
Estamos em débito
Caríssimos e pacientes leitores do Literário, boa tarde.
Vocês certamente observaram, notadamente na edição de hoje, que o “químico maluco” continua misturando substâncias, em busca da perfeição. Corre, claro, o risco de fazer o laboratório voar pelos ares, numa espetacular explosão. Mas continuará em sua faina em busca da pedra filosofal, do segredo da transmutação de elementos, para transformar chumbo em ouro, como um alquimista sonhador.
Hoje, inauguramos nova seção, a de “Entrevistas”, e não poderia haver entrevistado mais adequado para isso do que o escolhido para dar o pontapé inicial nessa seção. Urariano Mota é, sem dúvida e sem favor nenhum, nosso grande trunfo de qualidade e essa qualificação ainda é pequena em demasia para realçar sua real importância para o Literário.
Não é por acaso que ele se tornou um dos colunistas mais apreciados pelos leitores e é dos raros (sem desmerecer ninguém) que agrada tanto a gregos quanto a troianos, ou seja, consegue a façanha do consenso.
Sua entrevista, como vocês podem observar, é simultaneamente leve, no sentido de não querer mostrar erudição (e nem precisa, pois a tem de sobra) e densa, com ideias que merecem reflexão e consideração.
Poderia pinçar vários trechos que me chamaram a atenção, mas me detenho em um, em particular. À indagação “está satisfeito com o Literário e por que?”, respondeu, com franqueza e sabedoria: “Estou e não estou satisfeito até aqui. Estou, por sua radical defesa do texto literário. Não estou, por sentir nele falta de um chute nos culhões... de nossa realidade. Parece que estamos muito comportados, como bons meninos”.
E por que destaco, especificamente, este trecho? Por várias razões. A primeira, por concordar plenamente com Urariano. Estamos comportados em demasia, “como bons meninos”, e pouco ou nada falamos da realidade, sobretudo a nossa, do Brasil, como se vivêssemos num mundo de fantasias, em que tudo fosse ideal, perfeito e nobre. Sabemos que não é.
O segundo motivo da escolha desse trecho é o de manifestar meu desejo pessoal de mudar. Sonho que as mudanças no Literário não ocorram, apenas, em seu visual (o que já vem causando polêmica, mas que é muito bom). Que elas sejam, sobretudo, conceituais. Mas este aspecto foge da minha alçada.
Não tenho o hábito de pautar ninguém e nem de excluir quem veja a realidade por um prisma cor-de-rosa e diferente do meu. Este espaço sempre foi, é e continuará sendo absolutamente democrático, acolhendo todas as tendências literárias e correntes de pensamento (mesmo aquelas com as quais o Editor não concorde).
A boa literatura, a que, de fato, vale a pena ler e, sobretudo fazer, não é feita apenas com palavras. Saber esgrimi-las com agilidade e inteligência é muito importante, não nego, mas importa muito mais “o que” se diz, do que “como” isso é dito. Conteúdo, é o que Urariano quer ver por aqui (e eu também). Mesmo que lidemos com ficção, esta deve servir, apenas, de moldura para realçar a realidade.
Compete-nos abraçar a causa da humanidade, neste momento crítico da História. É tarefa de cada um de nós, dotado deste magnífico talento de registrar para as futuras gerações o que faz, pensa e sente o homem do século XXI, fazermos o registro mais fidedigno e preciso possível, com garra, com paixão, com emoção, com neurônios, sangue e vísceras, deste momento particular que testemunhamos. Em suma, como tão bem Urariano se expressou: “precisamos dar um chute nos culhões da realidade”.
É inconcebível que na entrada do terceiro milênio da Era Cristã ainda haja tanta gente que precise buscar comida no lixo (como um episódio que relatei aqui tempos atrás) para não morrer de fome. E não são poucos os que são forçados pelas circunstâncias a agir assim. E esse drama se desenrola bem debaixo dos nossos narizes, sem que façamos coisa alguma para evitar. São mais de um bilhão de pessoas famintas mundo afora.
É inconcebível que nesta era da comunicação total, da internet e de tanta parafernália eletrônica, haja, ainda, 1,7 bilhão de analfabetos, conforme dados da Unesco. Que haja por volta de 3 bilhões de seres humanos vivendo em habitações sumamente precárias e insalubres, piores do que as cavernas do homem primitivo, em encostas de morro, margens de rios, pântanos e alagados, sujeitos a doenças e catástrofes climáticas e, pior, nas ruas das grandes cidades, sem um reles e precário teto a lhes cobrir a cabeça..
Essa tem que ser (sem abrir mão do belo e do sublime, ressalto) a nossa temática preferencial. Claro que nem por isso devemos ser pessimistas ou, pior, derrotistas. Não é isso. Mas como poderemos curar alguma doença, qualquer que seja, se não fizermos um diagnóstico realista e preciso? Não poderemos! Compete-nos, pois, reitero, como Urariano propõe, “dar um chute (e dos mais fortes e vigorosos) nos culhões da realidade”.
Boa leitura.
O Editor.
Caríssimos e pacientes leitores do Literário, boa tarde.
Vocês certamente observaram, notadamente na edição de hoje, que o “químico maluco” continua misturando substâncias, em busca da perfeição. Corre, claro, o risco de fazer o laboratório voar pelos ares, numa espetacular explosão. Mas continuará em sua faina em busca da pedra filosofal, do segredo da transmutação de elementos, para transformar chumbo em ouro, como um alquimista sonhador.
