segunda-feira, 19 de outubro de 2015

O que precisamos saber?

O ato de pensar é um mistério (pelo menos para mim e, suponho que, também, para os especialistas que se debruçam no estudo da mente humana). Envolve inúmeras indagações e poucas (talvez nenhuma) certezas. Seu produto é abstrato: é o “pensamento”, que pode ser definido como concepção, combinação e comparação de idéias. Como se dá tal processo? O homem é o único animal que tem essa capacidade? Tem controle sobre o ato, ou seja, pensa quando quer, ou os pensamentos lhe vêm à mente à sua revelia? Baseado em minha experiência pessoal, a única a que posso recorrer, não temos controle sobre o ato de pensar. Ou seja, não pensamos o que e quando queremos. Pelo menos, não sempre. Os pensamentos (a imensa maioria) ocorrem espontaneamente, sem nossa interferência. A maior parte vem confusa e disforme, embora, misteriosamente, os entendamos. Alguns, até conseguimos expressar. Outros tantos, não, mesmo depois de elaborados e revestidos de palavras lógicas, não por sua lógica, mas  por sua inconveniência.     

Os pensamentos, caso não os expressemos por qualquer motivo, permanecem rigorosamente inacessíveis para terceiros. Posso, por exemplo, estar pensando mal de alguém, mas se não expressar essa minha avaliação negativa, ele jamais saberá disso. Já imaginaram se pudéssemos ler pensamentos alheios (e vice-versa, ou seja, se os outros pudessem ler os nossos)? Seria o caos! Conflitos e mais conflitos se sucederiam. Ouso afirmar que seria impossível a existência de qualquer tipo de sociedade, quer da família, quer de algum outro tipo de associação.

O homem é um animal que ainda está em processo de evolução, que tende a ser sumamente lento, de milhares, quiçá milhões (ou mesmo bilhões) de anos. É possível (seria provável?) que um dia conseguirá controlar, plenamente, o ato de pensar e que, com muito treino, na base de tentativa e erro, já consiga determinar a qualidade e o teor de alguns desses pensamentos. É um esforço que vale a pena. Afinal, mesmo que não venhamos a nos dar conta, somos, de fato, o que pensamos. Se pensarmos que somos infelizes e fracos, assim seremos. Se nutrirmos pensamentos negativos, de mágoas, ressentimentos, ciúmes e vinganças, sem os “expulsarmos”, pensando outras coisas que não sejam negativas, estaremos apostando na infelicidade. E seremos, dessa forma, infelizes.

Victor Hugo nos lembra: “Há pensamentos que são orações. Há momentos nos quais, seja qual for a posição do corpo, a alma está de joelhos”. Esta é a postura dos que têm fé, dos que não abrem mão da esperança e dos que vivem com qualidade e alegria. Nada no ser humano é mais nobre e maior do que a razão. Nada se compara à sua capacidade de raciocinar, de analisar e de entender tudo e todos que o cercam e de criar, com a simples força do pensamento, o abstrato, ou seja, o que não existe. Não fora sua racionalidade, esse animal, fatalmente, já teria desaparecido da Terra. O filósofo e pacifista inglês, Bertrand Russel, constatou: “O pensamento é grande, livre e rápido: é a luz do mundo e a glória mais alta do ser humano”.

Muito do que pensamos e, por conseqüência, do que somos e fazemos, depende de nossas circunstâncias: do lar em que nascemos, da educação que recebemos, das oportunidades que nos aparecem e que aproveitamos, das pessoas que conhecemos, dos livros que lemos etc.etc.etc. Elas determinam, caso não consigamos alterá-las, quando desfavoráveis, o teor e a qualidade das nossas idéias. Boa parte (é impossível quantificar) dos nossos pensamentos não conseguimos, nunca, revestir de coerência. São confusos, caóticos, difusos, embora, às vezes, tenhamos intuição, se não certeza, que caso conseguíssemos expressá-los, de maneira lógica, poderíamos fazer maravilhas. Fernando Pessoa escreveu a respeito: “Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens”. Eu também os tenho. Você também tem, paciente leitor, mesmo que nunca tenha se dado conta e nem parado para refletir a respeito.
    
Se conseguirmos dar coerência a esses pensamentos grandiosos e fazê-los viver, se tivermos convicção da nossa grandeza, na devida proporção da nossa humanidade, e se nos convencermos de que estamos destinados ao sucesso, dificilmente deixaremos de ser vencedores naquilo  que empreendermos (claro, desde que seja factível e que ajamos nesse sentido). O sábio budista Pali Tripitaki concluiu: “O que somos hoje é uma conseqüência do nosso pensamento de ontem, e o nosso pensamento presente constrói a nossa vida de amanhã: a nossa vida é uma criação do nosso espírito”.

Não podemos (ainda), é fato, controlar o ato de pensar, mas podemos nos predispor a que seu produto (o pensamento), seja coerente, positivo e construtivo, pelo menos na sua maior parte. Como? Isso é algo que cada um tem que descobrir por si. Fernando Pessoa observou que  “o homem não sabe mais que os outros animais; sabe menos. Eles sabem o que precisam saber. Nós não”. É esse segredo que nos compete desvendar. O que precisamos saber e não sabemos? Sim, o que?

Boa leitura.


O Editor.

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Um comentário:

  1. Com treino podemos afugentar o medo, apreensão, preocupação, culpa e outros pensamentos negativos. Também é possível trazer pensamentos bons. De alguma forma sentimos o que pensamos e em certa medida pensamos o que queremos.

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