
Inspiradas, inspiradoras e inspirações
Prezados leitores, boa tarde. Queridas leitoras, parabéns!
O mundo celebra, desde 1910, em 8 de março de cada ano, o Dia Internacional da Mulher. É uma homenagem justíssima, porém irrisória, para quem é tão importante, diria fundamental, na vida de todos nós. Houvesse racionalidade; fossem os direitos e compromissos solenemente assumidos pela maioria dos países da comunidade mundial cumpridos e respeitados; existisse, de fato, a tão propalada “civilização”, essa data seria absolutamente dispensável. Constituir-se-ia em algo inútil e redundante. Afinal, “todos os dias” são das mulheres! Ou deveriam ser!
Elas conseguem a façanha de serem, simultaneamente, inspiradas (refiro-me às escritoras, notadamente poetisas), inspiradoras (qual o homem que não dedica a vida para agradar e satisfazer uma mulher, mesmo que muitos não o saibam fazer?) e inspirações (todas as grandes obras artísticas produzidas por artistas masculinos, de uma forma ou de outra, se inspiram nelas, têm-nas como personagens centrais e insubstituíveis).
É mister relembrar a razão da criação de uma data específica para homenageá-las e reverenciá-las. Em 8 de março de 1857, funcionárias de uma indústria têxtil de Nova York, inconformadas com a desumana exploração de que vinham sendo vítimas, decidiram sair às ruas, em passeata, para protestar e, assim, chamar a atenção da sociedade para a sua terrível situação. Embora épico, o espetáculo não deixava de ter seu lado patético. Era comovente, e ao mesmo tempo chocante, a visão daquelas mulheres corajosas, destemidas e determinadas, cobertas de andrajos, com vestidos esfarrapados e pés descalços, mas de cabeça erguida, a clamar, a exigir, a cobrar justiça.
Naquela época, sequer se cogitava de qualquer legislação que protegesse a integridade física e mental dos operários, não importava de que sexo, que eram tratados pior do que animais de carga ou do que as máquinas das indústrias. As jornadas de trabalho estendiam-se, não raro, por 16 horas ou mais, sem férias, repouso remunerado ou qualquer outra espécie de proteção.
Havia casos de trabalhadores que eram forçados a dormir nas próprias fábricas, ao lado de tornos ou teares, para cumprir metas de produção estabelecidas pelos patrões, geralmente exageradas e abusivas. Teoricamente “livres”, os operários de fins do século XIX eram tratados pior do que os escravos. E todos achavam esse procedimento “normal”.
Nesse contexto, de abuso e de exploração, as mulheres eram duplamente injustiçadas. Além de cumprirem as mesmas e estafantes jornadas de seus colegas masculinos – o que lhes minava a saúde e roubava anos e anos de vida – ainda recebiam salários irrisórios, ínfimos, ridículos, que correspondiam à metade dos que eram pagos aos companheiros homens que exerciam as mesmas funções.
Quando as corajosas e desesperadas participantes da manifestação de protesto de Nova York, nesse fatídico 8 de março de 1857, voltaram à tecelagem, para avaliar o resultado político do seu ato público, foram criminosamente punidas. Não com suspensão, desconto de salários ou demissão sumária, o que já seria inominável abuso. Sua punição, no entanto, foi muito, muitíssimo pior. As ousadas trabalhadoras pagaram com a vida pelo “atrevimento” de reivindicar direitos.
A fábrica em questão foi, conforme se comprovou posteriormente, intencionalmente incendiada, a mando dos patrões, com as operárias rebeldes no seu interior. As chances de escapar com vida eram mínimas, quase nulas. Poucas tiveram essa felicidade. Tratou-se, logicamente, de episódio de grande repercussão, que Hollywood, inclusive, transformou em filme de grande sucesso de bilheteria.
Resultado dessa sinistra e covarde revanche patronal: 139 trabalhadoras mortas, carbonizadas, sacrificadas somente por não se conformarem com a desumana exploração de que eram vítimas! Foi em homenagem a essas heróicas mártires que a Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, realizada em Copenhague, em 1910, por proposta da ativista Clara Zelkin, instituiu o 8 de março de cada ano como o Dia Internacional da Mulher.
Como amante incondicional da Literatura, que faz dessa atividade mais do que paixão, obsessão, aproveito, todos os anos, a data, não somente para homenagear as bravas 139 mártires da tecelagem de Nova York, mas. E principalmente, as tantas e tantas e tantas escritoras, que com sua sensibilidade e talento, me ilustram, embevecem, divertem, emocionam e contribuem para que eu seja um pouquinho melhor.
