segunda-feira, 22 de março de 2010




Os cegos do Majestoso

* Por Renato Manjaterra

Disseram que domingo, dia 7, no jogo da Ponte contra o São Paulo alguns torcedores da Ponte bateram em cegos que comemoraram o gol do São Paulo no meio da nossa torcida. Bater em cego é feio. Feio pra caralho.Vou escrever de novo bem devagarinho: Bater em cego é feio. Feio pra caralho.

Mas torcer pro São Paulo também não é nada bonito. Não tiro o direito nem quero, pelamordedeus! A figura do sãopaulino é o que faz o pontepretano mais diferente na arquibancada, a nossa arena.

Deixa eu parar pra explicar o que quer dizer arena, antes que me encham o saco: Arena é o degrau da arquibancada onde ganha a torcida que melhor inflamar o seu time. Domingo passado, por exemplo, nós ganhamos. O duelo entre Rogério, Washington... contra Martini e Finazzi deu no jornal, mas na arquibancada a Ponte ganhou o jogo! Quem tava lá viu.

Isso é importante para a gente. Somos torcedores pontepretanos. Eu não jogo bola, pela Ponte. Assim, não tem como eu fazer dois gols e ganhar o jogo. Não posso passar na casa de cada amigo pra levar ele para o Estádio, de modo que não tenho responsabilidade direta sequer sobre o público das partidas da Macaca, o que é importante para uma torcida.

Para fazer da torcida da Ponte uma torcida respeitada e fazedora de resultado, o que está ao meu alcance é ir e gritar. Hoje em dia os boleiros chegam à Ponte tendo passado por seis, sete, dez clubes no caso dos mais velhos. Eles conhecem várias torcidas. Eu acho fundamental que eles saibam que cinco mil pontepretanos fazem MUITAS VEZES MAIS barulho do que cinco mil corintianos. E qualquer outra raça do futebol.

Quero que o leitor entenda como funciona o cérebro (ou como ele deixa de funcionar às vezes) de um torcedor que torce para uma potência histórica do interior do país e que forma opinião pela Ponte Preta a despeito do que tenta fazer a mídia.

Nosso orgulho não são os títulos que a Ponte já conquistou. Nosso orgulho é ser uma torcida foda. Voltando ao assunto, não estou absolutamente (pelo amor de Deus!) passando paninho em um cara que bate em um cego. Mas.

Quando alguém vem no meio da macacada e não canta nada, eu já acho que se trata de um gozador dos direitos assegurados no Estatuto do Torcedor. Não acho que seja um torcedor pontepretano.

Agora, comemorar gol do São Paulo no meio da torcida da Ponte Preta? Ahh. Peralá! Isso é coisa que seguro de vida nenhum deveria cobrir! Isso é medir a febre, é tentativa de suicídio com agravantes, é querer muito muito muito mesmo levar uns tapas na cabeça!

Com a ajuda de Deus, eu nunca serei o carrasco desse fanfarrão ou suicida. Não serei nunca eu o pontepretano que vai bater em um cego. Mas conhecendo a habilidade sensorial do deficiente visual eu tenho certeza de que ele sabia perfeitamente que estava rodeado de pontepretanos.

O fato de uma pessoa ser cega seguramente não lhe dá o direito de, dentro do Majestoso, rodeado de pontepretanos (aos ouvidos dos jogadores e da arbitragem, no meio da nossa torcida, portanto), gritar comemorando o gol do São Paulo.

A pessoa tem o direito de fazê-lo, aos olhos da sociedade, em qualquer outro lugar. Aos meus olhos, a pessoa tem o direito de ser sãopaulina, particularmente, dentro da casa dela ou no Morumbi. Comemorar gol de outro time dentro da torcida da Ponte Preta é um direito que papel algum vai assegurar, nunca.

* Jornalista e escritor, Autor do livro “Colinas, Pará” com prefácio do Senador Eduardo Suplicy, bacharel em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUCAMP, blog http://manjaterra.blogspot.com

Um comentário:

  1. Mas quem os colocou justo no meio da
    torcida adversária?
    E outra, eles são cegos e não surdos
    dava para perceber pelos palavrões que não
    estavam bem posicionados.
    Sacanagem de quem os colocou ali, ingenuidade deles que externaram sua vibração e muita
    insanidade de quem os agrediu.
    Sou Flamenguista apaixonada, mas adoro a minha
    "carcaça" e as torcidas já mostraram o quanto insanas e violentas podem ser.
    Adorei o texto Renato.
    Beijos

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