sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Eu ou o Jipe?

* Por Rodrigo Ramazzini

Em uma mesa de bar.

- Estava louco para falar contigo, Cláudio! Tenho uma história para te contar. Aconteceu: a Clarinha me colocou contra a parede? Disse ela: Eu ou o Jipe. Escolhe?
- Capaz, Arthur! Tinha te avisado...
- Pois é... Foi em meio a uma discussão quando eu disse para ela que estava indo fazer uma trilha e tal... Ela enlouqueceu, brigou comigo...
- E aí?
- Aí que a baixinha me prensou na parede e eu pensei: e agora?
- Pois é... Que situação!
- Tu sabes como eu sou apaixonado pelo meu Jipe, comprei e o reformei todo... Amo fazer trilha e tal...
- É verdade!
- Pô! Por outro lado, a Clarinha é a mulher da minha vida, Cláudio!
- Bah! Que situação! O que fizeste?
- Bom! Estou eu ali em meio ao fogo cruzado me perguntando “o que eu faço? O que eu faço?” Então, me veio uma luz...
- O quê?
- Disse para ela: vou te responder em 24 horas!
- E ela?
- Ficou furiosa! Fez um escândalo...
- Só imagino! Mas, aceitou?
- Arãn! Esse foi o erro dela!
- Por quê?
- Me deu tempo para pensar em uma saída!
- Isso sim! E aí?
- Aí que eu peguei o carro e fui lá para o sítio do pai pensar em uma alternativa para manter tudo como estava...
- E achou?
- Achei! Eu acho que devo ter feito à mesma cara do ator do filme O banheiro do Papa quando teve a ideia do banheiro...
- Hum!
- Já viste o filme?
- Não! Como é a cara?
- ...
- Há! Há! Há! Boa!
- Pois é... Devo ter feito igual. Tive a ideia, articulei a sua execução e voltei para casa...
- Já estou imaginando aqui a tua saída genial. Ficou com o Jipe e colou um adesivo no carro “Ela disse: eu ou o Jipe? Tenho saudades dela...”?
- Há! Há! Há! Não! Não! Voltei para casa e a esperei chegar do trabalho. Quando ela entrou na porta alcancei a chave do Jipe e disse: “Toma! É teu!”.
- Enlouqueceste, homem?
- Não! Não!
- E ela? Foi vender na hora o Jipe?
- Aí que está! Cogitei que essa poderia ser a primeira reação...
- E?
- Coloquei, digamos assim, uma cláusula nesta doação. Ela poderia fazer o que quisesse com o Jipe, porém ela, e só ela, frisei bem isso, teria que buscá-lo...
- Onde estava o Jipe?
- Eu tinha largado antes em uma trilha lá na fazenda de um amigo...
- Hum! Acho que captei a ideia: a intenção seria “seduzi-la” ao mundo do Jipe depois de experimentar guiar por uma trilha?
- Falar com gente inteligente é outra coisa! Bingo! Ela nunca tinha participado de uma trilha, sentido a sensação...
- Correste o risco de ela deixar o Jipe lá eternamente, não?
- Precisava correr o risco! Mas, tinha certeza que buscaria...
- Hum! E o que ela fez?
- Foi buscar o Jipe, ora!
- Pela tua cara de alegria o plano funcionou perfeitamente?
- Pior que não! Quer dizer, mais ou menos...
- Como assim?
- Sem falar comigo, ela pegou a chave e fomos buscar o Jipe...
- Braba?
- Não! Não! Diria quieta por estar tentando compreender a situação...
- Hum!
- Chegamos lá! Ela embarcou no Jipe, ligou, acelerou, passou por um banhado, subiu um morrinho, então puder ver um leve sorriso em seu rosto...
- E tu correste para galera? Soltaste uns foguetes para comemorar o êxito do plano?
- Pois é... Quando eu pensei em fazer isso, não é que a Clarinha me caiu com o Jipe em uma vala?
- Capaz! Ela se machucou?
- Não! Não! Graças a Deus! Aliás, tenho certeza que foi ele que provocou o acidente...
- Ué! Por quê?
- Porque apesar de a Clarinha estar se divertido, ela venderia o Jipe, mas com o acidente brotou um sentimento de remorso nesta mulher. Um remorso! Que tu nem imaginas...
- Capaz?
- Estou te falando! Disse chorando depois do acidente que eu tinha provado que amava ela dando-lhe o Jipe... Que fazer trilha também era a minha paixão e que ela não poderia interferir nisto e tal... Meia hora de desabafo...
- Caiu a ficha?   
- Arãn!
- E o Jipe?
- Me devolveu...
- Estragou muito?
- Bastante! Mas, isso não importa. Importante é que o tenho de volta. E melhor, com a Clarinha junto. O Jipe está na oficina. Fica pronto na semana que vem. Já tenho até uma trilha agendada com o pessoal...
- E a Clarinha. O que diz?
- Disse que vai junto!
- Há! Há! Há! Se deu bem, hein?
- Por linhas tortas, mas sim! Há! Há! Há!
- Há! Há! Há! Um brinde!
- Um brinde!

E os dois tocam os copos e seguem falando e rindo sobre o assunto...  


* Jornalista e contista gaúcho

2 comentários:

  1. Os homens são perversos e tomam conta do mundo. As mulheres, por serem suas mães e mães dos seus filhos, pensam que dão as cartas, mas, mal as recebem.

    ResponderExcluir
  2. Boa, Mara! Para refletir: como seria o mundo hoje se lá atrás as mulheres tivessem dado as cartas?

    Obrigado pela leitura e comentário!

    Aquele abraço!

    ResponderExcluir