domingo, 18 de outubro de 2015

Mergulhados em paradoxos

A vida, principalmente nestes tempos bicudos que vivemos – em um Planeta pequeno e cuja maior parte, disparado, é constituída de água, mas que é chamado de “Terra”  – está repleta de paradoxos ou do que nos parece que sejam. Estamos, literalmente, mergulhados neles. Essa palavra, esclareça-se, define um conceito do que é ou que parece ser contrário ao senso comum. Tem, como alguns sinônimos,  o contra senso, o absurdo, o disparate. Não é um paradoxo, por exemplo, o estímulo à reprodução humana em uma Terra de área tão limitada, próxima de atingir seu limite populacional (estimado em 9 bilhões, quando já somos 7,2 bilhões)? Óbvio que é. Mas...

A esse propósito, o escritor inglês, Gilbert Keith Chesterton (que assinava seus textos abreviando os dois primeiros nomes para G. K.), trouxe, certa feita, á baila uma questão cuja resposta nosso amor próprio nos impede de dar. Salvo exceções, nossa tendência é nos julgarmos não apenas importantes para o mundo, como imprescindíveis. Será que somos? Como saber? Claro que a maioria apenas pensa que é, sem, contudo, ousar dizer. Porém...  G. K. Chesterton escreveu: "A resposta a qualquer um que diga a respeito do 'excesso de população' é perguntar-lhe se ele mesmo é parte desse excesso. Se não é, como sabe que não é?" Pois é, como sabe? Aliás, ele foi paradoxal na própria formulação da questão. Propõe que ela seja “respondida” com uma “pergunta”. Paradoxo, não é mesmo?  Os escritores de todas as partes e de qualquer época, lidam, o tempo todo, com eles, sem que muitas vezes sequer se dêem conta.    

G. K. Chesterton, aliás, foi um homem de múltiplos talentos. Além de escritor, esse homem que nasceu em 29 de maio de 1874 e morreu em 14 de junho de 1936, foi poeta, narrador, ensaísta, jornalista, historiador, biógrafo, teólogo, filósofo, desenhista e... conferencista. Ufa!!! Mas não acabou. Para completar, de lambuja, G.K. ainda trilhou pelo campo da economia. Ele bem que poderia responder que não fazia parte do excesso de população do Planeta. Talvez por modéstia, no entanto, não declinasse como sabia disso.  

A respeito desse contra senso, tão comum e disseminado, o poeta espanhol Miguel de Unamuno tinha uma opinião muito mais crítica: “O que é o paradoxo? É uma palavra que os tolos inventaram para aplicá-la a tudo o que ouvem pela primeira vez. Para Adão, tudo seria paradoxo. Ou melhor, nada o seria”. Mas... Como o “tudo” e o “nada” poderiam conviver na mesma pessoa? Não poderia. Portanto, trata-se de paradoxo! Nada mais do que paradoxo. Da minha parte, prefiro o que Mário Quintana, com toda sua verve e sutil ironia (que os tolos são incapazes de compreender) declarou: “Ah, esses moralistas... Não há nada que empesteie mais do que um desinfetante!”. Por acaso há? Além de empestear o ar, polui as águas, o bem mais precioso e imprescindível que há para a vida.

Paradoxo por paradoxo, prefiro o apresentado com inteligência e beleza, pelo genial Pablo Neruda (ah, os poetas!), neste insólito poema, que partilho com vocês e que lhes deixo para reflexão, a que se presta tão bem:

“Saberás que não te amo e que te amo
posto que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem uma metade de frio.

Eu te amo para começar a amar-te,
para recomeçar o infinito
e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo ainda.

Te amo e não te amo como se tivesse
em minhas mãos as chaves da fortuna
e um incerto destino desafortunado.

Meu amor tem duas vidas
para amar-te.
Por isso te amo quando não te amo
e por isso te amo quando te amo”.

Boa leitura.

O Editor.

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