Rendo reverências, por exemplo, às laureadas com o Nobel, como Gabriela Mistral, Selma Langerloff, Pearl S. Buck e tantas outras, que fizeram por merecer não apenas este prêmio, mas todas as premiações que possam existir. Sou grato pelo talento de Rachel de Queiroz, de Lygia Fagundes Telles, de Nélida Piñon, de Clarice Lispector, de Adélia Prado, de Flora Figueiredo, de Zélia Gattai, de Júlia Lopes de Almeida, de Dinorah Silveira de Queiroz, de Florbela Espanca, de Madame Stael e de tantas e tantas e tantas romancistas, contistas, novelistas e poetisas, que embalaram, desde criança, meus mais acalentados e suaves sonhos, e os seguirão embalando enquanto eu viver.
E o que dizer da queridíssima Cecília Meirelles, cuja poesia me é tema constante de reflexão e meditação diária, que tem me inspirado ao longo dos anos e motivado a procurar (e encontrar) beleza até onde ela seja improvável ou tida como impossível?! Salve, poetisa amada!
Saúdo a todas minhas colegas de Academia Campinense de Letras, cujos nomes evito de declinar, para não cometer a injustiça e a indelicadeza de omitir algum. Todas são “irmãs” espirituais, simultaneamente inspiradas, inspiradoras e inspirações. Assim como igualmente são as colunistas deste Literário, Aliene Coutinho, Celamar Maione, Evelyne Furtado, Laís de Castro, Risomar Fasanaro, Mara Narciso, Sayonara Lino e Silvana Alves e nossas ilustríssimas colaboradoras, às quais rendo homenagens nas pessoas das atualmente mais assíduas delas: Núbia Araújo Nonato do Amaral e a escritora Urda Alice Klueger, de Blumenau/SC. Um beijo enorme no coração de todas vocês!!! Amo-as de paixão!!!
Boa leitura.
O Editor.
Prezados leitores, boa tarde. Queridas leitoras, parabéns!
O mundo celebra, desde 1910, em 8 de março de cada ano, o Dia Internacional da Mulher. É uma homenagem justíssima, porém irrisória, para quem é tão importante, diria fundamental, na vida de todos nós. Houvesse racionalidade; fossem os direitos e compromissos solenemente assumidos pela maioria dos países da comunidade mundial cumpridos e respeitados; existisse, de fato, a tão propalada “civilização”, essa data seria absolutamente dispensável. Constituir-se-ia em algo inútil e redundante. Afinal, “todos os dias” são das mulheres! Ou deveriam ser!
Elas conseguem a façanha de serem, simultaneamente, inspiradas (refiro-me às escritoras, notadamente poetisas), inspiradoras (qual o homem que não dedica a vida para agradar e satisfazer uma mulher, mesmo que muitos não o saibam fazer?) e inspirações (todas as grandes obras artísticas produzidas por artistas masculinos, de uma forma ou de outra, se inspiram nelas, têm-nas como personagens centrais e insubstituíveis).
É mister relembrar a razão da criação de uma data específica para homenageá-las e reverenciá-las. Em 8 de março de 1857, funcionárias de uma indústria têxtil de Nova York, inconformadas com a desumana exploração de que vinham sendo vítimas, decidiram sair às ruas, em passeata, para protestar e, assim, chamar a atenção da sociedade para a sua terrível situação. Embora épico, o espetáculo não deixava de ter seu lado patético. Era comovente, e ao mesmo tempo chocante, a visão daquelas mulheres corajosas, destemidas e determinadas, cobertas de andrajos, com vestidos esfarrapados e pés descalços, mas de cabeça erguida, a clamar, a exigir, a cobrar justiça.
Naquela época, sequer se cogitava de qualquer legislação que protegesse a integridade física e mental dos operários, não importava de que sexo, que eram tratados pior do que animais de carga ou do que as máquinas das indústrias. As jornadas de trabalho estendiam-se, não raro, por 16 horas ou mais, sem férias, repouso remunerado ou qualquer outra espécie de proteção.
Havia casos de trabalhadores que eram forçados a dormir nas próprias fábricas, ao lado de tornos ou teares, para cumprir metas de produção estabelecidas pelos patrões, geralmente exageradas e abusivas. Teoricamente “livres”, os operários de fins do século XIX eram tratados pior do que os escravos. E todos achavam esse procedimento “normal”.
Nesse contexto, de abuso e de exploração, as mulheres eram duplamente injustiçadas. Além de cumprirem as mesmas e estafantes jornadas de seus colegas masculinos – o que lhes minava a saúde e roubava anos e anos de vida – ainda recebiam salários irrisórios, ínfimos, ridículos, que correspondiam à metade dos que eram pagos aos companheiros homens que exerciam as mesmas funções.
