terça-feira, 20 de agosto de 2013

Dez passos

* Por Evelyne Furtado

Eram dez passos contados entre ela e a porta. Dez passos para libertação e uma força monumental paralisando-a.

Berggasse, 19. O endereço que a perseguia em sonhos há meses. Fixação e motor de seus atos nos últimos dias.

A noite caía e seus ossos tremiam. Fazia muito frio naquele outono. Era Outubro em Viena, no começo do século XX.

A mulher no passeio encolhia-se. Chegara a seu destino, mas não reunia coragem para entrar. Não sabia como se portar. Não fazia parte daquele tempo, daquele grupo, nem daquela gente que a fascinava.

Não se tem notícia de quanto tempo durou o impasse. Ninguém contou. Mas há quem lembre da mulher a dez passos de desvendar seus sonhos.

Não se sabe se chegou a entrar. Nunca mais a viram por lá. Não sabem, também, que no século seguinte, uma mulher protege-se do sol, em uma cidade tropical e coleciona sonhos em um envelope onde se lê Berggasse, 19, em caligrafia grande e caprichada.


* Poetisa e cronista de Natal/RN

Um comentário:

  1. Pela Literatura se pode viajar não apenas ao passado, mas até para outros mundos. E caso fosse possível uma máquina do tempo, poderia sim, imaginar a dificuldade de se chegar a um tempo remoto e encontrar alguém muito conhecido pelos seus livros.

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