  a validade do Provão e das cotas para negros nas universidades. Questiona-se se mensaleiros, sanguessugas, serpentes, vermes, sucateadores e outros bichos devem ou não tentar a reeleição.

Contribuo com mais lenha na fogueira e proponho outras discussões, algumas bem antigas, mas cujo resultado jamais aparece.

Quem se propõe a discutir, com os pés na terra e longe dos palanques,  ao lado da polêmica das cotas de estudantes negros para as universidades, o destino dos outros negros, brancos, mulatos e cafuzos, brasileiros e menores de idade, que continuam à toa nas ruas, na única escola que realmente funciona no país, a escola do crime?

Que setor legislativo se dispõe realmente a chegar a soluções eficazes para o afastamento definitivo das frutas podres das fileiras de nossas lideranças políticas,  por meio de mecanismos legais e sem frestas, que impeçam o retorno ao fica-o-dito-pelo-não-dito?

Quando começam as discussões objetivas e eficazes sobre a renovação já atrasada do currículo escolar brasileiro, levando em consideração o perfil da criança e do adolescente brasileiros do século XXI, nas diferentes regiões do país, suas reais necessidades e deveres como cidadãos conscientes e com acesso à cultura e outros bens para sua formação integral?

Ao lado do Rio, a Cidade Imperial vem pouco a pouco abrigando vários nichos crescentes de favelas em locais diversos.  Com um potencial turístico riquíssimo mas ainda com exploração incipiente, Petrópolis tem favelas no seu perímetro urbano e em seus municípios, incluindo as margens do rio Piabanhas, onde  o lixo é jogado in natura e que sempre responde à altura durante as tempestades de verão. Tem alguém discutindo esses dois aspectos da cidade-irmã do Rio?

O que mais é necessário discutir para se provar a urgência de mudança de comportamento humano diante do meio ambiente, pelo qual os habitantes do planeta são diretamente responsáveis? Os astrônomos podem chegar à conclusão de que Plutão está longe de ser um planeta, mas a Terra está bem aqui, debaixo dos nossos pés, massacrada e maltratada diariamente, pedindo socorro por meio de tsunamis, mudanças climáticas e outras manifestações de suas entranhas.

Alguém tem notícias sobre os procedimentos eficazes contra a biopirataria? Ou sobre a entrada franca e tranqüila de empresas madeireiras clandestinas, estrangeiras e brasileiras, responsáveis por grande parte do desmatamento no país e evasão de riquezas naturais?

Ou tem muito ruído na atmosfera, impedindo que as respostas sejam ouvidas, ou nem mesmo as perguntas chegaram a entrar na agenda de quem de direito. A não ser na farsa das campanhas eleitorais.

* Jornalista
                                                       

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