Hoje, inauguramos nova seção, a de “Entrevistas”, e não poderia haver entrevistado mais adequado para isso do que o escolhido para dar o pontapé inicial nessa seção. Urariano Mota é, sem dúvida e sem favor nenhum, nosso grande trunfo de qualidade e essa qualificação ainda é pequena em demasia para realçar sua real importância para o Literário.
Não é por acaso que ele se tornou um dos colunistas mais apreciados pelos leitores e é dos raros (sem desmerecer ninguém) que agrada tanto a gregos quanto a troianos, ou seja, consegue a façanha do consenso.
Sua entrevista, como vocês podem observar, é simultaneamente leve, no sentido de não querer mostrar erudição (e nem precisa, pois a tem de sobra) e densa, com ideias que merecem reflexão e consideração.
Poderia pinçar vários trechos que me chamaram a atenção, mas me detenho em um, em particular. À indagação “está satisfeito com o Literário e por que?”, respondeu, com franqueza e sabedoria: “Estou e não estou satisfeito até aqui. Estou, por sua radical defesa do texto literário. Não estou, por sentir nele falta de um chute nos culhões... de nossa realidade. Parece que estamos muito comportados, como bons meninos”.
E por que destaco, especificamente, este trecho? Por várias razões. A primeira, por concordar plenamente com Urariano. Estamos comportados em demasia, “como bons meninos”, e pouco ou nada falamos da realidade, sobretudo a nossa, do Brasil, como se vivêssemos num mundo de fantasias, em que tudo fosse ideal, perfeito e nobre. Sabemos que não é.
O segundo motivo da escolha desse trecho é o de manifestar meu desejo pessoal de mudar. Sonho que as mudanças no Literário não ocorram, apenas, em seu visual (o que já vem causando polêmica, mas que é muito bom). Que elas sejam, sobretudo, conceituais. Mas este aspecto foge da minha alçada.
Não tenho o hábito de pautar ninguém e nem de excluir quem veja a realidade por um prisma cor-de-rosa e diferente do meu. Este espaço sempre foi, é e continuará sendo absolutamente democrático, acolhendo todas as tendências literárias e correntes de pensamento (mesmo aquelas com as quais o Editor não concorde).
A boa literatura, a que, de fato, vale a pena ler e, sobretudo fazer, não é feita apenas com palavras. Saber esgrimi-las com agilidade e inteligência é muito importante, não nego, mas importa muito mais “o que” se diz, do que “como” isso é dito. Conteúdo, é o que Urariano quer ver por aqui (e eu também). Mesmo que lidemos com ficção, esta deve servir, apenas, de moldura para realçar a realidade.
Compete-nos abraçar a causa da humanidade, neste momento crítico da História. É tarefa de cada um de nós, dotado deste magnífico talento de registrar para as futuras gerações o que faz, pensa e sente o homem do século XXI, fazermos o registro mais fidedigno e preciso possível, com garra, com paixão, com emoção, com neurônios, sangue e vísceras, deste momento particular que testemunhamos. Em suma, como tão bem Urariano se expressou: “precisamos dar um chute nos culhões da realidade”.
É inconcebível que na entrada do terceiro milênio da Era Cristã ainda haja tanta gente que precise buscar comida no lixo (como um episódio que relatei aqui tempos atrás) para não morrer de fome. E não são poucos os que são forçados pelas circunstâncias a agir assim. E esse drama se desenrola bem debaixo dos nossos narizes, sem que façamos coisa alguma para evitar. São mais de um bilhão de pessoas famintas mundo afora.
É inconcebível que nesta era da comunicação total, da internet e de tanta parafernália eletrônica, haja, ainda, 1,7 bilhão de analfabetos, conforme dados da Unesco. Que haja por volta de 3 bilhões de seres humanos vivendo em habitações sumamente precárias e insalubres, piores do que as cavernas do homem primitivo, em encostas de morro, margens de rios, pântanos e alagados, sujeitos a doenças e catástrofes climáticas e, pior, nas ruas das grandes cidades, sem um reles e precário teto a lhes cobrir a cabeça..
Essa tem que ser (sem abrir mão do belo e do sublime, ressalto) a nossa temática preferencial. Claro que nem por isso devemos ser pessimistas ou, pior, derrotistas. Não é isso. Mas como poderemos curar alguma doença, qualquer que seja, se não fizermos um diagnóstico realista e preciso? Não poderemos! Compete-nos, pois, reitero, como Urariano propõe, “dar um chute (e dos mais fortes e vigorosos) nos culhões da realidade”.
Boa leitura.
O Editor.
Querido Pedro
ResponderExcluirEstou adorando todas essas experimentações.Como saber se uma mudança é boa se não a experimentarmos? Vá em frente!
Abraços
Em nenhum momento me passou pela cabeça que questionário e entrevista fossem a mesma coisa. Pensei que estava respondendo para a sua informação ou avaliação pessoal, caro Pedro. Por isso, respondi de maneira objetiva e direta.
ResponderExcluirO conteúdo é o mesmo, mas as cores, quanta diferença! Meus olhos ardem, mas que o Literário ficou mais alegre, isso ficou. A sisudez do marrom foi quebrada pelas multicores. A frequência está a mesma de antes. Então não estamos perdendo leitores. Adiante com as novidades!
ResponderExcluirÉ difícil, Pedro, comentar o apoio e estímulo que vêm das suas referências a meu trabalho.
ResponderExcluirAbração.