quinta-feira, 25 de março de 2010




Compreendendo os antipáticos

* Por Gustavo do Carmo

Não vou escrever esta crônica para dizer que eu prefiro conviver com pessoas antipáticas. Pelo contrário. Não deveria existir antipatia no mundo. E nem estou desconfiando de todos os simpáticos. Mas compreendo os antipáticos e acredito que alguns deles são mais confiáveis do que aqueles que concordam com todas as suas opiniões, que sempre lhe tratam bem e estão sempre sorrindo para você. A traição de uma pessoa simpática dói mais do que o “fora” de um antipático.

O antipático não lhe dá confiança à primeira vista. Mas ele pode ajudá-lo nas horas mais difíceis. E mesmo com a sua antipatia ele lhe ajuda. Ajuda você a não ser bobo e ingênuo, a não acreditar sempre em tudo e lhe faz amadurecer. Claro que nem todos os antipáticos ajudam. Tem gente arrogante até a alma.

Algumas pessoas mal intencionadas sempre fingem ser gentis e cordiais. Os contistas-do-vigário, por exemplo, são simpáticos e quando ganham confiança, passam-no para trás. Roubam tudo que é seu. Lembra da história do Marconi Ferraço da novela Duas Caras? Tirando alguns excessos de licença poética, isso acontece na vida real.

Ainda da ficção uso as personagens que aparecem misteriosas e de caráter dúbio nas novelas e filmes, mas que no final se revelam grandes heróis. Em contrapartida, tem aqueles bonzinhos que mudam de lado. Alguns nem chegam a mudar. Antipáticos permanecem como vilões e os simpáticos são os mocinhos. Melhor assim.

Na vida real, os maiores exemplos de simpáticos que não são confiáveis são os políticos (além dos estelionatários, claro). Do outro lado temos os queridos antipáticos. Aquelas pessoas que ficaram famosas por seu talento profissional e também pelo mau-humor com que tratavam fãs e jornalistas.

Na minha vida pessoal, tive casos de simpáticos que me enganaram e me boicotam, mas não assumem (este segundo faço questão de colocar no presente). Os primeiros prometeram oportunidades, mas não cumpriram. Quando eu os cobrei, não gostaram. Assumiram a sua antipatia e me esqueceram. O antipático não promete nada. Dependendo do que você falar ou pedir, ele nem deixa você chegar perto dele. Eu mesmo confesso que sou um simpático falso. Às vezes, sou antipático.

O antipático não é um mau caráter. Sua antipatia é apenas por timidez e uma opção pessoal de não demonstrar sua confiança facilmente para ninguém que não lhe interessa. Por isso, respeito os antipáticos. Eles são humanos. E autênticos.

* Jornalista e publicitário de formação e escritor de coração. Publicou o romance “Notícias que Marcam” pela Giz Editorial (de São Paulo-SP) e a coletânea “Indecisos - Entre outros contos” pela Editora Multifoco/Selo Redondezas - RJ. Seu blog, “Tudo cultural” - www.tudocultural.blogspot.com é bastante freqüentado por leitores

4 comentários:

  1. Então estou no caminho certo, pois sei
    reconhecer um antipático e o simpático
    que se aproxima de ti para depois de "ferrar".
    Mas, só aprendi isso depois de "tomar" algumas
    bolas nas costas...
    Gostei do texto Gustavo.
    Beijos

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  2. Prefiro um antipático honesto, a milhões de simpáticos hipócritas que vivem mergulhados no ventre da avareza e do orgulho.
    Gostei do texto, Gustavo!
    Abração do,
    Calvino

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  3. nunca tinha pensado dessa forma.. mas concordo,antes um antipático do que um mau caráter em minha vida

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  4. Nunca tinha lido nada em que a antipatia fosse a personagem principal. Por ser um defeito menos grave, nunca ganha o papel de protagonista, ficando, e isso quando aparece, nas beiradas do palco. De fato Gustavo, caso deixássemos de lado a polidez,e fôssemos totalmente sinceros, o que nos marcaria seria a antipatia. Agradeço pela oportunidade de pensar no tema.

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