Cena de filme
* Por
Fabiana Bórgia
Foi exatamente isso
que aconteceu. Eu e minha amiga estávamos saindo do trabalho, quando resolvemos
que passaríamos na livraria, onde vou lançar meu novo livro. Então, o tempo
fechou de repente. No lugar do sol forte que veio pela manhã, uma massa
cinzenta começou a engolir o final do dia. Escureceu de repente. E veio o
temporal.
Descemos do carro. As
ruas já estavam alagadas. A água já estava na altura do joelho. Pensei:
"Hoje é dia do Juízo Final. E não há arca de Noé que dê jeito".
Visualizava as notícias do jornal, do dia seguinte, onde nós duas apareceríamos
agarradas em postes, para que o vento não nos levasse, como se ali estivesse
acontecendo um furacão. Sim, o homem brincou tanto com a natureza que havia passado
um furacão pelo Brasil. E no Rio de Janeiro, ainda por cima!!! Quem disse que
isso nunca ia acontecer? Ok. Tudo isso fruto da minha densa imaginação, mas a
sensação mais inédita que eu tive nos últimos tempos.
Conseguimos entrar na
livraria. Lá dentro, uma calmaria só. Tomamos café, comemos croissant, e como a
chuva não passava, e eu estava morrendo de frio, porque estava toda molhada e
nervosa, tomei uma taça de vinho, a fim de me acalmar e me esquentar.
Foram duas horas lá
dentro e a chuva só aumentava. Os carros não conseguiam passar. Eu imaginei que
meu carro já estivesse todo estragado e que não haveria ninguém que pudesse me
acolher naquele dia de dilúvio.
Então pensei em
Dorothy e O Mágico de Oz, e que não há melhor lugar no mundo do que a nossa
casa. Também pensei em passagens bíblicas, principalmente quando o Mar Vermelho
se abriu ao meio, para que o povo pudesse passar. Por fim, pensei também nas
pessoas que não têm onde morar. E concluí que se era assim no Rio de Janeiro,
imagine só nos outros cantos do nosso imenso Brasil...
Com tudo isso, entendi
que não era filme. Não havia romance algum. Muitas pessoas estariam, no mínimo,
desabrigadas. A realidade de alguns, simplesmente, era dura demais.
• Escritora por vocação e advogada por
formação. Paulista por natureza e carioca por estado de espírito. Engenheira de
sonhos: alguém em eterna construção. Autora do livro “Traços de Personalidade”
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