

Literatura em tempos de globalização
* Por Luiz Carlos Monteiro
Na fronteira estética que delimita o gosto popular e o erudito, encontram-se como produtos específicos ofertados pela indústria cultural, a informação e o entretenimento. Para deleite pessoal exclusivo ou êxtase coletivo e geral, tais objetos da comunicação social e humana estão colocados à disposição e à vista de todos. Eles se encarnam, entre outros, em livros, e-books, revistas, jornais, filmes, discos, programas televisivos e sites da Internet.
O consumidor a quem esta produção é destinada, não logra isentar-se totalmente das injunções e intervenções desse sistema, tendo a seu favor apenas a perplexidade individual que o acomete. E são bem menores as suas atitudes de recusa que de aceitação de um ou outro destes produtos, restando a ele apenas o eventual consolo de uma possibilidade remota de escolha.
Da linguagem falada à escrita, do virtual-imaginário ao visual materializado e concreto, a interligação efetivada entre produtos e consumidores verifica-se a todo instante. E isto acontece num ritmo intenso e acelerado, num ritual globalizado e praticamente impossível de ser digerido na sua totalidade e freqüência.
Mesmo que todos estes objetos da cultura contemporânea interessem bastante de perto aos analistas de plantão, o produto que aqui passa a nos exigir a atenção é justamente o livro. E aqui caberia também a constatação inicial de que são escritos, publicados, vendidos, criticados e resenhados cada vez mais livros e em quantidades sempre crescentes.
Neste boom do mercado editorial, fazem-se presentes, além da figura central do escritor, a figura subterrânea do resenhista, disseminado e espalhado nas redações de jornais e revistas, nos gabinetes de editoras ou nos departamentos de letras das universidades. Os resenhadores de livros existem às dezenas de milhares no planeta, notadamente nos países do chamado Primeiro Mundo. O seu trabalho vertiginoso e ostensivo orienta-se na tentativa de acompanhar a imensa produção despejada diariamente pelo mercado livreiro. Assim é que a figura do crítico tradicional e mandatário torna-se a cada dia mais rara, distando cerca de seis décadas o tempo em que o crítico pernambucano Álvaro Lins foi visto por Carlos Drummond de Andrade como “O Imperador da Crítica”.
No entanto, certos princípios da crítica clássica continuam em voga: a isenção e a honestidade em proclamar julgamentos de obras, e a capacidade de reconhecer e separar uma obra autêntica daquela que não teria nenhuma validade do ponto de vista da qualidade literária. O fato é que a cultura, e mais especificamente a literatura, estão submersas numa imensa variedade de formas, gêneros, discursos e estilos, levando a interpretações e análises as mais diversificadas.
Nos meios acadêmicos, por exemplo, certos segmentos da crítica universitária expulsam o homem e a vida de suas digressões e operações excludentes, extremamente particularizadas e tecnicistas, tendo muitas vezes como resultado um trabalho malogrado. Por outro lado, fora dos muros da academia, a dispersão verificada na dissipação de conceitos e na desconstrução de discursos, com exceção óbvias, apresenta-se como a moeda corrente.
Deve-se dizer que moldes inadequados para a análise literária geralmente não esclarecem e nem servem de guia ao leitor numa viagem que o levará a simpatizar ou não com o livro analisado. Mas seja como for, na sua interação inesquivável com o leitor e o autor, através da análise e da indicação de livros, críticos e resenhistas têm a função de decifrar o que está por trás do que se escreveu ou se escreve ao longo dos dias sobre a memória dos séculos, sobre o movimento incessante da vida e do universo, e mais ainda, sobre o esboço histórico, filosófico, científico e poético-ficcional da sociedade humana.
* Poeta, crítico literário e ensaísta, blog www.omundocircundante.blogspot.com
* Por Luiz Carlos Monteiro
Na fronteira estética que delimita o gosto popular e o erudito, encontram-se como produtos específicos ofertados pela indústria cultural, a informação e o entretenimento. Para deleite pessoal exclusivo ou êxtase coletivo e geral, tais objetos da comunicação social e humana estão colocados à disposição e à vista de todos. Eles se encarnam, entre outros, em livros, e-books, revistas, jornais, filmes, discos, programas televisivos e sites da Internet.
