Boris Schnaiderman
* Por
Mouzar Benedito
Vi nos jornais a
notícia da morte de Boris Schnaiderman, aos 99 anos de idade. “Tradutor e
escritor”, diz a matéria na Folha, “pioneiro na tradução da literatura russa”.
Era isso mesmo, e muito mais.
Nascido na Ucrânia,
veio ainda criança para o Brasil, lutou contra o fascismo pela FEB, na Itália,
na Segunda Guerra e depois tornou-se um intelectual muito respeitado.
Foi professor na USP,
onde estudei. Sem nunca ter sido seu aluno, sempre o respeitei muito, sempre o
admirei. E presto uma homenagem muito simples a ele, publicando aqui um trecho
de um livro meu, em que conto uma história que mostra seu caráter. O livro,
publicado pela Publisher Brasil, chama-se “1968, por aí… Memórias burlescas da
ditadura”. E o trecho dedicado a ele é esse abaixo:
“Quantas
prisões ele teve?
Boris
Schnaiderman era professor de Russo, no Departamento de Letras Orientais, o que
lhe rendeu muitos problemas durante a ditadura. Segundo diziam muitos dos seus
alunos, toda vez que a polícia invadia o prédio de Geografia e História, onde
funcionava também o Departamento de Letras Orientais, prendiam o Boris. Deve
ter sido preso mais de dez vezes, pelo simples fato de ser professor da língua
russa. Mas ele tinha (e tem) outras qualidades, que para a ditadura eram
defeitos “merecia” ser preso mesmo. É um intelectual que merece essa
classificação. Além de profundo conhecedor de literatura — não só russa —
sempre foi crítico, humanista.
Na
invasão do prédio relatada acima [isso se refere a um texto anterior, sobre uma
invasão policial e militar para prender alunos de Geografia e História
procurados pelo Dops], policiais chegaram à sala do Boris e, pela primeira vez,
decidiram não prender o professor, mas só algum aluno procurado que estivesse
ali. Procuraram até ser “educados”. Bateram na porta e entraram, uns três ou
quatro militares fardados atravessaram a porta com metralhadoras nas mãos e
pediram:
—
Com licença, professor… Só viemos prender alguns subversivos que podem estar
nesta sala…
Ele
reagiu bravo:
—
Não dou licença não. Ninguém tem licença pra prender estudante na minha sala.
Fora daqui!!!
Eles
foram embora. Levando o Boris. Não havia estudantes procurados naquela sala”.
*
Jornalista.
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