segunda-feira, 12 de outubro de 2015

De criança


* Por Núbia Araujo Nonato do Amaral

Passei por uma esquina onde haviam arriado um farto despacho, mas o que me encantou foi o tamanho e qualidade do alguidar, aquilo pintado ficaria lindo! Mas, sempre tem um mas, sou uma covarde escaldada e deixei o trem pra quem era de direito.

Engraçado, dizem que Deus protege os bêbados e as crianças, na minha meninice não havia esse respeito (era medo mesmo) pelas entidades, a gente ficava na tocaia esperando pra atacar, às vezes do nada, as moitas saiam cuspindo a molecada, nessas horas as batalhas eram ferozes, principalmente se tivesse cocada, era unhada, rabo de arraia, cuspe no olho.

Pra lerda aqui só sobravam as balas, mas minha irmã, senhora absoluta, guerreira nata, me cedia um pedacinho de cocada, nem eu a encarava. Chato era quando a gente perdia um tempão e o despacho era pra outra entidade e se não tivesse doce a farofa voava. Será que era por isso que eu tinha tanta pereba?

Salve Oni Beijada!

Salve a molecada!

Salve a pureza!

Salve a inocência!

Que Papai do céu não nos perca de vista!


 * Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário



Um comentário:

  1. Vi poucos despachos quando menina, e a minha mãe nos assombrava. Eu, por respeito, jamais tocaria numa oferenda. Mas hoje, pensando bem...

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