terça-feira, 7 de junho de 2016

Boris Schnaiderman


* Por Mouzar Benedito


Vi nos jornais a notícia da morte de Boris Schnaiderman, aos 99 anos de idade. “Tradutor e escritor”, diz a matéria na Folha, “pioneiro na tradução da literatura russa”. Era isso mesmo, e muito mais.

Nascido na Ucrânia, veio ainda criança para o Brasil, lutou contra o fascismo pela FEB, na Itália, na Segunda Guerra e depois tornou-se um intelectual muito respeitado.

Foi professor na USP, onde estudei. Sem nunca ter sido seu aluno, sempre o respeitei muito, sempre o admirei. E presto uma homenagem muito simples a ele, publicando aqui um trecho de um livro meu, em que conto uma história que mostra seu caráter. O livro, publicado pela Publisher Brasil, chama-se “1968, por aí… Memórias burlescas da ditadura”. E o trecho dedicado a ele é esse abaixo:

“Quantas prisões ele teve?

Boris Schnaiderman era professor de Russo, no Departamento de Letras Orientais, o que lhe rendeu muitos problemas durante a ditadura. Segundo diziam muitos dos seus alunos, toda vez que a polícia invadia o prédio de Geografia e História, onde funcionava também o Departamento de Letras Orientais, prendiam o Boris. Deve ter sido preso mais de dez vezes, pelo simples fato de ser professor da língua russa. Mas ele tinha (e tem) outras qualidades, que para a ditadura eram defeitos “merecia” ser preso mesmo. É um intelectual que merece essa classificação. Além de profundo conhecedor de literatura — não só russa — sempre foi crítico, humanista.

Na invasão do prédio relatada acima [isso se refere a um texto anterior, sobre uma invasão policial e militar para prender alunos de Geografia e História procurados pelo Dops], policiais chegaram à sala do Boris e, pela primeira vez, decidiram não prender o professor, mas só algum aluno procurado que estivesse ali. Procuraram até ser “educados”. Bateram na porta e entraram, uns três ou quatro militares fardados atravessaram a porta com metralhadoras nas mãos e pediram:

— Com licença, professor… Só viemos prender alguns subversivos que podem estar nesta sala…

Ele reagiu bravo:

— Não dou licença não. Ninguém tem licença pra prender estudante na minha sala. Fora daqui!!!

Eles foram embora. Levando o Boris. Não havia estudantes procurados naquela sala”.


* Jornalista.

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