Questão de nome
O nome de uma pessoa – embora sua
escolha não dependa dela e seja imposto pelos pais no momento do registro em
cartório, logo depois do nascimento – é importante fator de identificação,
embora nem sempre seja original. Há milhões de casos de homonímia, que causam
enorme confusão e muitas vezes dão dores de cabeça muito grandes ao cidadão.
Por exemplo, quem conseguiria catalogar todos os que se chamam José da Silva no
País? E nem é preciso abrangência tão ampla. Quantos, em Campinas, são chamados
dessa maneira? Tentem contar em uma lista telefônica!
No mesmo caso estão os John Smith, nos
Estados Unidos. Ou os Ivans, na Rússia. Ou outros tantos nomes que são mais do
que comuns em várias partes do mundo. Mas as obras de um indivíduo – única
coisa que lhe sobrevive caso tenha de fato alguma que seja consistente e que
mereça ser lembrada – se associam ao nome e nunca à imagem. Muitos não gostam
do seu e, na idade adulta, o trocam no cartório. Alguns adotam pseudônimos, com
os quais passam para a posteridade.
Estão, neste caso, artistas,
esportistas e políticos famosos. Quem conhece, por exemplo, Allen Stewart
Konigsberg? Pouquíssima gente sabe de quem se trata. Talvez essa pessoa seja
conhecida dessa maneira só pelos parentes mais chegados e amigos mais íntimos,
quando muito. Agora se dissermos que se trata do ator e diretor de cinema Woody
Allen, a coisa muda de figura. Quase ninguém irá alegar desconhecimento, a
menos que se trate de um sujeito extremamente mal informado.
O mesmo ocorre com Frederic Austerlitz
(Fred Astaire), Dóris Kapelhoff (Dóris Day), Lucy Johnson (Ava Gardner), Marion
Morrison (John Wayne) ou Joseph Levitch (Jerry Lewis), entre outros. Como se
vê, o nome fica imediatamente associado àquilo que o seu detentor faz, de bom
ou de mau, e é o primeiro referencial para a sua identificação, quer na vida
social no dia a dia, quer para a posteridade, dos que conseguem vencer a
"segunda morte": a da memória. Quanto mais original for, portanto,
mais chances terá de ser lembrado dentro de vinte, trinta, cinqüenta, cem,
quinhentos ou mil anos.
Um casal sueco, no entanto, exagerou na
dose de originalidade. Registrou o filho, nascido na cidade de Gotemburgo, da
seguinte forma: "Brfxxccxxmnpcccclllmnprxvclmnckssqlbb11116". Não
pense o leitor que houve falha de impressão e que as letras ficaram todas
embaralhadas. Foi exatamente dessa forma que o garoto foi chamado e registrado.
Claro que o caso despertou repercussão na imprensa, não apenas da Suécia, mas
do mundo todo. A princípio, pensou-se que algum funcionário do cartório tivesse
empastelado a certidão de nascimento. Por isso, os pais foram convocados para
esclarecer tudo. Perante o tabelião, confirmaram que era exatamente dessa forma
que queriam chamar o menino.
Logo
o caso caiu no esquecimento. Cinco anos depois, o garoto continuava sem nome.
Afinal, essa sucessão de 43 caracteres é ilegível e impronunciável. O casal foi
intimado para proceder a mudança e denominar o filho de forma digna e
civilizada. Por manter-se irredutível, porém, acabou multado em 5 mil coroas
suecas (o equivalente a US$ 735). Quando parecia que os pais do jovem sem nome
iriam parar de brincadeira e alterar o registro, os dois resolveram recorrer da
multa em um tribunal de recurso fiscal da cidade.
Seus advogados argumentaram que o casal
tem crenças esotéricas e que a sucessão de letras e números, na verdade, tem um
significado lógico: "Albino". O juiz indagou: "Por que, então,
vocês não registraram o filho dessa maneira?". "Porque ele teria azar
na vida", responderam. "A formulação é mágica", acrescentaram.
Sem comentários... Claro que o tribunal não levou a sério esta e outras
argumentações. Entendeu – se com razão ou não nunca se vai saber – que o nome
não passava de brincadeira de mau gosto, de uma enorme "sacanagem"
com a criança.
Por isso, confirmou a multa e mandou o
cartório fazer um novo registro do menino. O nome que passou a constar na
certidão é Albino. Uma das argumentações do casal, quando da apresentação do
recurso, retirada do processo (ao qual a imprensa teve acesso) é esta
"pérola" de ambigüidade: "Os caracteres utilizados são de uma
formação pletórica de sentido e tipograficamente expressionista, que nos parece
uma nova criação artística". Pobre garoto! Se em uma coisa tão simples,
quanto a escolha do nome, houve tanta confusão, o que não deve ocorrer na sua
convivência com esses pais? De fato, a ficção jamais conseguirá superar a
realidade em termos de coisas insólitas...Ou malucas...
Boa leitura!
O Editor.
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Nunca soube de nada nem parecido, e olha que tenho fixação em nomes.
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