Início de nova era: das trevas à luz
O mais famoso e acatado ensaísta norte-americano, Henry
David Thoreau – tido e havido como o inspirador do pai da independência
indiana, Mohandas Karamanchand Gandhi, na tática de resistência pacífica a
desmandos de governos, que redundou no surgimento da Índia atual, soberana e
independente – escreveu, em um de seus tantos e memoráveis ensaios: “Muitos
homens iniciaram uma nova era na sua vida a partir da leitura de um livro”.
Muitas pessoas, as que não têm o hábito de ler e que tiram conclusões
apressadas, afoitas, sem maiores reflexões (ou mesmo sem nenhuma), certamente acharão
essa declaração exagerada. Dirão, no mínimo, que ela é meramente retórica.
A citação acima pode até parecer, á primeira vista, fruto de
exagero do ilustre ensaísta. Mas... não é. A leitura de livros mudou, e para
infinitamente melhor, não somente a vida de milhões, quiçá bilhões de pessoas,
mundo e tempo afora, como acelerou de forma espantosa o progresso dos povos.
Pode-se demonstrar que é uma das principais responsáveis pelo avançado estágio
da atual civilização. Convenhamos, se ela não é um primor (e não é mesmo) e se
está muito distante do minimamente desejável, é muitos, muitíssimos furos
melhor do a de apenas parcos pares de anos, um ou dois séculos atrás se tanto.
Basta raciocinar só um pouquinho para se chegar a esta óbvia conclusão.
A humanidade permaneceu ágrafa por milênios e milênios sem
conta. Quantos? É impossível sequer de se estimar, quanto mais quantificar, por
total e absoluta ausência de registros, que nem poderiam existir, pelo simples
e lógico fato da inexistência de algum sistema de escrita, mesmo que rudimentar.
Por um tempo imenso, predominou, pois, única e tão somente, a tradição oral,
para a transmissão de descobertas, histórias, pensamentos, sentimentos
etc.etc.etc. Ou seja, as várias comunidades (que nem mesmo eram tantas) dependiam
exclusivamente da memória das pessoas – cuja fragilidade sequer é preciso
destacar – para preservar o pouco que era possível. E, assim mesmo, o que teria
sobrevivido (se é que algo deixou de se
perder), seria truncado, corrompido, alterado, muito diferente do original.
É pura questão de lógica. Nossos remotos ancestrais não eram
gênios (pois se o fossem, teriam inventado, antes, algum tipo de escrita, que
não inventaram, não é mesmo?). O primeiro conjunto de símbolos que se pode
chamar de “alfabeto” que se conhece com alguma certeza são as “Tábuas Tártaras”,
descobertas na Romênia. Elas datam de em torno de 5.500 a.C., de acordo com o
método de datação do Carbono 14. Não houve nenhum outro anterior? Como saber?!
Suponho que tenha existido. E talvez muitos. Mas... se existiram, perderam-se, por
completo, nas brumas do tempo. Hoje, a maioria dos historiadores “aceita” que
uma escrita verdadeira, que não se limitasse a somente números, teria sido “inventada”,
de forma independente, em duas regiões do mundo separadas uma da outra por todo
um continente. Ou seja, na Mesopotâmia (atual Iraque), mais especificamente na
Suméria, em torno de 3.200 a.C. e na América Central, mas dois milênios e meio
depois, em 700 a.C.
Essa, porém, é uma discussão que não tem fim. E refere-se,
apenas, à escrita no Ocidente. É mais do que provável, no entanto, que haja
algum método bastante anterior, de um par de milênios, no Oriente, sobretudo na
China e na Índia, que dispunham, como a arqueologia comprova fartamente,
civilizações relativamente muito avançadas, antes que os ocidentais deixassem
as cavernas primitivas. Há historiadores, por exemplo, que afirmam terem
argumentos para comprovar que no Egito foi criado um sistema inteligente e
coerente de escrita, e de forma independente das demais regiões, por volta de
3.200 a.C. Todavia, da mesma forma que os arqueólogos descobriram as Tábuas
Tártaras na Romênia, datadas por volta de 5.500 a.C., não ficarei nada surpreso
se amanhã for anunciada a descoberta de uma forma de escrita muitíssimo mais
antiga que não proceda da Suméria, da China, da América Central ou do Egito.
Dos bilhões de seres humanos que já existiram no Planeta
desde o surgimento da nossa espécie (quantos? Vinte? Cinquenta? Cem? Mais?
Menos? Como saber?), a lógica me induz à conclusão que pelo menos 90% foram
rigorosamente analfabetos. Jamais conseguiram assimilar os símbolos que
constituíam os alfabetos criados, muito menos as palavras, frases, orações etc.
que sua combinação formava para compor raciocínios lógicos. Exagero? Nem tanto!
Basta atentar que, há só menos de três séculos, a hoje cultíssima Europa
dispunha de uma população de analfabetos que girava em torno de 80%. Tudo isso,
apenas enfatiza a importância do livro, que há apenas duzentos anos, era
produto bastante raro, e caro, por razões que me proponho a apresentar
oportunamente. E não pensem que ele surgiu simultaneamente à invenção da
escrita. Longe disso. Está claro que não. Como está claríssimo que seu
surgimento deu início a nova era, que ainda está em andamento e que não sabemos
onde vai dar. Mas este é um assunto que fica para outra vez.
Boa leitura.
O Editor.
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A criação da escrita é uma das suas paixões, Pedro, e a cada novo texto, apresenta novas impressões.
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