
Ao sabor das circunstâncias
Caros leitores do Literário, mais uma vez, boa tarde. Num piscar de olhos, completamos, hoje, a primeira semana de 2010 e nesse curtíssimo período de tempo, muita água já rolou por baixo da ponte (e, no caso do desastre do Rio Grande do Sul, infelizmente, literalmente). As chuvas não dão trégua, desde o início de setembro do ano passado, principalmente nas regiões Sul e Sudeste. É o efeito do malfadado El Niño. Mas não é este, especificamente, meu assunto de hoje.
Estive refletindo nesta manhã o quanto o sucesso e o fracasso são casuais. Ambos são como o resultado de uma roleta que não seja viciada. Nunca sabemos em que número a bolinha irá cair. Claro que temos meios de “facilitar” as vitórias, não importa em quais atividades. Para isso precisamos de esforço, disciplina, estudo, planejamento e vai por aí afora.
Tudo isso contribui, de alguma forma, para o êxito de alguma empreitada, mas não o garante. Não raro fazemos tudo certo, nos aplicamos em nossa atividade, fazemos até alianças úteis e vantajosas e.... no entanto, fracassamos, para nosso desespero e frustração.
Em contrapartida, há ocasiões em que procedemos de maneira inversa, trocamos os pés pelas mãos, fazemos tudo aparentemente errado e acabamos surpreendidos com alguma inesperada vitória. É verdade que estes casos são muito mais raros. Mas acontecem.
A experiência indica que o filósofo espanhol José Ortega y Gasset estava certo ao afirmar que cada um depende não só das suas aptidões e talentos, da sua capacidade e do seu preparo intelectual, mas, sobretudo, das suas “circunstâncias”. Alguns chamam isso de “sorte” (ou de “azar”, como queiram). Prefiro, porém, a designação de Gasset.
Muitas vezes empenhamo-nos na redação de um livro que tem tudo para ser o sucesso literário da temporada. Planejamo-lo meticulosamente, escrevemos com alma e com paixão, somos hiper-cuidadosos na revisão, escolhemos uma editora com alto potencial de vendas, fazemos excelente divulgação e.... A nossa sonhada obra-prima redunda num monumental fracasso, numa hecatombe literária, num encalhe espetacular.
Há, porém, o outro lado da moeda. Às vezes escrevemos rapidamente um livro, sem pesquisar muito e sem qualquer esforço. Sequer nos damos ao trabalho de fazer revisão. Limitamo-nos a cumprir contrato com a editora que nos exige uma publicação semestral. Enfim, agimos de forma tal que as previsões só possam ser as de encalhe. E, no entanto, nos surpreendemos com vendas espetaculares e sucessivas reedições.
No primeiro caso, as circunstâncias foram desfavoráveis. Talvez aquele não fosse o momento oportuno para fazer aquele tipo de lançamento. O pior é que não sabemos e nem temos como saber qual é o momento adequado para se lançar um livro. No segundo caso, é óbvio, ocorreu o contrário. As circunstâncias – como a tal bolinha da roleta não viciada – eram todas favoráveis. Faço essas observações não apenas com base no que vi acontecer com os outros, mas por experiência própria.
Há uma série de fatores que nos leva a produzir bem ou mal. Até o local utilizado para escrever não raro influi no teor e na qualidade do texto. Aquilo que escrevo na redação do jornal, onde passo a maior parte do meu dia, por exemplo, sai de um jeito e o que redijo em casa, no meu gabinete de trabalho, sai de outro.
Qual das duas formas é a melhor? Não sei. Só sei que ambas são “diferentes”, embora o redator (no caso eu) seja o mesmo e eu não tenha a mínima explicação para isso. Os meus livros bem-sucedidos foram os que relutei em publicar, por não confiar na sua qualidade.
Em contrapartida, os que considero como minhas “obras-primas” não consegui sequer interessar nenhuma editora na sua publicação. Permanecem inéditos, prontinhos, revisados e com prefácio e tudo, na memória do meu computador.
Mesmo que vocês não concordem, chego à conclusão que estamos, do nascimento à morte, ao sabor das circunstâncias. Compete-nos, como aconselha Gasset, nos empenharmos para modificá-las a nosso favor. A questão, porém, é: como?
Boa leitura.