O consumidor a quem esta produção é destinada, não logra isentar-se totalmente das injunções e intervenções desse sistema, tendo a seu favor apenas a perplexidade individual que o acomete. E são bem menores as suas atitudes de recusa que de aceitação de um ou outro destes produtos, restando a ele apenas o eventual consolo de uma possibilidade remota de escolha.
Da linguagem falada à escrita, do virtual-imaginário ao visual materializado e concreto, a interligação efetivada entre produtos e consumidores verifica-se a todo instante. E isto acontece num ritmo intenso e acelerado, num ritual globalizado e praticamente impossível de ser digerido na sua totalidade e freqüência.
Mesmo que todos estes objetos da cultura contemporânea interessem bastante de perto aos analistas de plantão, o produto que aqui passa a nos exigir a atenção é justamente o livro. E aqui caberia também a constatação inicial de que são escritos, publicados, vendidos, criticados e resenhados cada vez mais livros e em quantidades sempre crescentes.
Neste boom do mercado editorial, fazem-se presentes, além da figura central do escritor, a figura subterrânea do resenhista, disseminado e espalhado nas redações de jornais e revistas, nos gabinetes de editoras ou nos departamentos de letras das universidades. Os resenhadores de livros existem às dezenas de milhares no planeta, notadamente nos países do chamado Primeiro Mundo. O seu trabalho vertiginoso e ostensivo orienta-se na tentativa de acompanhar a imensa produção despejada diariamente pelo mercado livreiro. Assim é que a figura do crítico tradicional e mandatário torna-se a cada dia mais rara, distando cerca de seis décadas o tempo em que o crítico pernambucano Álvaro Lins foi visto por Carlos Drummond de Andrade como “O Imperador da Crítica”.
No entanto, certos princípios da crítica clássica continuam em voga: a isenção e a honestidade em proclamar julgamentos de obras, e a capacidade de reconhecer e separar uma obra autêntica daquela que não teria nenhuma validade do ponto de vista da qualidade literária. O fato é que a cultura, e mais especificamente a literatura, estão submersas numa imensa variedade de formas, gêneros, discursos e estilos, levando a interpretações e análises as mais diversificadas.
Nos meios acadêmicos, por exemplo, certos segmentos da crítica universitária expulsam o homem e a vida de suas digressões e operações excludentes, extremamente particularizadas e tecnicistas, tendo muitas vezes como resultado um trabalho malogrado. Por outro lado, fora dos muros da academia, a dispersão verificada na dissipação de conceitos e na desconstrução de discursos, com exceção óbvias, apresenta-se como a moeda corrente.
Deve-se dizer que moldes inadequados para a análise literária geralmente não esclarecem e nem servem de guia ao leitor numa viagem que o levará a simpatizar ou não com o livro analisado. Mas seja como for, na sua interação inesquivável com o leitor e o autor, através da análise e da indicação de livros, críticos e resenhistas têm a função de decifrar o que está por trás do que se escreveu ou se escreve ao longo dos dias sobre a memória dos séculos, sobre o movimento incessante da vida e do universo, e mais ainda, sobre o esboço histórico, filosófico, científico e poético-ficcional da sociedade humana.
* Poeta, crítico literário e ensaísta, blog www.omundocircundante.blogspot.com
Gosto de uma boa crítica, mesmo que
ResponderExcluirme pareça injusta. Mas não teria coragem de ler uma obra e depois encaixá-la numa escala de "valores".
Tem que haver uma boa fundamentação, conhecimento literário e principalmente ser crítico consigo mesmo.
Abraços
O poeta e crítico Luiz Carlos possui excelente estudo sobre a poesia de Carlos Pena Filho. Bem que podia nos brindar com um dos capítulos sobre o grande sonetista que foi Carlos.
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