

O segredo dos seus olhos
* Por Laís de Castro
Não vamos falar aqui de futebol, até porque, de futebol, só entendo quando a bola bate na rede, e é gol. Gol sem ponto de exclamação que nem isso sei fazer: exclamar um gol.
Vamos falar de cinema, porque neste quesito, sim, podemos elogiar os argentinos sem correr risco de morte.
Eles são melhores do que nós, brasileiros, nisto. Para ser mais sincera ainda sobre as minhas ignorâncias (a do gol e essa), antes de escrever a frase anterior fui ler dezenas de artigos sobre o assunto, assinados por experts. Todos defendem isso. Afinal, eles tinham que ser melhores em alguma coisa…
Basta dizer que já levaram para casa um Oscar, em 1986, com o filme A História Oficial, do diretor Luis Puenzo. E concorreram outras vezes. Agora, estão lá, de novo e, ainda que não levem (o Oscar foi neste domingo e eles levaram), marcam presença. Fala-se de seu cinema pelo mundo afora e isso é importante. Vantagem sobre os filmes europeus e americanos?
O deles custou um pouco mais do que US$ 1 milhão, enquanto naqueles se investem US$ 20, 200, 500 milhões…
O Segredo de Seus Olhos, portanto, está lá. E entrou em cartaz no Brasil dia 26 de fevereiro. Como eu diria, aqui, de maneira elegante, que você não deve perder esse filme?
Bem, Ricardo Darín, além de um belo rapaz, com cara (mesmo) de cantor de tango argentino, é o protagonista. Só isto já seria suficiente para levar todas as mulheres que gostam de colírio para a sala de projeção. Fui superficial, eu sei, e talvez até meio machista. Um pouco de bem estar e beleza, entretanto, não fazem mal a ninguém. Para quebrar essa bobagem, vamos dizer que o par constante de Darín – Soledad Villamil – não fica atrás. Pronto. Temos na tela dois deliciosos objetos do desejo, um feminino e um masculino. Atenção: eles estão lá tratando muito pouco de desejo e bastante de morte, justiça e amor.
Morte violenta. Humilhação. Amor de verdade. Temor. Justiça de mentirinha. Medo. Sabor amargo na boca.
Eles se uniram para fazer justiça a uma jovem covardemente estuprada e assassinada por um coleguinha com cara de anjo. Não vou contar o fim, é claro. O filme fala por si. As imagens mostram por si. A dor vem à tona por si.
De repente, no entanto, em várias e deliciosas cenas, o cinema está inteiro rindo, quase às gargalhadas. Você esperava que eu dissesse isso? Nem eu esperava ver isso. A questão é que caí na gargalhada também.
Mérito único e sensacional do diretor Juan José Campanella, o mesmo de O Filho da Noiva e Clube da Lua. Ele é o diretor dos detalhes: talvez seja um daqueles que perdem um amigo, mas não perdem uma piada. Mesmo num filme que trata, inclusive, de um assassinato “perdoado” pela ditadura militar argentina. No caso de O Segredo dos Seus Olhos, parece que Campanella está fixado em portas. Abre, fecha, abre, fecha… utiliza esse artifício para ridicularizar as reuniões à portas fechadas… assim é se me parece… (obrigada, Pirandello). Mas não sei se é mesmo. Parece.
Existem outros detalhes (sérios e engraçados), que nos desafiam e encantam e que cada um de nós irá descobrindo ao assistir o filme, de maneira deliciosa – como se estivesse num jogo.
Bem, para o diabo com a elegância. Não perca esse filme! Deguste, minuto a minuto, suas mais de 2 horas. De puro arrepio. De pura ansiedade. De puro alívio! Aqui, sim, com exclamação.
(Texto reproduzido de “50 anos de textos”, http:// 50anosdetextos.com.br)
* Jornalista desde os 21 anos, quando estreou na tradicional revista Realidade, trabalhou 18 anos na Editora Abril, vários anos na Carta Editorial e outros mais na Azul. Ganhou 3 prêmios Abril, um concurso de contos infantis no Estado do Paraná e é autora do livro de histórias para adultos: “Um Velho Almirante e outros contos”, publicado pelo selo ARX (Siciliano). Atualmente dedica-se apenas à Literatura.
