quarta-feira, 24 de março de 2010




Pista de gelo

* Por Sayonara Lino

Às vezes imagino uma grande pista de gelo. Ao me aproximar dela com patins nos pés, tenho receio de pisar e cair. É claro que cairei, todos caem. Alguns não conseguem se levantar e encarar a platéia que observa atenta. Outros erguem a cabeça e prosseguem com alguns arranhões. Deslizam, rodopiam, saltam . Surpreendem a si mesmos e aos que estão ao redor.

Quem não acredita no próprio potencial nem chega a calçar os patins. Quem está excessivamente preocupado com aprovação alheia hesita, olha para o chão e desmorona sem completar a primeira volta na pista.

Quem cai e levanta é convicto de que o chão não é tão intimidador. O importante é observar o que nos leva para baixo e corrigir os erros, o mais rápido possível.

Na pista de gelo, ensaiamos os primeiros passos com alguém nos apoiando, para algum tempo depois patinarmos sem mãos que nos segurem. A carreira solo é fundamental para nos sentirmos confiantes intimamente.

Patinar em dupla é uma opção quando atingimos uma certa maturidade, mas a parceria deve ser sólida como o gelo para que os tropeços sejam mais amenos e as quedas menos bruscas. Não se esqueça, cair faz parte do processo, mas o objetivo é nos mantermos em pé, leves e flexíveis.

A coreografia na pista de gelo deve ser harmoniosa. Nossos olhares devem estar focados para cada novo movimento. Quando olhamos para trás, perdemos o prumo duramente conquistado. Não sabemos quando completaremos todo o percurso. Enquanto isso, deslizamos continuamente.

Chega um dia em que saímos da pista, colocamos os patins de lado e outros estréiam. São ciclos ininterruptos, pois outros chegam, sempre.

Ficamos na torcida para que haja mais beleza e êxito do que escorregões no gelo espesso do caminho dos novos patinadores que se apresentam.

* Jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. Colunista do portal www.ubaweb.com/revista.

4 comentários:

  1. Eu sempre ouvi: "Se você cair do chão não
    passa".
    Tombos machucam, deixam marcas. Mas prefiro
    as cicatrizes do que não ter nada
    para contar.
    Muito bom Sayonara.
    beijos

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  2. Sayonara, e vamos patinando. É muito bom quando atingimos a maturidade e podemos entender que o importante é patinar e fazer de tudo para que a jornada seja vitoriosa.
    Inevitavelmente conviveremos com frustrações. É o preço.
    Como sempre mais um texto com muita propriedade.
    Maravilhoso !
    Bj

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  3. Queridas Núbia e Celemar: muito obrigada pela leitura, pelos comentários, pela força! Beijos no coração!

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  4. Ótimo paralelo entre a vida e os desafios de uma pista de patinação no gelo. As quedas e tropeços são uma constante, assim como as reclamações. Estropiados sim, com os tombos, mas felizes após cada volta, pois ela nos conduz em rodopios eletrizantes.

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