quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Não suporto quem pensa diferente de mim

* Por Mara Narciso


Os temas tabu religião, política e futebol deveriam ser os mais discutidos, a título de informação. Quanto mais se conhece um assunto, melhor juízo se pode fazer dele, ficando-se apto para escolher um caminho. O mais comum é as pessoas mostrarem irritação diante de uma opinião diferente da sua, especialmente se oposta. Muitos não toleram que o outro pense diferente, sentindo-se provocado, desrespeitado, não conseguindo esconder a irritação. É comum se ver de imediato uma subida no tom de voz, ou até mesmo gritos desairosos. Por que sentir como ameaça um pensamento oponente, algo impalpável, que não se vê e nem se mede?

Imagine um batalhão de soldadinhos de chumbo, vestidos de uniforme e marchando de forma idêntica? Assustador! Mas há quem queria uniformizar o mundo em vestimentas, atitudes e pensamentos. As religiões estão aí para isso. Você crê ou descrê, sendo diferente de mim, então eu mato você. Quem tem outras crenças recebe várias denominações como ímpio, herege ou infiel. Em que muda a vida ou a morte dessa ou daquela pessoa se alguém acreditar nisso ou naquilo? Em nada. Caso exista uma vida eterna e um céu, a intenção dos pregadores é levar todos para lá, imagina-se. Crenças a parte, o pensamento diferente costuma incomodar, e não é pouco não.

Há a máxima que diz: pense o que quiser desde que seja igual a mim. Mas é preciso tolerar as múltiplas opiniões, principalmente sobre temas palpitantes. De um lado há os que defendem uma ideia, e do outro os que a abominam. Isso é divertido. Ao ouvir um discurso favorável, nota-se que há algo positivo, e depois, ao ouvir seu contrário, sente-se simpatia por alguma parte desse outra opinião também. Quem tiver melhor poder de argumentação leva a opinião de quem ouve para um ou outro lado. Os religiosos e os políticos precisam estudar melhor o que defendem para cooptar mais adeptos. Dominar a palavra e ter boa retórica cria chances de levar mais gente. É preciso fazer o discurso de acordo com a plateia. Os políticos são mestres nisso, sendo capazes de fazer uma fala com uma das metades da boca para agradar um grupo, e o contrário com o lado oposto para seduzir o outro.

Pessoas inexperientes, ou incultas, ou influenciáveis, ou inseguras ou tudo junto, são mais fáceis de se levar. Também quem é dependente de quem defende uma causa, tem receio de contrariar e perder algum benefício que possa ter. Ameaças também costumam inibir pensamentos diferentes, servindo de “cala-te boca” e têm alto poder de convencimento. Embora se saiba que quem grita, já perdeu a razão, o que se vê é o tradicional “ganhar no grito”. Os frágeis de opinião e pouco convictos das próprias convicções (contraditório?), precisam pensar melhor antes de escolher, ou de se manifestar. Os dominantes devem se acalmar, esquecer a exaltação e entender que todos têm direito a liberdade de opinião e expressão. Existe ainda um grupo que sabe ouvir, opina com segurança e não liga se quem falou concorda, discorda ou muito pelo contrário. Estas pessoas são a imagem da auto-suficiência. São informadas, bebem em várias fontes, e não engolem facilmente o que a grande mídia serve.

Aos que não aguentam uma contraposição, é necessário ouvir com consideração uma opinião oposta, mas que o outro também ouça, aceite e respeite o que pensa quem acabou de ouvi-lo. Não é demérito algum mudar de opinião, ser tolerante e flexível diante de uma boa conversa. Mudam-se tudo, de amor, de religião e até de time, mas este último é bem mais raro. Grupos de várias denominações crescem a cada dia, especialmente o dos intolerantes. O que é uma pena.

*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”   


2 comentários:

  1. É isso aí, Mara!
    Houve um evento promovido nacionalmente pela Sociedade Livres Pensadores, em Olinda, pregando a maior integração entre os que vivem o livre pensamento, o respeito, a liberdade de expressão, etc. Com entrada franca, aproveitei o ensejo e fui distribuir gratuitamente 50 livretes que escrevi universalmente com ousadia "Jesus" . Pasmem com o que aconteceu! Na ocasião, fui impedido de exercer meu direito democrático de divulgar meu trabalho por ateus ignorantes e preconceituosos igualmente ou talvez pior do que alguns grupos religiosos. A decepção foi grande. E ainda dizem que são discriminados. Eu, hein?!

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  2. Tenho por destino estar geralmente fora do que pensa a maioria. Busco arduamente não me incomodar com os contrários, mas é preciso muita prática. Obrigada por comentar.

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