* Por Laís de Castro
Não vamos falar aqui de futebol, até porque, de futebol, só entendo quando a bola bate na rede, e é gol. Gol sem ponto de exclamação que nem isso sei fazer: exclamar um gol.
Vamos falar de cinema, porque neste quesito, sim, podemos elogiar os argentinos sem correr risco de morte.
Eles são melhores do que nós, brasileiros, nisto. Para ser mais sincera ainda sobre as minhas ignorâncias (a do gol e essa), antes de escrever a frase anterior fui ler dezenas de artigos sobre o assunto, assinados por experts. Todos defendem isso. Afinal, eles tinham que ser melhores em alguma coisa…
Basta dizer que já levaram para casa um Oscar, em 1986, com o filme A História Oficial, do diretor Luis Puenzo. E concorreram outras vezes. Agora, estão lá, de novo e, ainda que não levem (o Oscar foi neste domingo e eles levaram), marcam presença. Fala-se de seu cinema pelo mundo afora e isso é importante. Vantagem sobre os filmes europeus e americanos?
O deles custou um pouco mais do que US$ 1 milhão, enquanto naqueles se investem US$ 20, 200, 500 milhões…
O Segredo de Seus Olhos, portanto, está lá. E entrou em cartaz no Brasil dia 26 de fevereiro. Como eu diria, aqui, de maneira elegante, que você não deve perder esse filme?
Bem, Ricardo Darín, além de um belo rapaz, com cara (mesmo) de cantor de tango argentino, é o protagonista. Só isto já seria suficiente para levar todas as mulheres que gostam de colírio para a sala de projeção. Fui superficial, eu sei, e talvez até meio machista. Um pouco de bem estar e beleza, entretanto, não fazem mal a ninguém. Para quebrar essa bobagem, vamos dizer que o par constante de Darín – Soledad Villamil – não fica atrás. Pronto. Temos na tela dois deliciosos objetos do desejo, um feminino e um masculino. Atenção: eles estão lá tratando muito pouco de desejo e bastante de morte, justiça e amor.
Morte violenta. Humilhação. Amor de verdade. Temor. Justiça de mentirinha. Medo. Sabor amargo na boca.
Eles se uniram para fazer justiça a uma jovem covardemente estuprada e assassinada por um coleguinha com cara de anjo. Não vou contar o fim, é claro. O filme fala por si. As imagens mostram por si. A dor vem à tona por si.
De repente, no entanto, em várias e deliciosas cenas, o cinema está inteiro rindo, quase às gargalhadas. Você esperava que eu dissesse isso? Nem eu esperava ver isso. A questão é que caí na gargalhada também.
Mérito único e sensacional do diretor Juan José Campanella, o mesmo de O Filho da Noiva e Clube da Lua. Ele é o diretor dos detalhes: talvez seja um daqueles que perdem um amigo, mas não perdem uma piada. Mesmo num filme que trata, inclusive, de um assassinato “perdoado” pela ditadura militar argentina. No caso de O Segredo dos Seus Olhos, parece que Campanella está fixado em portas. Abre, fecha, abre, fecha… utiliza esse artifício para ridicularizar as reuniões à portas fechadas… assim é se me parece… (obrigada, Pirandello). Mas não sei se é mesmo. Parece.
Existem outros detalhes (sérios e engraçados), que nos desafiam e encantam e que cada um de nós irá descobrindo ao assistir o filme, de maneira deliciosa – como se estivesse num jogo.
Bem, para o diabo com a elegância. Não perca esse filme! Deguste, minuto a minuto, suas mais de 2 horas. De puro arrepio. De pura ansiedade. De puro alívio! Aqui, sim, com exclamação.
(Texto reproduzido de “50 anos de textos”, http:// 50anosdetextos.com.br)
* Jornalista desde os 21 anos, quando estreou na tradicional revista Realidade, trabalhou 18 anos na Editora Abril, vários anos na Carta Editorial e outros mais na Azul. Ganhou 3 prêmios Abril, um concurso de contos infantis no Estado do Paraná e é autora do livro de histórias para adultos: “Um Velho Almirante e outros contos”, publicado pelo selo ARX (Siciliano). Atualmente dedica-se apenas à Literatura.
Não precisa falar duas vezes.
ResponderExcluirSua eloqüência me convenceu!
beijos