Partilha
de alegrias
* Por Pedro J. Bondaczuk
A imensa maioria das pessoas, não
importa em que época tenha vivido e nem sua condição social (e, portanto,
material), tem o estranho hábito de apostar no que é negativo. Observe, por
exemplo, as conversas numa roda de amigos. Você notará, com a maior facilidade,
que os assuntos tratados, mesmo os mais triviais, para não dizer banais, são,
invariavelmente, todos de críticas, intrigas, fofocas e maledicências.
Ou, então, são de notícias ruins,
dando conta de tragédias, de violência e de crise. É certo que os meios de
comunicação contribuem, demais, para essa postura. E esse não é sequer, como se
pensa, fenômeno exclusivo do nosso tempo. A leitura de jornais e de livros do
passado, não importa se recente ou muito remoto, por exemplo, mostram que
sempre foi assim.
Partilhamos com os outros
tristezas, mágoas, queixas, frustrações e uma infinidade de coisas negativas,
na vã esperança de recebermos ajuda para amainar, senão eliminar nossas
aflições. Não eliminamos. Pelo contrário, subconscientemente, alimentamos
nossas angústias, multiplicando-as exponencialmente.
Ocorre que nosso interlocutor
convive, amiúde, com os mesmíssimos problemas que nós e espera, por sua vez,
que o ajudemos, da mesma forma que esperamos a sua ajuda. É o típico caso,
portanto, de um cego tentando guiar outro cego. Esse tipo de conversa não
passa, pois, de mera perda de tempo, o que, em vez de nos ajudar, vai nos
complicar ainda mais, posto que nem sempre percebamos isso.
Há um tipo de partilha, porém,
que tem um benéfico e bem-vindo efeito multiplicador e que, na verdade, é o
antídoto que tanto procuramos para anular os efeitos dos venenos da alma. É o
de alegrias. É o do bom-humor. É o do otimismo, da crença que todos os males
são passageiros e que o amanhã pode (se assim quisermos) ser muito melhor do
que o aflitivo presente.
Dizem, os pessimistas, não sem
uma certa dose de razão, que “nada é tão ruim que não possa piorar”. Mas os
otimistas igualmente estão certos ao inverterem essa premissa para “nada é tão
bom que não possa se tornar melhor”. Qual das duas afirmações você prefere? Se
for a primeira, está na hora de mudar seus referenciais. Ou, em casos extremos,
de procurar, com urgência, ajuda de algum especialista.
Da minha parte, opto pela segunda
colocação. Aprendi, ao longo dos anos, depois de apanhar muito da vida, que o
pensamento positivo me predispõe a vitórias inacreditáveis. E quando sobrevêm
os fracassos, seus efeitos são minorados pela sólida crença numa reversão de
expectativas no amanhã.
Sempre que me sinto tentado a
pensar no negativo, lembro da personagem Scarlet O’Hara, do clássico de
Hollywood, “O vento levou”, que diante da catástrofe pela qual passava, em
decorrência da guerra civil norte-americana, não se perdia em lamúrias e nem
cogitava em se matar. Cerrava os dentes, e exclamava, cheia de confiança e de
energia: “Amanhã será outro dia!”.
Está aí magnífico lema para
nossas vidas. Que tal você enquadrar essas palavras, em letras garrafais, e
colocá-las em um lugar bem visível do seu gabinete de trabalho? Com o tempo,
elas serão gravadas em seu subconsciente e você haverá de encarar os fatos,
próprios ou alheios, na devida perspectiva. Deixará de ser triste, mal-humorado
e infeliz, e portanto desagradável aos que o cercam e até a você mesmo.
É isso, leitor amigo, “amanhã
será outro dia!”. Experimente partilhar com os outros seu bom-humor, otimismo,
esperanças, fé e, sobretudo, alegrias. Em um primeiro momento, é verdade, você
corre o risco de ser encarado como alienado. Mas, esteja certo, as pessoas não
irão se afastar de você, como se tivesse alguma doença grave e contagiosa. Sua
atitude, aos poucos, irá ter efeito multiplicador. Transformará, sem que estes
se apercebam, a de seus interlocutores.
O dramaturgo dinamarquês, Henrik
Ibsen, declarou, em uma de suas peças, pela boca de um dos seus personagens:
“Pode-se ficar alegre consigo mesmo durante um certo tempo, mas a longo prazo a
alegria tem de ser compartilhada por duas pessoas”. Busque, apenas, a companhia
de quem esteja disposto a fazer essa partilha ou a aceitá-la, caso seja você o
partilhador.
Nada, absolutamente nada é tão
bom que não possa melhorar. Esta tem que ser a sua crença, nos momentos
favoráveis e, sobretudo, nos aziagos. Isto é o que você deve partilhar com as
pessoas que ama e mesmo com as que detesta. Haja o que houver, aconteça o que
acontecer, “amanhã será outro dia”. E pode (por que não?) ser o da sua maior
vitória na vida, caso acredite, de fato, que o seja e se predisponha para tal.
* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas
(atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e
do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe,
ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma
nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance
Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
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