A
intensificação na linguagem do futebol
* Por
Nelly Carvalho
Durante a atual rodada
bem disputada do campeonato brasileiro, é
oportuno comentar os usos freqüentes na forma de descrever e comentar os
jogos. Um dos processos mais corriqueiros é a intensificação, ou seja, a hipérbole
ou forma de exagerar, pouco estudada na gramática. É manifestada por advérbios,
adjetivos e locuções, como também pela gradação sufixal de nomes, por verbos e
sua repetição, e largamente utilizada na linguagem corrente, em um país latino
onde o exagero é a tônica da comunicação.
Na crônica esportiva
(leia-se futebolística), a intensificação é constante, pois, analisando os
acontecimentos diários do mundo dos esportes, busca envolver o leitor e
convencê-lo a respeito das opiniões emitidas, fazendo-o sentir-se
co-participante. Os jornalistas esportivos, especialmente no futebol, não
apenas fazem a narrativa dos acontecimentos, mas comentam, refletem e analisam
os mesmos, através do seu próprio ponto de vista.
Seu público é uma
mescla de níveis sociais, da elite às classes populares; a fala (ou texto)
busca ser leve, acessível e com grande poder de apelo, a fim de envolver todos
num clima de disputa, na euforia das vitórias ou nas tristezas da derrota. Usa
imagens, gírias, expressões pitorescas, como maneira de prender a atenção do
leitor e convencê-lo da justiça ou do absurdo de um resultado.
A repetição é usada
como recurso enfático, em: Que bola, bola! lindo, lindo, lindo! cuja entonação
especial faz vibrar a torcida. O uso de aumentativos, diminutivos e superlativos
têm valor afetivo ou pejorativo. Em Passou rentinho à trave, inho tem valor
superlativo e não diminutivo.
O advérbio em mente é
o mais usado na linguagem futebolística. Sua fácil formação confere um alto
grau de compreensibilidade. Assim, vemos em vários comentários: Custa
emocionalmente um alto preço; Minha opinião foi absolutamente divergente; A
bola estava realmente fora; Francamente, eu não vi; O juiz veio
premeditadamente roubar o time; Fez uma boa arbitragem, especialmente pelo festival de cartões. Todos estes advérbios
agem como intensificadores da ação descrita pelo verbo. O intensificador mais é
também de largo uso: Por um jogo mais agressivo, mais rápido; Podia ter feito
mais dois gols. Super é adotado em formações como supertime e supercraque.
Construções giriáticas
ou populares dão um toque peculiar e carregado de intenções apelativas. São
usadas expressões como: É dose para elefante; É para matar qualquer torcedor de
raiva; O time vai ter que rebolar; Tem a leveza de um paquiderme, temos a
ironia da imagem estabelecida pelas palavras antônimas. A hipérbole (exagero) é
importante na redação esportiva: O camisa 5 calculou e mandou bomba; Raspou a trave esquerda; Nada de
aparecer com o rei na barriga; O Palmeiras vem aí com todo o embalo; É sinal de
alarme para o técnico. As descrições sugerem luta e adversários ferrenhos em
choque. Nem a violência que impôs para intimidar o time sufocou o adversário;
Evitou o desastre da derrota. As palavras são mais expressivas que descritivas
e libertam a carga de emoção procurando
envolver o leitor pela forma de descrever o fato.
Fonte
in PE 360 Graus de 9
de Outubro de 2007
*
Escritora e doutora em Letras
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