Salto de qualidade
O advento da era da comunicação em
massa trouxe um incremento na qualidade de vida das pessoas que a maioria
sequer atina. A atual geração, destas primeiras duas décadas do novo milênio,
já nasceu com esse fantástico aparato comunicativo consolidado, funcionando e
em franca evolução. Desconhece, portanto, o que é ficar sem eletricidade, sem
telefone, sem rádio, sem televisão, sem jornais, sem cinema, sem veículos
automotores, sem aviões etc. E tudo isso existe há pouco mais de um século.
Alguns desses aparatos são ainda mais
recentes, como é o caso da TV, cujo primeiro canal efetivo passou a operar
apenas em 1937, na Grã-Bretanha. E sequer menciono os computadores, que se
tornaram em equipamento imprescindível para qualquer pessoa
Esta facilidade de se comunicar
influenciou diretamente o comportamento das comunidades, dos países, das
cidades, das pessoas. Até meados do século retrasado, por exemplo, não existia
a indústria fonográfica, pois nem mesmo o fonógrafo havia sido inventado. O
mesmo acontecia em relação ao telefone. O rádio não passava de uma idéia na
cabeça do seu inventor. As cidades eram iluminadas por lampiões a gás, pois não
havia eletricidade.
O transporte urbano era feito por
veículos a tração animal, como os tilburis e carruagens, além de charretes e
carroças e, nas grandes cidades, os bondes puxados por burros. Para ir de São
Paulo a Recife, por exemplo, quem se dispusesse a essa temeridade teria que se
utilizar de navios ou enfrentar semanas, senão meses, por estradas de terra,
que sequer mereciam esse nome, por serem autênticas picadas, meras trilhas,
inseguras e instáveis, no lombo de cavalos. O avião ainda não havia sido
inventado, já que data de 1906.
O lazer oferecia pouquíssimas opções.
Não havia cinema, televisão, futebol etc. Nos finais de semana e feriados
inexistia a possibilidade de deslocamento de multidões rumo ao litoral, como
ocorre agora. Uma viagem de Campinas para Santos, que hoje leva por volta de
duas horas (quando não há congestionamentos, claro), só podia ser feita em
lombo de animais, através de perigosíssimas trilhas na Serra do Mar. Durava, no
mínimo, um exaustivo dia inteiro ou bem mais. Era uma aventura que poucos se
arriscavam a empreender. E jamais a título de lazer.
Notícias só poderiam ser conhecidas
através de jornais e revistas e chegavam com atraso de meses. Não havia,
obviamente, a instantaneidade de hoje. Os repórteres, mesmo os urbanos, não
dispunham sequer da facilidade do telefone. Precisavam contar com fartas e
variadas fontes que lhes notificassem os acontecimentos e que mesmo assim eram
informados aos leitores semanas depois da ocorrência. Hoje, este aparato
comunicativo é encarado como uma coisa tão normal que não se atina sobre a sua
inexistência.
O advento dos meios de comunicação
inaugurou a era das celebridades, como destaquei inúmeras vezes. Cantores,
jogadores de futebol, atletas de quaisquer modalidades esportivas, artistas
plásticos, escritores, atores, políticos etc., dependem visceralmente dos
jornais e emissoras de rádio e televisão. Tais facilidades, no entanto,
paradoxalmente, distanciaram as pessoas.
Antes da existência desses meios
comunicativos, se alguém quisesse ouvir música, teria que ir a algum teatro
onde estivesse sendo apresentada alguma ópera, ou a algum café, que dispusesse
de cantores contratados, ou participar de saraus em casa de amigos, para o que
precisava ser convidado. As relações eram exclusivamente interpessoais.
Hoje, posso ser um sujeito fechado, não
me relacionar com quase ninguém, e ainda assim ter acesso a esse prazer. Basta
ligar um rádio, que se tornou objeto trivial e barato, para ouvir meus cantores
favoritos em qualquer hora ou lugar. Ou adquirir um CD, um
"disk-laser" ou uma fita cassete (coisas, aliás, ultrapassadas) em
uma das tantas lojas do gênero espalhadas por aí para ter em casa, o tempo
todo, os artistas da minha preferência. A maioria, porém, recorre a sites
especializados e baixa em segundos a música de sua preferência, ou ouve, quando
quiser, no Youtube. Se desejar ter acesso a histórias, sejam românticas, de
aventuras, de mistério, policiais ou até mesmo pornográficas, não preciso
sequer ler nenhum livro. É só alugar uma fita de vídeo, em alguma operadora de
TV a cabo e na sala da minha casa, com todo o conforto e intimidade, usufruir
dessa vantagem. Ou assisti-la em seu computador, através de serviços como o
Netflix.
Se for assinante de um serviço de TV fechada,
basta sintonizar o canal adequado, especializado na área da minha preferência.
Se quiser conversar com alguém, esteja onde estiver, não preciso sair
procurando um telefone e torcer para que esse indivíduo esteja também próximo
de um aparelho. Basta acionar meu celular, que hoje é um equipamento
multimídia, ligar para o número dessa pessoa e pronto. E mesmo assim, há quem
diga que a vida, hoje, se tornou mais difícil! Imaginem se este crítico da atual
e avançada tecnologia vivesse, digamos, em 1807! E nem precisa tanto. Que
estivesse, agora, em 1917...
Boa leitura!
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Quem tem hoje cem anos viu todas essas transformações. Aos 61, lembro-me da minha mãe, nascida em 1934,contando como foi o aparecimento do primeiro plástico na cidade. Essas facilidades são mesmo bem recentes e as tecnologias são rapidamente ultrapassadas.
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