quinta-feira, 16 de junho de 2016

Desvio de finalidade


* Por Marcelo Sguassábia


Viver em comunidade é viver com responsabilidade. Como nem todos pensam assim, abusos sempre acontecem. Mas chega uma hora em que é preciso colocar ordem na casa, para que prevaleça um mínimo de civilidade e observância a normas de boa e saudável convivência. E essa hora chegou para o nosso condomínio. Mais especificamente, refiro-me a irregularidades na utilização segura do playground, e à necessidade de estabelecermos a quem ele de fato se destina.

Não é novidade para ninguém que o gira-gira existe para turbinar o efeito da bebida, por isso está estrategicamente instalado próximo ao lazer dos adultos. É insano permitir que crianças se aproximem dele. Se a força do equipamento em alta velocidade pode derrubar gente de noventa quilos, que ali espairece responsavelmente entre uma mão e outra de carteado no salão de festas, o que dizer de gurizinhos mais leves que um saco de arroz Tio João? O desastre é tão certo quanto as horas de choro que o sucedem. E, em ocorrendo acidente, os condôminos respondem juridicamente pelas despesas do hospital. Ou da funerária.

Para evitar que menores de 21 se aproximem dos balanços, o subsíndico mandou instalar um engenhoso mecanismo de senha alfanumérica combinado com biometria de reconhecimento digital e leitura de iris. Qualquer tentativa de acesso indevido ao equipamento resultará, após três digitações incorretas da senha, no bloqueio do movimento pendular do balanço. Na eventualidade do infantiloide conseguir dar umas balançadas, em questão de segundos seu assento será ejetado. De castigo, acabará no mínimo com um traumatismo craniano. Bem feito. Se os pais não corrigem, a comissão administrativa do prédio saberá fazê-lo. Esses pequenos mal-educados aprenderão na marra a evitar a traquinagem.

Dizem que é "escorregador" o nome que a molecada dá ao escalador-fitness, adquirido para complementar a nossa já bem equipada academia de ginástica. Enquanto nós, adultos, utilizamos o aparelho para fortalecer as panturrilhas na subida da escadinha, os guris usam a escada para se jogarem aos berros na rampa metálica - o que é um contrassenso. Com essa brincadeira besta, impedem que as pessoas mais velhas utilizem o escalador para o fim que foi concebido: cuidar da forma física.

Em relação à gaiola-labirinto, as reclamações são quase diárias. Tal qual selvagens micos, a meninada em algazarra usa o emaranhando metálico para exercitar os bíceps. Outro flagrante absurdo, pois a gaiola foi feita para secar roupas (facilitando a vida das nossas prendadas condôminas), ou para espionar com binóculos as banhistas do prédio ao lado (caso dos respeitáveis condôminos).

Playground não é e nem nunca foi lugar de criança, mas a impressão que se tem é que a proibição exerce sobre elas um fascínio irresistível. A plaquinha "Proibida a entrada de menores", afixada com destaque ao lado do par de gangorras, parece aguçar ainda mais os pestinhas. Medidas extremas, ainda em estudos, serão necessárias. Contamos com a compreensão e o apoio de todos.

* Marcelo Sguassábia é redator publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).



Um comentário:

  1. Subir pelas escadas e me jogar na rampa, está aí uma boa ideia. De hoje em diante farei o jogo inverso ao que fazia antes. Brincadeira. Saudades do escorregador da Praça de Esportes.

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