Quando as corajosas e desesperadas participantes da manifestação de protesto de Nova York, nesse fatídico 8 de março de 1857, voltaram à tecelagem, para avaliar o resultado político do seu ato público, foram criminosamente punidas. Não com suspensão, desconto de salários ou demissão sumária, o que já seria inominável abuso. Sua punição, no entanto, foi muito, muitíssimo pior. As ousadas trabalhadoras pagaram com a vida pelo “atrevimento” de reivindicar direitos.
A fábrica em questão foi, conforme se comprovou posteriormente, intencionalmente incendiada, a mando dos patrões, com as operárias rebeldes no seu interior. As chances de escapar com vida eram mínimas, quase nulas. Poucas tiveram essa felicidade. Tratou-se, logicamente, de episódio de grande repercussão, que Hollywood, inclusive, transformou em filme de grande sucesso de bilheteria.
Resultado dessa sinistra e covarde revanche patronal: 139 trabalhadoras mortas, carbonizadas, sacrificadas somente por não se conformarem com a desumana exploração de que eram vítimas! Foi em homenagem a essas heróicas mártires que a Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, realizada em Copenhague, em 1910, por proposta da ativista Clara Zelkin, instituiu o 8 de março de cada ano como o Dia Internacional da Mulher.
Como amante incondicional da Literatura, que faz dessa atividade mais do que paixão, obsessão, aproveito, todos os anos, a data, não somente para homenagear as bravas 139 mártires da tecelagem de Nova York, mas. E principalmente, as tantas e tantas e tantas escritoras, que com sua sensibilidade e talento, me ilustram, embevecem, divertem, emocionam e contribuem para que eu seja um pouquinho melhor.
Rendo reverências, por exemplo, às laureadas com o Nobel, como Gabriela Mistral, Selma Langerloff, Pearl S. Buck e tantas outras, que fizeram por merecer não apenas este prêmio, mas todas as premiações que possam existir. Sou grato pelo talento de Rachel de Queiroz, de Lygia Fagundes Telles, de Nélida Piñon, de Clarice Lispector, de Adélia Prado, de Flora Figueiredo, de Zélia Gattai, de Júlia Lopes de Almeida, de Dinorah Silveira de Queiroz, de Florbela Espanca, de Madame Stael e de tantas e tantas e tantas romancistas, contistas, novelistas e poetisas, que embalaram, desde criança, meus mais acalentados e suaves sonhos, e os seguirão embalando enquanto eu viver.
E o que dizer da queridíssima Cecília Meirelles, cuja poesia me é tema constante de reflexão e meditação diária, que tem me inspirado ao longo dos anos e motivado a procurar (e encontrar) beleza até onde ela seja improvável ou tida como impossível?! Salve, poetisa amada!
Saúdo a todas minhas colegas de Academia Campinense de Letras, cujos nomes evito de declinar, para não cometer a injustiça e a indelicadeza de omitir algum. Todas são “irmãs” espirituais, simultaneamente inspiradas, inspiradoras e inspirações. Assim como igualmente são as colunistas deste Literário, Aliene Coutinho, Celamar Maione, Evelyne Furtado, Laís de Castro, Risomar Fasanaro, Mara Narciso, Sayonara Lino e Silvana Alves e nossas ilustríssimas colaboradoras, às quais rendo homenagens nas pessoas das atualmente mais assíduas delas: Núbia Araújo Nonato do Amaral e a escritora Urda Alice Klueger, de Blumenau/SC. Um beijo enorme no coração de todas vocês!!! Amo-as de paixão!!!
Boa leitura.
O Editor.
Belíssimo texto, Pedro! Parabéns a todas as mulheres e a todos os que nos prestigiam! Abraços!
ResponderExcluirA luta da mulher por seus direitos ainda é árdua
ResponderExcluirmas já caminhou bastante.
O caminho se torna menos íngreme quando encontramos companheiros que pensam como você.
Valeu Pedro!
Beijos
A nós, mulheres, a homens como vc tbem inspiradores e inspiração, um brinde e tudo que há de melhor!
ResponderExcluirEmbora estejamos muito longe de atingir nossos objetivos, de alcançar direitos iguais para todos, sejam índios, negros, mulheres, homossexuais, bem como o de convencer o mundo a viver em paz, a data é uma oportunidade para expressar nosso carinho pelas mulheres que admiramos.Texto muito bonito, Pedro. Parabéns!
ResponderExcluirPedro, obrigada pelas gentis e estimulantes palavras.
ResponderExcluirObrigada pela homenagem e parabéns pelo texto lúcido e tão cheio de ternura.
ResponderExcluirUm abraço a todas as mulheres guerreiras, batalhadoras, amadas, mal-amadas, respeitadas, desrespeitadas, solidárias, solitárias,profissionais, donas de casa, enfim, as minhas companheiras de literário e aos meus companheiros do literário que também nos brindam com seus textos, nos alimentando a alma .