Eu amo meus médicos, volume dois
* Por
Mara Narciso
Peço que compreendam
os médicos, mesmo sabendo que ser vocacionado para a medicina não é
prerrogativa de todos, mas ainda assim, lutam para exercer a profissão com
dignidade. Há flores e espinhos e a colheita não é garantida. Fazer defesa é
corporativismo? Que seja. A minha mãe, Dra. Milena Narciso, se dedicou
integralmente à ginecologia e obstetrícia por 28 anos na Santa Casa de Montes
Claros. Entusiasta pela causa, grande estudiosa, na semana em que passou mal e
logo nos deixou, aos 68 anos, tinha acabado de fazer um curso de atualização em
gravidez de alto risco. Como teve quatro filhos, acolhia a parturiente, pois
entendia a dor do parto. Suas normas morais e éticas eram inflexíveis, e sua
conduta rígida em todas as instâncias.
Tive professores na
graduação e na residência médica que foram humanistas em sentido amplo. Não
presenciei pressa, indiferença, automatismo ou mera tecnicidade neles: Dr. João
Jaques Godinho, Dr. Athos Avelino, Dr. Geraldo Mota, Dr. Hermann Alexandre
Viváqua e Dr. José Diogo Martins. Na vida me aconteceu um Dr. Fábio, do qual
nunca soube o sobrenome. Ele fez um rosto para mim, em Belo Horizonte, quando
eu tinha um mês de vida. O Dr. José Estevam Barbosa, pediatra, me tirou de uma
crise de cálcio baixo, quando eu já revirava os olhos.
Os médicos não são
todos calmos e compreensivos. Alguns se mostram impacientes, e deveriam rever
seus comportamentos. Trabalham em situações limite, mesmo os que estão por
detrás de sofisticados aparelhos. Entre eles e a máquina há um coração que
pulsa, um cérebro que pensa, uma alma que teme. Há medo do exame em si, mas,
muito mais do resultado. Se por um lado acalma, por outro, a consulta é também
momento de tensão e susto.
Médicos detêm o
conhecimento para cuidar da vida humana, o bem mais precioso que temos. Nem
sempre terão boas notícias para nos dar. Não descarto o prazer de alguns em dar
más notícias, mas a maioria chora com seus pacientes, quando alguma coisa não
vai bem. Diagnósticos ruins precisam ser envolvidos pelo manto da esperança e
não por palavras vãs, porque costumam ser descobertos em tempo hábil, e novos
medicamentos surgem a cada dia. A ameaça e o peso, sendo divididos, ficam mais
amenos.
Nos meus quase 36 anos
de endocrinologia, vi mudanças impressionantes, mas para continuar, preciso
buscar motivação todos os dias. Vi crianças portadoras de diabetes em estado de
coma, sentarem e pedirem comida em menos de 24 horas de tratamento com soros e
insulina rápida. São milagres.
Eu creio na medicina,
eu creio nos médicos, e também creio na indústria farmacêutica, tantas vezes
considerada vilã e sabotadora dos tratamentos alternativos, complementares e
baratos. Eu creio nos bons resultados da ciência, assim como acredito que a
consulta médica, quando bem conduzida, tenha efeito terapêutico. Num momento de
fragilidade, chegando sozinho ou levado por alguém em situações mais graves, o
doente precisa ser acolhido, valorizado em suas queixas, com respeito e
atenção. Na emergência o procedimento tem de ser veloz, mas não cabe velocidade
numa consulta habitual.
Dr. José Quaresma, meu
patologista, já teve a desagradável missão de me passar diagnósticos ruins, mas
de uma maneira afável, em que, em meio ao desespero, consegue-se força para
enfrentar o problema. Dr. Augusto Gonçalves, meu radiologista, é alma boa e
paciente, com suas máquinas invasoras que fazem recortes no corpo humano como
se fossem maçãs tratadas por uma faca amolada e nos vê parte a parte. Quando colhe
biópsia, torce com a gente. Dra. Maria Isabel Rebello faz ultrassom com a
delicadeza de uma lady, que ela é em todos os quadrantes. Tão educada que
constrange. Dra. Consuelo Guedes Meira, minha psiquiatra, conhece a alma
humana, ainda que ela, a alma, possa pregar peças até nos mais experientes.
Gente é multifacetada, e em seu divã passam histórias para encher vultosas
bibliotecas.
Eu amo meus médicos:
Dra. Margarida Batista, anestesista, Dra. Andréa Laughton, dermatologista, Dr.
Marcos Borém, otorrinolaringologista, Dra. Rita de Cássia Leite, cardiologista,
Dr. Wetherman Vilela, oftalmologista, Dr. Paulo de Tarso Salermo Del Menezzi,
mastologista, Dra. Fátima Lacerda, ginecologista e Dra. Samyra Lacerda Davi,
proctologista. Da cabeça aos pés, vão estudando, aprendendo com os livros e com
as pessoas, que são o que realmente importa. Não são de vidro, são preciosas, e
para melhorar a saúde, precisam de técnica e atenção. Os que dão carinho não
são apenas médicos, são anjos, coisas que os médicos do SAMU são à perfeição.
*Médica endocrinologista, jornalista
profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e
Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a
Hiperatividade”
Parabéns, Dra. Mara. Pelo texto e pelo Dia do Médico, recentemente comemorado.
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