sábado, 20 de março de 2010




O homem que ouve

* Por Sêneca

E quem há de ouvir a nós em todo o mundo,
seja amigo ou professor, irmão ou pai,
mãe, irmã ou vizinho, filho, senhor
ou servo? Quem há de ouvir: nosso advogado,
marido, esposa, os que nos são mais caros?

As estrelas ouvem, quando em desespero
fugimos do homem, os ventos ouvem, os mares,
as montanhas? A quem pode um homem dizer:
aqui estou! Eis minha nudez, minhas chagas,
a dor secreta, o desespero, traição, tristeza,
a língua que não me serve para expressar
meus pesares, meu terror, meu abandono.

Que me ouçam por um dia – uma hora! Um momento!
Para que eu não expire no terrível ermo,
no silêncio solitário! Ó Deus, há alguém para ouvir-me?

Não há ninguém para ouvir? – indagas. Há sim,
há alguém que ouve, que sempre ouvirá.
Corre até ele, meu amigo! Está na colina esperando por ti.
Por ti, sozinho.

Um comentário:

  1. É angustiante pensar que estamos sós
    e que se gritarmos ninguém há de nos ouvir...
    Mas, se prestares atenção no silêncio a sua
    volta, ouvirás sussurros...quem sabe não é
    a sua resposta?
    Adorei.

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