O Editor.
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Caros leitores do Literário, mais uma vez, boa tarde. Num piscar de olhos, completamos, hoje, a primeira semana de 2010 e nesse curtíssimo período de tempo, muita água já rolou por baixo da ponte (e, no caso do desastre do Rio Grande do Sul, infelizmente, literalmente). As chuvas não dão trégua, desde o início de setembro do ano passado, principalmente nas regiões Sul e Sudeste. É o efeito do malfadado El Niño. Mas não é este, especificamente, meu assunto de hoje.
Estive refletindo nesta manhã o quanto o sucesso e o fracasso são casuais. Ambos são como o resultado de uma roleta que não seja viciada. Nunca sabemos em que número a bolinha irá cair. Claro que temos meios de “facilitar” as vitórias, não importa em quais atividades. Para isso precisamos de esforço, disciplina, estudo, planejamento e vai por aí afora.
Tudo isso contribui, de alguma forma, para o êxito de alguma empreitada, mas não o garante. Não raro fazemos tudo certo, nos aplicamos em nossa atividade, fazemos até alianças úteis e vantajosas e.... no entanto, fracassamos, para nosso desespero e frustração.
Em contrapartida, há ocasiões em que procedemos de maneira inversa, trocamos os pés pelas mãos, fazemos tudo aparentemente errado e acabamos surpreendidos com alguma inesperada vitória. É verdade que estes casos são muito mais raros. Mas acontecem.
A experiência indica que o filósofo espanhol José Ortega y Gasset estava certo ao afirmar que cada um depende não só das suas aptidões e talentos, da sua capacidade e do seu preparo intelectual, mas, sobretudo, das suas “circunstâncias”. Alguns chamam isso de “sorte” (ou de “azar”, como queiram). Prefiro, porém, a designação de Gasset.
Muitas vezes empenhamo-nos na redação de um livro que tem tudo para ser o sucesso literário da temporada. Planejamo-lo meticulosamente, escrevemos com alma e com paixão, somos hiper-cuidadosos na revisão, escolhemos uma editora com alto potencial de vendas, fazemos excelente divulgação e.... A nossa sonhada obra-prima redunda num monumental fracasso, numa hecatombe literária, num encalhe espetacular.
Há, porém, o outro lado da moeda. Às vezes escrevemos rapidamente um livro, sem pesquisar muito e sem qualquer esforço. Sequer nos damos ao trabalho de fazer revisão. Limitamo-nos a cumprir contrato com a editora que nos exige uma publicação semestral. Enfim, agimos de forma tal que as previsões só possam ser as de encalhe. E, no entanto, nos surpreendemos com vendas espetaculares e sucessivas reedições.
No primeiro caso, as circunstâncias foram desfavoráveis. Talvez aquele não fosse o momento oportuno para fazer aquele tipo de lançamento. O pior é que não sabemos e nem temos como saber qual é o momento adequado para se lançar um livro. No segundo caso, é óbvio, ocorreu o contrário. As circunstâncias – como a tal bolinha da roleta não viciada – eram todas favoráveis. Faço essas observações não apenas com base no que vi acontecer com os outros, mas por experiência própria.
Há uma série de fatores que nos leva a produzir bem ou mal. Até o local utilizado para escrever não raro influi no teor e na qualidade do texto. Aquilo que escrevo na redação do jornal, onde passo a maior parte do meu dia, por exemplo, sai de um jeito e o que redijo em casa, no meu gabinete de trabalho, sai de outro.
Qual das duas formas é a melhor? Não sei. Só sei que ambas são “diferentes”, embora o redator (no caso eu) seja o mesmo e eu não tenha a mínima explicação para isso. Os meus livros bem-sucedidos foram os que relutei em publicar, por não confiar na sua qualidade.
Em contrapartida, os que considero como minhas “obras-primas” não consegui sequer interessar nenhuma editora na sua publicação. Permanecem inéditos, prontinhos, revisados e com prefácio e tudo, na memória do meu computador.
Mesmo que vocês não concordem, chego à conclusão que estamos, do nascimento à morte, ao sabor das circunstâncias. Compete-nos, como aconselha Gasset, nos empenharmos para modificá-las a nosso favor. A questão, porém, é: como?
Boa leitura.
O Editor.
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