sábado, 1 de agosto de 2015

Desintegração

* Por Abgar Reanault

Eu tenho o coração cheio de coisas para dizer...
E a minha voz, se eu acaso falasse,
teria a força de uma revelação!
Meu espírito palpita ao ritmo desordenado e aflito
de asas prisioneiras que se dilaceraram
na arrancada impossível da libertação e da altura.
Minhas mãos tremem ainda ao contato
imaterial, sobre-humano e fugitivo
de qualquer coisa além e acima deste mundo...
Adormeceu para sempre no fundo dos meus olhos
a saudade de paisagens estranhas e longínquas,
que nunca, nunca mais voltarão neste tempo e neste espaço.
Doem meus olhos. Tremem, ansiosas, as minha mãos.
Meu espírito palpita. Tenho o coração cheio de coisas
para dizer...
Eu estou vivo, Senhor! mas, em verdade, é como se estivesse
morto...


(A outra face da lua, 1983).


* Poeta, membro da Academia Brasileira de Letras.

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