segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

O indivíduo e a sociedade

* Por Roberto Corrêa

Nascemos e morremos indivíduos. Ninguém vai à maternidade para visitar “a nova sociedade” que nasceu. O povo também não nasce e não morre como os indivíduos. Nunca se ouviu dizer que alguém tenha ido ao enterro de “um povo”. Precisamos, pois, clarear as idéias e deixarmos de ser apologistas da sociedade e do povo.

Necessitamos, com urgência, redescobrir o indivíduo, porque é a base de tudo: a célula, o átomo, o embrião, a origem. “Nosce te ipsum”, conhece-te a ti mesmo, sugerido por Sócrates uns 600 anos antes de Cristo, sempre foi importante, mas se encontra atualíssimo, porque hoje poucos conhecem alguém e menos ainda a si próprio.

A agitação da vida moderna, o consumismo exagerado, o domínio da máquina, o lazer infrutífero e banal, a deteriorização da racionalidade e consequentemente da religião, tornaram o homem um mecânico, o protótipo dos robôs, um “software” de computadores. O indivíduo desapareceu nessa massa cósmica incongruente, surgindo a sociedade, o povo despersonalizado e amorfo.

Elucubradores espertos, prestidigitadores da escrita e da palavra, corporificaram a sociedade e o povo como entidades máximas, a quem – o desprezível e ignoto indivíduo -, se subsume como única esperança da salvação próxima e glória da coletividade. Essas inclinações para a supervalorização do conglomerado social motivaram a falsa tese do igualitarismo, ou seja, que todos somos iguais, inclusive quanto à posse ou propriedade dos bens materiais. É a doutrina comunista, em explicação simples, que não pode vingar, mas que ainda procura sobreviver graças aos seus fiéis e abnegados propugnadores.

“O indivíduo reduzido a pó de traque, amordaçado e subjugado pelos ‘guardiões do povo’ e da coletividade,” come o pão que o diabo amassou, porque, desconhecendo-se a si mesmo, não percebe as potencialidades que traz em seu íntimo e que o pode elevar às alturas de uma existência com ideal elevado, própria de seres racionais, criados para vida feliz e maravilhosa.


Precisamos colocar as coisas em seus devidos lugares: o indivíduo é anterior à sociedade, criada por ele para servir e facilitar a vida em agrupamentos, pequenos ou grandes. A sociedade não pode ser considerada como “ente de carne e osso”, pois é abstrata como o “povo” e ambos – sociedade e povo -, só têm utilidades e merecem respeito quando valorizam o indivíduo, principalmente socorrendo-o nas necessidades e deficiências.

O “nosce te ipsum” precisa ser relembrado, estudado e meditado com freqüência, porque, do conhecimento próprio – principalmente das falhas e defeitos -, é que poderão sair as correções e, com isso, o aperfeiçoamento, meta primária ou primordial de todo ser humano.
                                                                                      
* Roberto Corrêa é membro do Instituto dos Advogados de São Paulo, da Academia Campineira de Letras e Artes, do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico, de Campinas, além de diversos clubes cívicos e culturais, também  de Campinas. Formou-se pela Faculdade Paulista de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Fez pós-graduação em Direito Civil pela USP e se aposentou como Procurador do Estado. Dedica-se a escrever artigos ou crônicas sintéticas, bem ao gosto dos leitores dos dias atuais. Católico tradicional, procura encaixar conceitos da filosofia tomista que dignificam o homem, objetivando sua felicidade a partir deste conturbado mundo. É autor de vários livros, entre eles "Caminhos da Paz", "Direito Poético", "Vencendo Obstáculos", "Subjugar a Violência”,Breve Catálogo de Cultura e Curiosidades.


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