quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Crônica da criatividade


* Por Harry Wiese


Ser criativo é um bom negócio. As situações que envolvem as pessoas neste corre-corre da vida me levam a concordar que criar é realmente fazer algo do nada. É inventar. É quase mágica. Por isso, a criatividade deixou de ser privilégio dos poetas, escritores, pintores e compositores. Todos procuram se aperfeiçoar nessa disciplina e, com certeza, os resultados são altamente positivos.          

Educadores e psicólogos dizem que as crianças são criativas por natureza, mas eu não podia imaginar que elas já estivessem tão avançadas. Realmente, a criatividade das crianças faz inveja aos adultos. Você duvida? Ao indagar uma criança sobre o motivo do monólogo/diálogo que estava tramando com os seus botões, disse-me que estava conversando com Barack Obama.

Os estudantes tornaram-se criativos pela força das circunstâncias. Não bastassem seus problemas do dia-a-dia, ainda precisam enfrentar as pupilas do senhor professor nos momentos de provas. Cola? Que nada! Um aluno confidenciou-me um processo revolucionário de colar. Disse-me que faz aqueles pedaços de papéis com letra miúda até gravar os conteúdos na mente, isto é, literalmente, cola salva na memória. Depois, faz bolinhas para jogá-las nos amigos e em casos de emergência servem de alimento. Dá para acreditar?

Criativas também são as pessoas idosas. Elas sabem que é criatividade descobrirem que os jovens são criativos. Estes, por sua vez, retribuem-nos a gentileza chamando-os de “coroas”. Descobri que “coroa” é uma palavra bonita, até romântica. Não são os reis que usam coroas? Não são as rainhas (até as de beleza) que são coroadas? Assim, as gentilezas são retribuídas formando uma singela “simbiose criativa” entre jovens e pessoas que já viveram mais que eles.

Criativa também é a dona de casa, o jogador de futebol, o motorista, a empregada doméstica, a professora primária e todos os outros professores, os pássaros e as plantas. Outro dia, no jardim de minha mãe, apareceu uma rosa branca no meio de muitas rosas vermelhas. Fiquei sem entender. Talvez precisasse tomar lições de genética. Que nada! Mamãe me disse que era criatividade da roseira.

E assim são as coisas do mundo. Dia desses, numa estrada do interior do município, eu encontrei uma carroça carregada com paus compridos (acho que eram eucaliptos) que foram muito além do comprimento daquele meio de transporte frágil. Aflição. O carroceiro pediu-me calma e eu fiquei só olhando. Observei que na ponta dos paus, o criativo condutor havia amarrado uma coroa de “cipó são-joão”, aquele que dá flores em junho e enfeita matas e capoeiras. Eram flores num tom entre o rosa e o vermelho e chamaram a atenção dos viandantes daquele trajeto. O costumeiro pano ou fita vermelha perderam sua graça. É preciso renovar. Viva às flores do “cipó são-joão”!

Não demorou muito e a criatividade do carroceiro foi plagiada. Num buraco aberto pela Prefeitura Municipal, havia uma tábua enfiada com uma pequena placa: “Em obras”. E o plágio? Colocaram um buquê de flores no alto e os motoristas falaram menos mal do prefeito.

Eis aí uma dica. Por que não plantar flores ao longo dos caminhos? Qualquer tipo. Flores são flores, não importa que sejam cipós, ipês (amarelos e/ou roxos), beijinhos (já têm muitas na estrada de Guaricanas, entre o Rio Sellin e Ascurra), hibiscos e girassóis.  

Percebe-se que a criatividade está presente em todos os lugares. Adultos e crianças dependem dela, sejam artistas ou não. É a criatividade que formará o mundo do futuro. Haverão de surgir as supermaravilhas da ciência, da tecnologia e da comunicação. Ainda não sabemos bem como será. Certamente, uma novidade a cada dia, ou a cada hora. Todavia, espero que as pessoas se amem mais e que a roseira vermelha dê flores azuis, roxas, verdes, amarelas e brancas. Tudo para o bem da humanidade!


* Poeta, escritor e professor, autor dos livros “Meu canto-amar”; “Girata de espantos”; “Nebulosa de amor”: “Contos e poemas de Natal”; “A sétima caverna”,”De Neu-Zürich a Presidente Getúlio: uma história de sucesso”; “A inserção da língua portuguesa na Colônia Hammonia”: “Terra da fartura: história da colonização de Ibirama”: “Teoria da Literatura”: “IbirAMARes e outros poemas” e “A história das árvores-homens e outras crônicas”.

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