segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Crônica de Natal

* Por Alexandre Vicente

Começo a sofrer com o Natal no final de novembro: primeiro é música da Líder Magazine, que abre os festejos com “Já é natal, na Líder Magazine” – já começo a tremer; segundo é a pressão psicológica que sofro – praticada por mim – sobre se coloco ou não coloco as famigeradas lâmpadas pisca-pisca na varanda.
Se fosse só instalar, acho que eu não sofreria tanto; mas depois de feita a escolha (por montar), você, automaticamente, estará se obrigando a desmontar. E isso pode ocorrer somente na semana anterior ao Carnaval – que foi o prazo dado por sua mulher para que você executasse a “simples” tarefa:
– O que tem demais? É só pegar a escada e desmontar as lâmpadas.
“O que tem demais?” – eu me pergunto também. Tem que sempre há uma lâmpada queimada e faz o circuito inteiro pifar; tem que parece, que essa coisa de instalar as lampadinhas na varanda, é igual IPTU, IPVA… Você paga todo ano. Pior! É dupla tributação (instalar e, obrigatoriamente, desinstalar), sem direito a ação na Justiça Federal.
Este ano está decidido: não vou colocar os tais adornos. Lógico que alguma sequela de culpa fica. O que os vizinhos vão dizer? Você pensa até que Papai Noel não virá e por sua culpa. “Uma varanda sem lâmpadas?!” – dirá o velhinho – “Que ultraje!”. E os vizinhos dirão a seus filhos, que não ganharam presente por causa do preguiçoso do 102, que não instalou as lâmpadas.
Pelo menos vai ter árvore de Natal. Isto porque esta nobre função cabe à minha filha e à minha mulher; que pacientemente, ano após ano, montam com todo carinho a bendita. Lógico que isso só faz aumentar a minha culpa; mas está decidido: este ano nada de bi-tributação; não vou colocar as lâmpadas. E se Papai Noel não vier… boto a culpa na Light e digo que estou contribuindo com a preservação do planeta… Aff… quem estou tentando enganar? Até o Natal, muita coisa pode acontecer e sabe como é… Nunca deixei de pagar um imposto na vida.

Até agora, tudo correndo como o planejado. Pelo que parece, esse ano me livrei das tais lâmpadas de natal. Já estamos a quatro dias de comemorar o nascimento de Jesus e eu tenho conseguido escapar dessa tarefa – a árvore de Natal foi montada graças a  persistência e disciplina de minha mulher e minha filha.        Estamos há três dias do Natal e tenho evitado assistir à TV – lembram da musiquinha da Líder Magazine? – pois é, evitei os calafrios menopáuticos, que ela me desperta.
A novidade na casa foi a chegada de Billy. Era para ser um presente de Natal para minha esposa, mas caí no conto do vigário; agora que tem árvore, preciso pôr um presente que fique lá e que não faça suas necessidades pela casa.
Billy é um filhote de Bichon Frisé – tá… já sei o que você está pensando e já vou avisando: “Isto não é politicamente correto de sua parte.” – Independente dos julgamentos… Ele é uma graça e está em fase de aprendizado. Fico impressionado com sua capacidade. Em dois dias aqui em casa, já aprendeu a fazer o xixi no jornal, enquanto algumas pessoas que conheço, não aprenderam a puxar a descarga – e já estão com mais de quarenta… Anos.
Embora tenha escapado das lâmpadas, ainda tenho um compromisso de que não posso escapar: fazer as rabanadas para antes, durante e depois do Natal. O diferente delas, é que encontrei um jeito de prepará-las sem óleo algum. Qual o segredo? Ah… É só você blá blá blá blá, depois blá, blá, blá…
Como de costume o barco de fim de ano já está atracado e ilustres personagens da cultura e outros, nem tanto da política, estão embarcando: Rodolfo Bottino, Joãosinho Trinta, Sérgio Brito, Kim Jong-il. Isso é muito comum nos finais de ano. O navio atraca em dezembro e só parte em janeiro. Por isso, “olho vivo e bunda baixa”.
Muito comum também é o caótico trânsito de dezembro em que as pessoas correm de um shopping para outro na busca por presentes: presente dos filhos; dos maridos; das esposas; das namoradas; do amigo oculto; do amigo urso…
Um destaque vai para as variações / evoluções da brincadeira de amigo oculto. Antes você tinha que comprar um presente para quem você tirou no sorteio e esperar por outro. Era uma coisa simples. Geralmente você comprava uma camiseta super bacana da Armadillo e saia com um despertador paraguaio pequenininho. Para inibir esse disparate, passaram a estabelecer um preço para o presente. Daí você passou a levar uma camiseta bacana da Taco e sair com um despertador paraguaio pequenininho. Em uma terceira etapa, criou-se o amigo oculto sem sorteio, onde você e todos os outros participantes, compram um presente que possa servir para qualquer pessoa. As lembranças vão embrulhadas para uma mesa e por ordem do sorteio vão sendo escolhidas. Se você gostou de alguma coisa que já saiu da mesa, pode “roubá-lo” de quem pegou; cedendo o seu direito de pegar o presente (embrulhado) a quem foi roubado. Nas primeiras vezes que participei desse tipo, eu levava uma garrafa de vinho ou um DVD musical da moda e… Saía com um despertador paraguaio pequenininho. As coisas pareceram começar a se acertar, quando comprei um exemplar de “Marley e Eu” e levei pra casa um outro livro, também muito bom chamado: “Marley e Eu”. Nesta última edição todos saíram com bebidas e alguns… Bêbados.
Nosso próximo encontro será depois do dia 25, portanto desejo a todos um bom Natal e que lembrem o que esta data representa. Estarei orando, rezando, acendendo incensos ou batendo tambores para que todos recebam muitas energias positivas e que o despertador paraguaio pequenininho, permaneça lá… Confinado em Camelot, ou para quem não sabe onde fica, no famoso camelô da Rua Uruguaiana.

