Julgamento
da consciência
* Por Rodrigo
Ramazzini
- Decidiram por quatro votos a três...
A juíza proferia a sentença e um filme
autobiográfico transcorreu nos pensamentos do réu Valdomiro. Lembrou-se como
conhecera a ex-esposa, dos tempos de namoro, do nascimento do filho, das
constantes brigas, do dia em que ela o abandonou, quando a viu com o namorado
pela primeira vez...
-... Os jurados do tribunal do júri da
Comarca...
Inevitavelmente o dia em que decidira
matar a ex-esposa apareceu no seu longa-metragem. As crises de ciúmes não o
deixavam mais em paz...
-... Nos autos
do processo 27179...
De soslaio fitou o assassino da sua
ex-mulher, recordou como o encontrou e acertou tal homicídio. O Vergílio, um
viciado em drogas, que por algumas pedras de crack realizou a execução.
Valdomiro concedeu todos os detalhes necessários. O crime foi cometido no
crepúsculo de uma sexta-feira, no estacionamento do shopping. Vergílio fora
preso em flagrante, pois um dos seguranças do local vira o delito e o interceptara.
-... Pelo crime de homicídio, o réu
Valdomiro...
Virgílio dissera no julgamento que
matara a mando de Valdomiro. Instruído pelo Advogado, Valdomiro negou
veementemente Há casos em que não importa quem tem a razão, ou verdade, e sim,
o melhor Advogado.
-... Foi considerado inocente.
O filho do Valdomiro lia a carta que
narrava o julgamento do pai, prescrita por ele, lágrimas escorreram. Não se
comunicavam há trinta anos, desde o julgamento, quando foi morar com a avó
materna. Valdomiro depois de inocentado viveu esse tempo todo recluso em casa,
no interior do estado, como um condenado em regime domiciliar. Morreu sentado
no sofá. A carta foi o último descarrego de consciência, precisava explicar-se
ao filho. Finalizou a carta dizendo: A liberdade é uma dádiva dos homens de
consciência tranqüila...
*
Jornalista e contista gaúcho
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