quarta-feira, 17 de março de 2010




“Sou rebelde e afetuosa. Avanço muito e às vezes paraliso. Ousada e tímida, sou expansão e recolhimento. Contraditória, portanto”

Conheci nossa entrevistada de hoje no Orkut, há praticamente sete anos, muito antes, portanto, da criação do Literário. Ambos integramos determinada comunidade de poesia e seus poemas, de imediato, tão logo li o primeiro, cativaram-me, pela beleza, espontaneidade, magia, profundidade e riqueza de imagens. Seus versos são como imãs: atraem os olhares e, sobretudo, os corações dos leitores, prendem e nos fazem querer ler mais, mais, e mais, cada vez mais. Trata-se de uma poetisa que desperta, de imediato, empatia em todos que a conhecem, mesmo que seja, apenas, por seus textos. Tão logo foi criado o Literário, pensei em convidá-la, para integrar nosso quadro de colunistas fixos. Relutei. “Imagine se ela irá aceitar”, pensei comigo. Mas aquela idéia permaneceu-me na cabeça, à medida que o tempo passava. Meses foram passando, e anos também, e fui ficando cada vez mais encantado com sua poesia, diria que apaixonado. Resolvi arriscar, descrente de que teria sucesso. Formalizei-lhe o convite. Qual não foi, porém, minha surpresa (e imensa satisfação), quando Evelyne Furtado aceitou participar, semanalmente, desse nosso encontro com os leitores. Desde então, mostrou-se de uma assiduidade exemplar. Em 115 semanas, não me deixou na mão uma única vez e esse seu jeito sincero e despojado de escrever, conquistou (e cativou) milhares de leitores, que manifestam-me sua admiração por e-mails. Até esta entrevista, que vocês terão a oportunidade de ler abaixo, soa a poesia. Evelyne, a queridíssima Veca é assim. É pessoa pela qual nutro a mais profunda e sincera amizade, mesmo estando separados por quilômetros de distância, neste imenso país-continente. É como se a conhecesse pessoalmente e conversássemos várias vezes ao dia, freqüentando a casa um do outro. Como se vê, amizade genuína não tem limitações, quer de tempo quer de espaço. E prescinde, até, da presença física dos amigos. É coisa de alma. Deliciem-se, pois (como eu me deliciei) com a bela entrevista que Evelyne nos concedeu e conheçam-na um pouquinho mais.

Literário – Trace um perfil resumido seu, destacando onde e quando nasceu, o que faz (além de literatura) e destaque as obras que já publicou (se já o fez, claro).

Evelyne Furtado – Sou rebelde e afetuosa. Avanço muito e às vezes paraliso. Ousada e tímida, sou expansão e recolhimento. Contraditória, portanto. Sou aquariana e talvez isso explique. Creio em Deus e tenho fé na humanidade. Nasci em Natal, Rio Grande do Norte, em 28 de janeiro de 1962. Meus pais se conheceram na Faculdade de Letras. Sou a primeira filha de um casamento feliz. Somos quatro irmãos unidos nas semelhanças e diferenças. Com formação em direito, me formei na UFRN em 1991, mas militei pouquíssimo. Cursei posteriormente a Fundação Escola do Ministério Público. Servidora pública, dedico-me ao Direito Administrativo. Sou divorciada e tenho uma filha que supera todas as expectativas de mãe. Escrevo por prazer e, às vezes, faço catarse. Meus textos foram publicados por algum período no jornal Gazeta do Oeste, aqui do Estado do Rio Grande do Norte. Continuo morando em Natal, porto para onde retorno das viagens externas e internas que faço.

L – Você tem algum livro novo com perspectivas de publicação? Se a resposta for afirmativa, qual? Há alguma previsão para seu lançamento? Se a resposta for negativa, explique a razão de ainda não ter produzido um livro.

EF – Não tenho livro publicado, mas tenho livros escritos. Ainda não me dediquei à tarefa de analisar e selecionar o material escrito. Mas nem sei precisar o motivo.

L – Há quanto tempo você é colunista do Literário? Está satisfeita com este espaço? O que você entende que deva melhorar? Por que?

EF – Estou no Literário desde o início (vinda do Comunique-se) e me orgulho de fazer parte desse time, liderado com entusiasmo e extremo cuidado por Pedro Bondaczuk, por quem tenho grande admiração.O blog está se solidificando o que me deixa feliz.

L – Trace um breve perfil das suas preferências, como, por exemplo, qual o gênero musical que gosta, que livros já leu, quais ainda pretende ler (dos que se lembra), qual seu filme preferido, enfim, do que você gosta (e do que detesta, claro) em termos de artes.

EF – Adoro música e em especial da boa MPB. Adoro os clássicos do gênero, mas não sou saudosista e acolho as boas novidades. Na minha opinião, há música para agraciar o intelecto, o espírito e o corpo. Meus filmes preferidos são: Retratos da Vida, O Poderoso Chefão (o primeiro, principalmente) e O Leitor, encanto mais recente. Também gosto de Hitchcock, de Woody Allen e de Almodóvar, mas me delicio com comédias românticas. Só não gosto de terror, de ficção científica e de filme com muito tiro. Leio muito desde a infância. Sou compulsiva e leio vários livros ao mesmo tempo. Vou da biografia de Clarice à sua obra, passo pela psicanálise e me delicio com a descoberta de um autor clássico. O último foi Tchecov. Mas meus amores perenes são Machado, Eça de Queiroz, Balzac e Gabriel Garcia Marquez. Toda forma de expressão artística tem meu respeito, mas nem todas me agradam. A arte é transcendência.

