A nossa “máquina do tempo”
O escritor inglês H. G. Wells escreveu, em um de seus livros
– no publicado em 1896, que praticamente inaugurou o gênero de ficção
científica – colocando na boca de um dos seus personagens: “Todos nós temos
nossas máquinas de tempo. Algumas nos levam de volta: elas são chamadas
recordações. Algumas nos levam adiante: elas são chamadas sonhos”. Essa
afirmação ganhou o mundo, com maior velocidade do que a da página escrita,
através da magia do cinema. Alcançou milhões de pessoas, que nunca leram o tal
romance, no qual as duas versões cinematográficas (a última, de 2002) se
basearam. No filme, quem faz essa declaração (tão verdadeira que é
absolutamente óbvia) é o personagem “Über-Morlock” (protagonizado, na
refilmagem de 2002, pelo ator Jeremy Irons).
Calma, paciente leitor, já vou pôr ordem nessa miscelânea de
informações vagas, pois meu instinto de jornalista assim o exige. O livro de H.
G. Wells, no qual se basearam as duas versões cinematográficas (ambas, claro,
com o mesmo título do romance) é “A máquina do tempo”, clássico (e suponho que
pioneiro) do gênero ficção científica. Ah, vocês querem saber quem é esse
personagem de nome tão estranho? Bem, “Über”, na história, é o líder supremo
dos “morlocks”. Não resolveu muito? Quem não leu o livro e nem assistiu a nenhuma
das duas versões do filme continua no ar? Pois é, entra aí a fértil imaginação
do escritor inglês e seu genial talento para tornar algo inverossímil em
verossímil.
Os “morlocks”, no romance, eram seres humanóides, que viviam
nos subterrâneos da Terra, em uma era muitíssimo distante da nossa. Estamos,
qualquer criança sabe, no século XXI depois de Cristo. H. G. Wells, todavia,
situa seu enredo (pasmem) no século (não no ano) 8.028 d.C. Trata-se de um
tempo tão à frente do nosso que é melhor nem referenciá-lo em algarismos romanos.
Os “morlocks” eram mutantes da espécie humana. Descendiam das pessoas que se
abrigaram nos subterrâneos do Planeta, após uma arrasadora guerra nuclear que o
devastou. O leitor menos atento não notará o fato de que, quando o livro foi
escrito – nos anos finais do século XIX – as armas atômicas não existiam. Não
passavam de teoria, quando não de ficção. Pouquíssimos cientistas acreditavam
que elas seriam possíveis (se é que algum, mais arrojado ou imaginativo, cria
nessa possibilidade). A primeira bomba atômica ficou pronta em 1945 – praticamente
duas semanas antes de ser lançada sobre a cidade japonesa de Hiroshima, em 6 de
agosto – e foi testada no deserto do Novo México, se não me falha a memória, em
16 de julho desse ano.
H. G. Wells, portanto, previu a construção dessa terribilíssima
arma, que pode nos destruir a todos e acabar com a vida na Terra, pelo menos 49
anos antes do Projeto Manhatan desenvolvê-la e concretizá-la. Foi, pois, um
gênio!!! Nenhum profeta conseguiria prever algo assim (suponho), com tamanha
precisão. E ele nem era cientista, mas escritor. Mas... voltemos aos “morlocks”.
Eles foram “produtos” de mais de 800 mil anos de “evolução” (ou seria de “involução”?).
Eram criaturas extremamente pálidas, em decorrência da falta de melanina, e
quase cegas. Obviamente, eram sensíveis à luz do sol, que não viam e nem
poderiam ver. E do que se alimentavam, já que não podiam plantar coisa alguma
naqueles subterrâneos? Pode-se dizer que eram antropófagos. Comiam “Elois”,
também mutantes humanos, mas dos que permaneceram na superfície do Planeta e
sobreviveram, de maneira que Wells não explica, à mortífera radiatividade. Por
milhares de anos, essa raça teria vivido de forma pacífica, fazendo da Terra um
paraíso, já que teria banido as guerras. Até que... surgiram, subitamente, como
do nada, em seu caminho, os “morlocks”, que se tornaram seus predadores.
E onde quero chegar com todo esse bla-bla-blá? À convicção
de H. G. Wells, pioneiro em tratar dessa fantasiosa hipótese, de que uma
hipotética “máquina do tempo” era possível, mas apenas, no terreno artístico (no
da Literatura, por exemplo). E os artistas têm como “ferramenta” a imaginação, que
como todos sabem, é livre e ilimitada e faz das coisas mais absurdas e
impossíveis, possíveis. Caso contrário, não colocaria na boca do Über-Morlock,
personagem que criou, a afirmação (esta sim lógica e até óbvia), de que “já
temos”, (e todos nós sem exceção), esse mecanismo que nos leva, com a
velocidade da luz, ao passado e ao futuro. No primeiro caso, mediante
(unicamente) a “recordação” e, no segundo, só mesmo através dos “sonhos”.O tema
é tão fascinante (posto que inútil, em termos práticos) que me proponho a
voltar a ele oportunamente.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Não tinha pensado nisso, já que nos sonhos não se atingirá o que de fato acontecerá, mas é interessante. Pensava que o criador da ficção científica fosse Júlio Verne e seu "Cinco semanas em um balão", de 1862, segundo a Wikipédia.
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