Discussões
* Por Ana Flores
Como se discute por aqui! Tirante os
execráveis programas sensacionalistas na TV, impossíveis de se acompanhar por
mais de 5 minutos, proliferam entre nós mesas-redondas de A a Z, palestras e
peças teatrais seguidas de perguntas da platéia e o insuperável papo na mesa do
chope. Tudo se discute. Discussões boas, agradáveis e oportunas, quase sempre.
A mídia discute seu papel e suas limitações diante de forças nem tão ocultas e
cheias de poder. Discute-se em altas esferas a possibilidade de Plutão não ser
propriamente um planeta pelo seu tamanho muito menor que o dos seus outros
companheiros do sistema solar. Discute-se a melhor forma de se chegar ao
desarmamento mundial. Discute-se a
validade do Provão e das cotas para negros nas universidades. Questiona-se se
mensaleiros, sanguessugas, serpentes, vermes, sucateadores e outros bichos
devem ou não tentar a reeleição.
Contribuo com mais lenha na fogueira e
proponho outras discussões, algumas bem antigas, mas cujo resultado jamais
aparece.
Quem se propõe a discutir, com os pés
na terra e longe dos palanques, ao lado
da polêmica das cotas de estudantes negros para as universidades, o destino dos
outros negros, brancos, mulatos e cafuzos, brasileiros e menores de idade, que
continuam à toa nas ruas, na única escola que
realmente funciona no país, a escola do crime?
Que setor legislativo se dispõe
realmente a chegar a soluções eficazes para o afastamento definitivo das frutas
podres das fileiras de nossas lideranças políticas, por meio de mecanismos legais e sem frestas,
que impeçam o retorno ao fica-o-dito-pelo-não-dito?
Quando começam as discussões objetivas
e eficazes sobre a renovação já atrasada do currículo escolar brasileiro,
levando em consideração o perfil da criança e do adolescente brasileiros do
século XXI, nas diferentes regiões do país, suas reais necessidades e deveres
como cidadãos conscientes e com acesso à cultura e outros bens para sua
formação integral?
Ao lado do Rio, a Cidade Imperial vem
pouco a pouco abrigando vários nichos crescentes de favelas em locais
diversos. Com um potencial turístico
riquíssimo mas ainda com exploração incipiente, Petrópolis tem favelas no seu
perímetro urbano e em seus municípios, incluindo as margens do rio Piabanhas, onde o lixo é jogado in natura e que sempre
responde à altura durante as tempestades de verão. Tem alguém discutindo esses
dois aspectos da cidade-irmã do Rio?
O que mais é necessário discutir para
se provar a urgência de mudança de comportamento humano diante do meio
ambiente, pelo qual os habitantes do planeta são diretamente responsáveis? Os
astrônomos podem chegar à conclusão de que Plutão está longe de ser um planeta,
mas a Terra está bem aqui, debaixo dos nossos pés, massacrada e maltratada
diariamente, pedindo socorro por meio de tsunamis, mudanças climáticas e outras
manifestações de suas entranhas.
Alguém tem notícias sobre os
procedimentos eficazes contra a biopirataria? Ou sobre a entrada franca e
tranqüila de empresas madeireiras clandestinas, estrangeiras e brasileiras,
responsáveis por grande parte do desmatamento no país e evasão de riquezas
naturais?
Ou tem muito ruído na atmosfera,
impedindo que as respostas sejam ouvidas, ou nem mesmo as perguntas chegaram a
entrar na agenda de quem de direito. A não ser na farsa das campanhas
eleitorais.
* Jornalista
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