segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

A nata do pensamento


O sucesso de um escritor e, mais do que isso, sua consagração, dependem muito das circunstâncias e do acaso. Claro que a qualidade e a relevância dos assuntos que trata em seus livros contam, e muito. Todavia, há obras excelentes, sob todos os aspectos, que não vendem quase nada e passam batidas pelo crivo, nem sempre atento e justo, dos críticos. E caem no esquecimento. Muitas sequer chegam a ser publicadas, embora merecessem atenção dos editores e, sobretudo, dos leitores, que ficam privados desses tesouros da sabedoria humana. Por que isso acontece? As causas são várias e conheço inúmeros casos como esses.

Em contrapartida, há livros que melhor seria se nunca fossem impressos e difundidos, por semearem preconceitos, discórdias, ódio e tudo o que há de ruim, ou de pior, na natureza humana. Deveriam ser extirpados. Um exemplo? Fácil. Que tal o Mein Kampf”, de Adolf Hitler? Como este, há muitos outros, que me reservo o direito de não mencionar, para não fazer propaganda gratuita de produtos que considero nocivos para a mente e para o espírito.

Tive acesso, não faz muito, a uma relação de 28 livros que, supostamente, não podem faltar em nenhuma boa biblioteca que se preze. O fato de mencionar esta lista, observo, não quer dizer que, necessariamente, concordo com seu teor. Não, pelo menos, integralmente. Admito, porém, que são obras que, para o bem ou para o mal, contribuíram para moldar o pensamento e, sobretudo, a ação de povos ao longo da história. Não são, necessariamente, as mais vendidas. Contudo, estão entre as mais citadas, nos mais variados contextos.

“A República”, de Platão, encabeça essa relação. A seguir, são citadas “Des civitate Dei” (“A Cidade de Deus”), de Santo Agostinho; “Summa Theologicae” (“Suma Teológica”, de Santo Tomás de Aquino; “Commedia” (“A Divina Comédia”, de Dante Alighieri; “De Imitatione Christi” (“A Imitação de Cristo”), de Thomas Hammerkein Kemis e “Il Principe” (“O Príncipe”), de Nicoló Machiavelli”. Acredito que não haja nenhum leitor bem-informado que não tenha pelo menos ouvido a menção a estes livros. Claro que a lista não pára por aí.

Na sequência, a mencionada relação destaca: “Instituto Christianae Religionis” (“A Instituição da Religião Cristã”), de João Calvino; “De Revolutionibus Orbium Coelestum” (“As Revoluções dos Mundos Celestes”), de Nicolau Copérnico; “Optimo Republicae Statudeque Nova Insula Utopia Libelle Uere Aureus” (“Sobre a Melhor Condição do Estado e Sobre a Nova Ilha Utopia”), de Thomas Morus; “El Ingenioso Hidalgo Don Quijote de La Mancha”  (“Dom Quixote), de Miguel Cervantes; “Exercitatio Anatomica de Motu Cordis ET Sanguinis in Animalibus” (“Exercícios Anatômicos Sobre o Movimento do Coração e o Sangue dos Animais”), de William Harvey e Dialogo Sopra I Due Masimi Sistemi Del Mondo” (Diálogos Sobre os Dois Maiores Sistemas do Mundo”, de Galileu Galileo Galilei”.

Observe-se que, até este ponto, foram relacionados pouquíssimos livros de literatura como a entendemos hoje, ou seja, de ficção. E a lista prossegue: “Discours de La Mèthode Pour Bien Conduire La Raison ET Chercher La Verité das lês Sciences” (“Discurso Sobre o Método da Razão”), de René Descartes; “Philosophiae Naturalis Principia Mathematica” (“Princípios Matemáticos da Filosofia Natural”) de Isaac Newton; “Encyclopédie ou Dictionáire Raisonné dês Sciences dês Arts et dês Matiérs” (“Enciclopédia Francesa”), vários autores; “Le Contrat Social” (“O Contrato Social”), de Jean-Jacques Rousseau; “An Inquiry Into the Nature and Causes of The Wealth of Nations” (“A Riqueza das Nações”), de Adam Smith e “Common Sense” (“O Sentido Comum”) de Thomas Paine”. A maioria dos livros versa sobre filosofia e sobre ciências, com quase nada de ficção.

Essa relação das 28 obras consideradas revolucionárias, que teriam mudado as maneiras de pensar dos povos, é concluída dessa forma: “Kritik der Reinen Vernunft” (“Crítica da Razão Pura”), de Immanuel Kant; “An Essay on the Principle of Population” (“Ensaio Sobre a População Humana”), de Thomas Robert Malthus; “Manifesto Comunista”, Friedrich Engels e Karl Marx; “Uncle Tom’s Cabin” (“A Cabana do Pai Tomás”), de Harriet Beecher Stowe; “On the Origino d Species by Means of Natural Selection or the Preservation of Favoured Races in Struggle for Life” (“A Origem das Espécies”), de Charles Robert Darwin; “Das Kapital” (“O Capital”), de Karl Marx; “Also Sprach Zaratustra” (Assim Falou Zaratustra”), de Friedrich Wilhelm Nietzsche; “Die Traumedeutung” (“A Interpretação dos Sonhos”), de Sigmund Freud; “Die Grundlagen der Allgemeinem Relativitats Theoria” (“A Teoria da Relatividade”), de Albert Einstein e “Mein Kampf” (“Minha Luta”), de Adolf Hitler”.

Ao incluir o controvertido livro do ditador alemão, entre os mais importantes da história, quem elaborou essa relação (não tenho a menor idéia quem foi) perdeu a oportunidade de receber uma nota, digamos, oito, para reduzi-la, com muito favor, para quatro.

Embora a imensa maioria das obras relacionadas seja, de fato, inestimável tesouro de inteligência, não se pode dizer que se trate da lista definitiva e consensual do que de melhor se produziu e se publicou tempo e mundo afora. Milhares, ou mais, de “rankings” como este podem ser feitos, tantos foram os excelentes livros já escritos – estimados, neste dezembro de 2015, em torno de 350 milhões de títulos diferentes – desde que o primeiro homem (um gênio anônimo) decidiu registrar para a posteridade suas ações, observações, emoções, pensamentos etc. Consenso, portanto, neste particular é absolutamente impossível. E é bom que assim seja. De qualquer forma... cabe nossa reflexão a propósito.

Boa leitura.

O Editor.

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