sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Qualidade mais que compensa a quantidade

O início da carreira literária de João Ubaldo Ribeiro – precoce, conforme destaquei em texto anterior – sugeria que o gênero de sua predileção seria o conto. Afinal, sua estréia deu-se com uma história curta, quando tinha apenas 18 anos de idade e certamente nem lhe passava, mesmo que remotamente, pela cabeça, que chegaria onde chegou. Aliás, seus três primeiros livros sequer foram propriamente “seus”. Foram antologias de contos: “Panorama do conto baiano” (Imprensa Oficial do Estado), “Reunião” (junto com David Salles, Sônia Coutinho e Noênio Spinola) e “Histórias da Bahia” (Edições GDR, Rio de Janeiro, 1963, que serve de referência para esta série de estudos sobre alguns dos principais ficcionistas baianos).

João Ubaldo Ribeiro consagrou-se foi no romance, havendo publicado dez memoráveis livros de “histórias longas”, dessas de fôlego, que parecem fáceis de escrever, mas que nunca são, como destaquei em texto anterior. Todavia, mesmo dedicando-se pouco ao conto, é tido e havido como um dos grandes contistas da atualidade. Compensou a quantidade (pouca) com qualidade (imensa). Quem saiu ganhando fomos nós, seus leitores.

O segundo gênero a que mais João Ubaldo se dedicou e, a rigor, continua se dedicando mais do que nunca, é a crônica. Quem lê nos grandes jornais do País (e do Exterior) as que publica com invejável regularidade sabe e reconhece o quanto ele é excelente cronista, entre os melhores da Literatura brasileira. Está entre meus preferidos, óbvio (caso contrário, conforme meu critério pessoal, não estaria escrevendo a seu respeito, já que escrevo somente sobre quem aprecio). Tenho várias pastas com recortes desse tipo de texto, em minha hemeroteca, a maioria publicada no jornal “O Estado de São Paulo”, mas diversas delas também no “O Globo”, do Rio de Janeiro.

Aliás, sua participação na imprensa é das mais copiosas e brilhantes. Diria: também estafantes. João Ubaldo colabora, além de com os jornais que mencionei, também com o “Jornal da Bahia” (e nem poderia ser diferente). Isto no Brasil. Mas também escreve para o “Frankfuter Rundschau” e o “Die Zeit”, da Alemanha; o “The Time Literary Suplement”, da Inglaterra e “O Jornal” e o “Jornal das Letras”, de Portugal. Publicou, até o momento, seis livros de crônicas, a saber: “Sempre aos domingos” (1988, com textos publicados em “O Globo”), “Um brasileiro em Berlim” (1995), “Arte e ciência de roubar galinhas” (1999), “O Conselheiro Come” (2000), “A gente se acostuma a tudo” (2006) e “O rei da noite” (2008). Espero que não tarde em lançar novas publicações do gênero. Material para isso, não tenho dúvidas, tem em profusão.

Em 1983, João Ubaldo Ribeiro lançou-se em outra “aventura literária”, que eu não teria coragem (e nem tenho talento) para me lançar e se deu muito bem. Refiro-me à literatura infantil. Trata-se de tarefa das mais complexas essa de narrar histórias para crianças, na linguagem que lhes seja acessível, e prender, desse modo, sua atenção. Requer-se uma virtude que raros escritores têm. Ou seja, a da simplicidade, sem se descambar para a banalidade ou até para a imbecilidade, como muitos fazem. Foram três os seus livros lançados para essa faixa etária, muito mais exigente do que os desavisados podem supor: “Vida e paixão de Pandonar, o cruel”, “A vingança de Charles Tiburone” e “Dez bons conselhos de meu pai”. Este último foi publicado há apenas dois anos, em 2011 e, se não estou enganado, foi a última obra que publicou. Acredito, no entanto, que seja, na verdade, a primeira de uma nova e extensa série. Pelo menos é o que eu e milhões de leitores esperamos.

Não se pode esquecer do único livro de ensaios de João Ubaldo Ribeiro. Ele é contundente, incisivo e bastante atual (diria, até, essencial), embora publicado há 32 anos. Seu próprio título já sugere isso: “Política: quem manda, por que manda, como manda”. É datado de 1981, quando o País estava em plena ditadura militar, ocasião em que era indispensável ser muito cuidado ao abordar assuntos políticos para não desagradar os poderosos de plantão.

O leitor arguto certamente já notou que, ao enumerar a bibliografia de João Ubaldo Ribeiro, não mencionei um único livro “solo” de contos (objeto destes estudos). Citei, apenas, as três antologias em que teve textos incluídos. Ocorre que ele publicou, apenas, duas obras do gênero, uma das quais republicada, dez anos após a publicação original, com acréscimo de duas histórias e com novo título. A primeira foi “Vencecavalo e o outro povo”, que era para se chamar “A guerra dos Pananaguds” e cujo nome foi mudado em cima da hora. Esse lançamento, da Editora Artenova, se deu em 1974. Em 1981, João Ubaldo lançou o segundo livro “solo” de contos, intitulado “Livro de Histórias”. Em 1991, porém, ele foi reeditado, com o acréscimo de duas histórias curtas, “Patrocinando a arte” e “O estouro da boiada”. E o título, dessa reedição, passou a ser “Já podeis da pátria filhos”.

Como se vê, por mais sucinto que eu pretenda ser, nesta série de estudos, há tanta coisa, e imprescindível, a ser dita, sobre cada personagem, que mal cheguei à metade dela e já escrevi o equivalente a um maçudo livro de mais de trezentas páginas. Há uma infinidade de referências sobre determinados escritores e praticamente nenhuma sobre outros, que sei serem importantes para a Literatura regional e nacional. Tentarei, todavia, ser mais ágil nos próximos textos, na medida do possível, embora sem omitir dados que considere essenciais.

Boa leitura.


O Editor

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Um comentário:

  1. O homem é bom, porém sem muita saúde. No congresso de diabetes, em Salvador, ele fez a palestra na qualidade de ter diabetes.

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