O
Natal e a imortalidade de Luis Bordón
* Por
Urda Alice Klueger
(Para meu pai, Roland
Klueger, com o qual vivi 29 dos meus Natais)
Este é o Natal nº 60
de que me lembro, e ele conserva a mesma magia daquele primeiro, lá à Rua
Antônio Zendron, na nossa casinha de madeira pintada de cor creme, onde minha
mãe me acordava, já sol alto, com uma xícara de leite morno na mão, cantando
antigas canções religiosas que aprendera na sua
juventude. Na verdade, já não lembro do que Papai Noel me trouxe naquela
noite, embora seja muito forte ainda, dentro de mim, a magia da árvore de Natal
grandiosamente iluminada por velinhas coloridas que ressaltavam dentre bolas
coloridas, flocos de algodão imitando neve e cabelo de anjo prateado!
Inesquecível aquela primeira arvore, como há outra primeira árvore sobre a qual
já escrevi. Recordo, porém, de uma colcha de seda azul que o Papai Noel trouxe
naquela noite, e que resistiu na minha vida até este ano que termina, tendo nos
últimos tempos se transformado numa colcha fresquinha que muito agasalhou meu
cachorro Atahualpa.
Daquele Natal, também,
é muito forte em mim as lembranças do dia de São Nicolau – incrível pensar
nisto, mas 52 anos depois, no dia de São Nicolau, Atahualpa chegou à minha
vida, como um presente único!
E então há tantos
Natais, tantas lembranças, nas diversas casas onde moramos, e grande parte
deles está intrinsecamente, fortemente ligados à harpa mágica de Luiz Bordón,
que primeiro se ouvia no rádio, a Rádio Nereu Ramos da minha infância, que
intercalava Luiz Bordón com anúncios comerciais, naqueles dias únicos e mágicos
que eu pensava que não se repetiriam, mas foram acontecendo de novo através de
discos de vinil, mais tarde através de CDs, sempre Luis Bordón com suas
músicas, sua mágica, sua harpa.
Penso agora: viverá
ainda Luiz Bordón, depois de tanto tempo? Onde estará a sua harpa? Não sei, não
tenho as respostas, mas uma coisa é certa: a magia dele continua totalmente
grandiosa! Aquelas músicas que ele gravou continuam sendo repetidas e repetidas
e repetidas, em formas de gravação que mantém a sequência original, como um
passe de mágica que uma varinha de condão nos dá sempre que chega de novo o
Natal!
Então, na manhã de
hoje, longe de casa, na distância de uma pousada quase deserta, desperto e
ponho no youtube a expressão “músicas de Natal” – e tenho a surpresa de ver
fluir do meu sofisticado computador a mágica da harpa paraguaia de Luis Bordón
com toda a sua avalancha de lembranças, exatamente como foi a 60, 50, 30 ou 10
anos atrás, como penso que será pelo resto da minha vida, quiçá pela
eternidade!
Quem diz que a magia
do Natal se perdeu? A imortalização das músicas da harpa paraguaia de Luiz
Bordón me garantem a imortalidade do Natal, e de novo penso naquela primeira
árvore, com suas velinhas coloridas e sua neve de algodão, mesmo passados
sessenta nos, e então me emociono tanto!
Florianópolis, 27 de Novembro
de 2015.
* Escritora de Blumenau/SC, historiadora e
doutoranda em Geografia pela UFPR, autora de mais três dezenas de livros, entre
os quais os romances “Verde Vale” (dez edições) e “No tempo das tangerinas” (12
edições).
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