terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Seu destino é agora

* Por Evelyne Furtado

As lágrimas molhavam seu rosto. Não sentia vergonha de chorar na frente dele. Homem não gosta de mulher chorando, diziam. Ela não ligava para isso.
-Não chore por favor! – Ele fala ao acariciar seu rosto.

O gesto tem efeito oposto ao que ele desejou. Ela encosta a cabeça no peito dele. Sente o conforto daquele corpo quente e desanda a chorar, como se houvesse rompido um cano lá dentro do seu coração e toda a água estivesse inundando seus olhos escuros e tristes.

Ela tem certeza que o ama e o quer. Ele diz que a ama, que a quer, mas que não pode ficar ainda. Ela sente o medo de perdê-lo e recua, como se ao sair de perto do homem amado preservasse ao menos a sua dignidade. Acusa-o de fazê-la sofrer. Ele pede calma. Diz que ela sabe que não é assim. Repete que a ama e se aproxima com cuidado;

Atrás dela o abismo do abandono; à frente o homem amado dizendo não poder ficar ainda. A dor e o medo confundem-se com o amor. Ela teme olhar para trás. Ele toca seu ombro. Ela se chega devagarzinho. Levanta a cabeça e encontra o rosto bonito e amado. Olha-o nos olhos e vai perdendo as forças.

Abraçam-se. Ele beija seus olhos ainda úmidos;
-Ah, eu te amo muito – ele diz ao seu ouvido.

É a rendição final. No momento ela esquece o que a levou a chorar. Não pensa no amanhã. Só há um destino possível: entregar-se ao seu homem. Recebê-lo em seu íntimo. Seu destino é amá-lo e fazê-lo feliz. Seu destino é, agora, ser feliz.

* Poetisa e cronista de Natal/RN


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