quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Prevenção é o caminho

O clima da Terra está mudando. Esse é um ponto pacífico. Há um quase consenso entre os especialistas a propósito. Trata-se de conclusão tão óbvia, que chega a ser redundante. Então, quer dizer que a questão está encerrada? Não existe mais nenhuma dúvida sobre isso, nenhum ponto nebuloso e obscuro sobre as causas e conseqüências dessas alterações? Bem, as coisas não são tão simples. A única conclusão pouco contestável (mas não incontestável) é que as mudanças estão ocorrendo. Todavia, há uma infinidade de incertezas a propósito e, em contrapartida, existem raríssimas certezas (talvez, mesmo, nenhuma) envolvendo a delicada questão.

A primeira, e mais importante pergunta, que nenhum especialista é capaz de responder e, principalmente, de provar, refere-se à natureza dessa alteração no clima. Afinal, a Terra está esfriando ou esquentando? Nem isso se sabe ao certo. Há duas correntes de pensamento a respeito, cada qual com argumentos sólidos (ou que, pelo menos, assim parecem), mas nenhuma com provas irrefutáveis, mas apenas com evidências que dependem de interpretação. A maioria dos climatologistas afirma que está em pleno andamento – e que, “talvez”, o processo já seja irreversível – o que chamam genericamente de “Efeito Estufa”, com o gradativo aumento da temperatura média do Planeta. Em contrapartida, um grupo minoritário, porém com inegável credibilidade – como o dos especialistas da Universidade de Wisconsin, que elaboraram meticuloso relatório a propósito, em 1976, para a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) – afirma exatamente o contrário. Assegura que a Terra está em vias de ingressar em nova “Era Neoboreal”, o tal do “Mínimo de Maunder”, que duraria ao redor de 250 anos, caracterizada por sensível queda da sua temperatura média. Quem está certo?

Qualquer que seja a corrente que esteja com razão, as mudanças climáticas, certamente, trarão conseqüências para todos nós e nenhuma delas positiva. Não se pode ignorar o que está acontecendo. Compete ao homem, único animal inteligente da natureza, adotar medidas preventivas para enfrentar a situação, mesmo que ela não seja muito provável. A tecnologia atual, se tem causado danos ao meio ambiente (e disso, não restam dúvidas), tem condições de corrigir os desequilíbrios climáticos e de pelo menos evitar que sejam catastróficos. Meios, portanto, existem. Resta saber se há vontade política para adotá-los.

A principal questão que envolve o problema refere-se à produção de alimentos para suprir as atuais sete bilhões de bocas e às tantas e tantas que ainda estão para nascer. O que não se pode é cometer os mesmos erros cometidos no passado, quando países desenvolvidos e previdentes não levavam em conta a existência dos mais carentes e atrasados, permitindo que morressem à míngua. Em situações críticas, a solidariedade é fundamental, até por questões práticas, que nada têm a ver com virtudes, como bondade, altruísmo, piedade e vai por aí afora.

Raciocinemos. Uma explosão social que ocorresse, por exemplo, no século XVII, ditada pelo desespero provocado pela fome, era relativamente controlável, pois a população do Planeta sequer chegava a um bilhão de pessoas. Os transportes eram precários, as comunicações virtualmente inexistentes e comunidades inteiras, até de um mesmo país ignoravam o que se passava em partes mais remotas do próprio território, pois estavam isoladas entre si. Hoje, exatamente por causa do progresso, problemas desse tipo seriam, no mínimo, decuplicados. O Planeta “encolheu” em decorrência das facilidades de transporte e de comunicação, transformando-se, literalmente, em uma aldeia global. Sabe-se de tudo e com uma velocidade estonteante, quase que simultânea aos fatos.

Caso sobreviesse um período de fome mundial, em decorrência de perdas expressivas de safras dos principais produtores de alimentos, menos de um bilhão de pessoas escaparia, num primeiro momento, dessa súbita e impensável escassez. E o leitor já imaginou o que pode acontecer em havendo seis bilhões de famintos, desesperados, ameaçados de morrerem de inanição, movidos pelo instinto de sobrevivência, à procura de comida a qualquer custo, sem levar em conta coisa nenhuma do tipo moral, leis ou outra coisa qualquer em toda e qualquer parte do mundo? O desespero transforma o mais racional, nobre e equilibrado dos seres humanos em fera, que na verdade é.

E se uma potência atual, detentora de recheado arsenal nuclear, fosse afetada pela fome generalizada? O que poderia acontecer? Levaria em conta fronteiras, soberania ou qualquer lei ou acordo internacional? Claro que não!!! Utilizaria, não tenho a menor dúvida, seu terrível instrumental de morte e de destruição, no mínimo, para fazer chantagem sobre quem possuísse os recursos alimentares de que precisasse. Tomá-los-ia à força, na marra e não haveria quem ou o que a demovesse disso.

Cabe aos homens públicos a adoção de medidas preventivas em épocas de abundância e prosperidade, estocando alimentos para eventuais fases em que a natureza não seja tão benigna com os homens, como tem sido há já bom tempo. Aliás, esta é (ou deveria ser) a principal tarefa de um administrador competente. Ou seja, não somente adotar medidas eficazes e justas para assegurar o presente, mas, sobretudo, prevenir o futuro. Confúcio, do alto da sua sabedoria, já dizia: “Um governante eficiente deve dispor de alimentos e de armas suficientes, além da confiança de todo o povo”.

Ao mesmo tempo, é indispensável que os países ricos e desenvolvidos prestem periódica (se não ininterrupta) ajuda aos desfavorecidos (que aliás, salvo exceções, foram fontes do seu enriquecimento), criando fundos apropriados para tal, assegurando-lhes pelo menos o mínimo para a sobrevivência. Trata-se de medida preventiva, e  óbvia, para evitar fortuitas, incontroláveis (e sempre catastróficas) explosões sociais. Um problema como esse, o de uma “epidemia” de fome mundial, ditada pela perda de produção de safras e mais safras de alimentos, causada por caprichos do clima, afetaria, fatalmente, a todos, posto que em proporções diversas. Ninguém escaparia totalmente incólume.

É algo para se pensar se quisermos conservar intacta nossa fragílima e imperfeita civilização. Porquanto as regras que bem ou mal asseguram o convívio relativamente pacífico e ordenado entre os povos seriam, fatalmente, subvertidas, face ao fantasma da fome. E a conseqüência mais do que certa para a humanidade seria lamentável, e inexorável. Seria o retorno à barbárie ou, quiçá, coisa muito pior: a extinção da espécie.

Boa leitura.

O Editor.


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Um comentário:

  1. Curiosa doação em prol da própria sobrevivência e não por espírito caridoso.

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