L – Você gosta de teatro? Por que?

EF – Muito. Natal não me proporcionar muitas possibilidades, mas sempre que posso vou ao teatro e me encanto com a arte da interpretação.

L – Você já esteve no exterior? Onde? Se não esteve, para onde gostaria de viajar e por que?

EF – Já estive nos Estados Unidos, na Europa e na Argentina.

L - Você tem predileção por algum gênero literário? Qual? Por que?

EF – Leio tudo e a preferência depende do meu momento.

L – Qual dos seus amigos vive mais longe? Onde?

EF – Heitor, na Espanha.

L – Qual é, no seu entender, o pior sentimento do mundo? Por que? E qual é o melhor? Por que?

EF – O pior é o ódio, o sentimento que produz o mal. O melhor é o amor em todas as suas manifestações. O amor nos mantém vivos.

L – Se pudesse eleger um único escritor estrangeiro como o melhor de todos os tempos, quem você escolheria? E o brasileiro?

EF – Eleição difícil, mas vou de Shakespeare que escreveu sobre todos os sentimentos que elevam e atormentam os seres humanos. No Brasil, volto a Machado de Assis que de sua forma fez o mesmo em língua pátria.

L – O que você está produzindo atualmente?

EF – O que me vem da alma. Meus insights vestidos em prosa e poesia.

L – Qual livro, ou quais livros, está lendo no momento?

EF – “Freud, o Criador da Psicanálise”, “Viva Chama” de Tracy Chevalier e “Arroz” de Palma.

L – Fale de alguma pessoa que você considere exemplar. Por que?

EF – Meu exemplo mais próximo foi meu pai, por sua bondade, por sua inteligência, por seu amor doce, por seu senso de justiça e por sua firmeza de caráter. Mas há exemplos vistos de longe que são quase santos, como Gandhi e Madre Tereza.

L – Em quais localidades do País você já esteve e gostaria de voltar? Por que?

EF – Acabei de voltar do Rio de Janeiro, aonde não ia há muito tempo e me deslumbrei outra vez. Quero repetir sempre essa viagem e voltar a São Paulo, Brasília, Minas e muitas outras cidades.

L – Qual a sua maior decepção literária? E a maior alegria?

EF – Não lembro da maior decepção. Talvez não ter gostado de Proust, quando li aos vinte anos, mas o problema estava comigo e não com ele. As alegrias recentes foram Saramago e Tchekhov.

L – O que você acha que deveria ser feito para estimular a leitura no País?

EF – Acho que as pessoas estão lendo mais. Vejo isso. É importante pôr nas mãos do futuro leitor uma leitura prazerosa. O aprimoramento será consequência. O fenômeno Harry Potter é um exemplo. Muitos adolescentes começaram pela série e estão buscando outros autores. Com toda sinceridade, sem prazer não há leitores. Nunca li por obrigação. A propósito, a moça que cuida de minha sobrinha pequena adora ler e disse à amiga que trabalha em minha casa que livro bom é como comida gostosa. Achei perfeita a comparação e me emocionei com as duas.

L – Você tem algum apelido? Qual? Fica irritada quando a chamam assim?

EF – Sou Evelyne e Veca. O nome, minha mãe escolheu, o apelido, meu pai. Gosto dos dois.

L – Fale um pouco dos seus planos imediatos. E quais são os de longo prazo?

EF – Sou mais de sonhos que de planos, mas estou tentando fazer de um sonho antigo o próximo passo: voltar à faculdade e estudar psicologia.

L – Há alguma pergunta que não foi feita e que você gostaria que houvesse sido? Qual?

EF – Adorei responder as que foram feitas.

L – Por favor, faça suas considerações finais, enviando sua mensagem pessoal aos participantes do Literário.

EF – É com espírito de aprendiz que participo do Literário, escrevendo e lendo. Admiro respeito e abraço todos os participantes. Agradeço ao querido Pedro Bondaczuk pela oportunidade e a todos que acrescentaram meus textos com seus comentários.

6 comentários:

  1. Olá Evelyne, gosto muito de suas
    poesias e textos.
    É um prazer te conhecer mais um pouco.
    Prazer menina!
    beijos

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  2. Mais uma vez foi um prazer conhecê-la em linhas e letras! e qdo voltar a Brasília, por favor, me avise. Com certeza será tbem um prazer conhecê-la pessoalmente. abs

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  3. Adorei sua entrevista, Evelyne! Muito rica e inteligente! Beijos!

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  4. Pena não podermos ver o mundo pelos seu olhos,Evelyne, mas podemos nos contentar em senti-lo pelas suas palavras. Já comentei que viver sob a sua ótica é mais bonito, e, quem sabe, até a dor da separação possa ser minimizada pelo seu modo de escrever/descrever esse mundo.

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  5. Quem não é contraditório ?
    Adorei a entrevista.
    bj

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