terça-feira, 13 de agosto de 2013

A casa da Tia Ana

* Por Eduardo Oliveira Freire

"Lar é onde habita o coração." (Plínio, o moço)

A casa da Tia Ana, desde quando eu era criança, me proporcionava serenidade. O jardim bem cuidado, as árvores frondosas; a varanda gigantesca, os móveis antigos, os quartos ventilados e a vasta sala... Enfim, a morada era, não, é um pedaço do paraíso.

Mesmo adulto, passava algumas semanas na casa da tia Ana. Lá, a insônia não me atormentava e nem as chatices do cotidiano. Confesso que sou uma pessoa complicada, pois tenho alma de artista, mas não possuo nenhum talento. De repente, tenho crises existências que sempre me atormentaram e nunca consegui desenvolver uma atividade artística para canalizar esta angustia. Logo, com a cabeça repleta de cacos, batia à porta da minha querida tia Ana, que me recebia com muito carinho.

Um dia, o filho dela apareceu. Antigamente éramos muito amigos. Mas, à medida que fomos crescendo, nos distanciamos. Quando ele me viu dormindo no sofá, não gostou. Aparentemente disfarçou e até me falou da sua viagem à Europa. Todavia, ouvi uma conversa entre eles, e meu primo dizia que eu queria me encostar na casa da minha tia. Resolvi nunca mais voltar.

Anos se passaram, recebi a notícia que a minha tia morrera e que meu primo desejava falar comigo. Retornei depois de alguns anos à casa da tia Ana. Ele me disse calmamente que, a pedido de tia Ana, a casa ficaria comigo. Ainda comentou que concordou sem pestanejar, já tinha tanta coisa e herdou muito mais bens.

Olhei para a casa e não era a mesma. Embora com a mesma mobília, o jardim, as árvores e a sala, sem a tia Ana, tudo parecia estranhamente oco para mim. Não aceitei a casa e segui meu rumo. Na realidade, o que eu queria estava dentro de mim.

Basta acionar a memória que retorno à casa da tia Ana.

* Eduardo Oliveira Freire é formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, com Pós Graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá e é aspirante a escritor



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