segunda-feira, 13 de março de 2017

Canta pra mim!


* Por Ana Deliberador


Aquela moça era bonita. Aliás, bonita era pouco: era realmente linda, deslumbrante!

Toda semana  vinha ao banco, via o saldo, tirava algum dinheiro, pagava uma conta, conversava um pouco e ia embora.

Ismael, sempre que a via, deixava o que estivesse fazendo e corria  atendê-la. Aos poucos foram se tornando “velhos conhecidos” e o baixinho passou a mostrar uma intimidade que começava a incomodá-la.

A cada dia que passava, mais galanteador Ismael se mostrava. A moça, sempre tratando-o muito educadamente, fingia que não entendia as investidas. Até que numa dessas idas ao banco,  escutou da boca de seu gerente:
– Quer sair comigo esta noite? Eu vou cantar pra você debaixo das estrelas. Só nós dois!

Muito sem jeito, intimidada com a ousadia,  aceitou o convite e foi embora.

A noite chegou e encontrou um Ismael feliz, banhado e perfumado, indo ao local combinado e que, mais feliz ainda ficou ao ver que o carro dela já estava lá.

Estacionou com um sorriso no rosto e já estava descendo do carro quando foi violentamente agarrado pelo  colarinho e arrastado de encontro ao corpanzil  de um marido muito zangado!
– É você que gosta de cantar? Não ia cantar pra minha mulher? Então canta, mas é pra mim! Canta Galopeira! Canta!

E entre safanões e ameaças, gaguejando e desafinando…
– Galopeeeeeeeira!

* Professora, pintora e escritora


Nenhum comentário:

Postar um comentário