Então tá… A essa altura você ainda tá pensando o que fazer com o peru e a farofa, que sobraram do Natal. Já fez fritada, virado e despacho; mas o danado do penoso ainda está lá – roubando espaço da geladeira. O pior, é que o pior ainda está por vir…
Você já se tocou que neste fim de semana vai rolar virada de ano? Lógico que sim! Você sabe que vai ter que fazer aquele lombo ou pernil de porco, porque é de conhecimento geral, que na virada do ano, temos que comer animais que chafurdam ou fuçam… Não pode comer animal que cisca prá trás – não sou “expert” em biologia ou veterinária, mas não conheço animal que cisca prá frente. Quem sabe o ornitorrinco da Patagônia…? É… Quem sabe? – Sendo assim, é melhor você tratar de dar fim a essa galinha gigante, que insiste em dormir na sua geladeira. Caso contrário, você vai ter que inventar uma receita de porco com peru… Que saudade do bifinho com cebola, né?
Outro detalhe, que não passa despercebido, é como a cidade fica meio abandonada nesses dias mornos entre o Natal e o Ano Novo. Fora as lojas, que estão trocando os presentes tamanho 38 pelos de 42. Sim… Porque, ninguém em sã consciência, compra uma roupa de presente no tamanho 42. Só se for por encomenda… Tá louco? Você chega prá pessoa e dá uma bermuda 42… O que ela vai pensar de você? “Tá me chamando de gordo?”. Melhor comprar o 38. Ele faz aquela cara de que gostou e já tem o fazer no dia 26. Além disso, você ajuda a manter aquele empregado temporário nas lojas.
Voltando aos dias espremidos entre as festas de fim de ano, eu pergunto: por que o trânsito da cidade não é assim o ano todo? Cara… Nem parece aquele inferno de dezembro, quando todo mundo sai prá comprar roupas e presentes (se for roupa para presente… Já sabe: tamanho 38 para mulher; e 40 se for para homem).  Outro dia saí de casa e fiz o trajeto até o trabalho em 35 minutos. Geralmente cubro essa distância em uma hora e meia… Bom demais… Viu?
No ano passado eu me reinventei. Fiz o que nem eu acreditaria que seria capaz. Consegui participar dos dois eventos mais badalados da virada do ano: às dez da manhã estava pousando em São Paulo; às cinco da tarde estava largando na Avenida Paulista para disputar a 86º São Silvestre; às dez da noite o avião em que voltei para o Rio estava pousando no Aeroporto Santos Dumont; e finalmente às 23h55min, eu estava de frente para o mar de Copacabana, aguardando o espetáculo dos fogos – realizado todos os anos. Fiquei orgulhoso de mim.
Esse ano vou pegar leve. Já acabei com a galinha gigante e troquei minha bermuda… Sacanagem… Me deram uma 44. Será que estão me achando gordo?



* Escritor carioca

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