terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Crise penaliza indústria editorial


As crises econômicas, com suas perversas conseqüências sociais, são todas, sem exceção, originadas também (diria que principalmente) por conflitos políticos e não somente por equívocos e incompetência administrativos, como se pensa. Entre os setores afetados por elas, o mercado editorial é, invariavelmente, um dos mais penalizados, porquanto ainda persiste a idéia burra de que livro é  bem supérfluo, do qual se pode prescindir, notadamente em ocasiões em que é preciso “apertar o cinto” para equilibrar orçamentos, quer estatais, quer familiares. Obviamente que não é! Mas é o que vem acontecendo ao longo de todo este tenso, polêmico, sombrio e conflituoso 2015, com perspectivas nada alentadoras para 2016.

Editoras e livrarias vêem seus faturamentos minguarem e os que vivem de Literatura (“também” dela, mas raramente “exclusivamente” dela) é que, ao fim e ao cabo, findam por pagarem o pato. Suas oportunidades, que nunca foram fartas, se tornam crescentemente menores, forçando-os a abortarem ou a adiarem potenciais promissores projetos literários. Refiro-me aos escritores, tão desprotegidos que sequer são considerados profissionais. A grande prejudicada será, óbvio, a cultura nacional. Ou seja, será toda a sociedade, uns mais e outros menos. Não entrarei no mérito sobre quais são os culpados pela atual crise econômica – que, aliás, é internacional e que afeta até economias poderosíssimas como as da China e dos Estados Unidos – já que este espaço não é o apropriado e adequado para isso. Proponho-me, apenas, a fazer algumas reflexões residuais a propósito dessas freqüentes e recorrentes dificuldades que são cíclicas, conforme registra a própria História.

Crises econômicas sempre afetaram todos os povos, impérios e países com conseqüências sociais e políticas variáveis, conforme as formas como foram enfrentadas. Em alguns casos, foram trágicas. Em tantos outros, foram mais amenas e pouco duradouras. O poderosíssimo Império Romano, por exemplo, enfrentou diversas delas, transferindo, porém, seu ônus para os países que submetia a poder de armas  em suas conquistas militares, lhes cobrando escorchantes tributos. Na Idade Média, poderosos reis recorriam a empréstimos, raramente saldados, para financiar seus gastos irresponsáveis, nababescos e perdulários. Enfim, não há uma única sociedade nacional que tenha ficado livre de crises econômicas.

Em abril de 1993, quando eu era editor de Economia do Correio Popular de Campinas, recebi, na redação, a seguinte receita para a manutenção do desejável equilíbrio das finanças de qualquer país: “O orçamento nacional deve ser equilibrado. As dívidas públicas devem ser reduzidas, a arrogância das autoridades deve ser moderada e controlada. Os pagamentos aos governos estrangeiros devem ser reduzidos, se a nação não quiser ir à falência. As pessoas devem novamente aprender a trabalhar, em vez de viver por conta pública”. Essa prudente e sábia receita não foi feita por nenhum célebre economista, digamos, ganhador do Prêmio Nobel de Economia. Esta citação foi-me enviada à redação por um jovem estudante secundarista da cidade, que se identificou, somente, como “Marcos”. Claro que ele não foi seu ator e muito menos ex-ministros da Fazenda ou do Planejamento, como Delfim Netto ou Roberto Campos, ou outro qualquer, dos atuais. Nem partiu de qualquer membro deste governo ou dos passados ou de seus principais opositores. Sequer é recente.

Essa “receita” para o equilíbrio econômico de qualquer país é antiga, antiqüíssima. Data, para ser exato, de 55 antes de Cristo. E é de autoria do tribuno e senador romano Marcus Tulius Cícero. Apesar da observação ter sido feita, portanto, há mais de dois milênios, como é atual e como se encaixa, feito uma luva, à presente situação brasileira!!!! Conclui-se que parte considerável da culpa de estarmos atravessando uma crise como jamais o País enfrentou antes se deve ao fato de as nossas autoridades, notadamente políticos, e não somente do governo central, mas de estados e de municípios, repetirem erros milenares, primários, palmares, inconcebíveis para administradores com um mínimo de competência e bom senso.

Dos setores que entendo devam ser protegidos e estimulados, nesta época de “vacas magras”, o principal é o da indústria editorial. Entre os “produtos” essenciais e indispensáveis à sociedade, o livro é tão importante quanto é o alimento. Enquanto este nutre o corpo, aquele nutre o espírito, possibilitando que se encontrem soluções inteligentes e factíveis para o fim não só da crise econômica, mas de todas as demais, incluindo e enfatizando, a ética e a da ignorância e obtusidade, que estimulam a intolerância e a violência. É inconcebível que num país, como o Brasil, com tamanhas deficiências na educação, a ferramenta que pode corrigir essas distorções se torne cada vez mais cara e, portanto, rara. Tomara que o escritor inglês, H. G. Wells, que afirmou, certa feita, que “a crise de hoje é a anedota de amanhã”, esteja coberto de razão. Tomara!!!

Boa leitura.


O Editor.

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