A beleza
* Por Pierre Charles Baudelaire
Sou mais bela, ó mortais! Que
um sonho de granito,
e meu seio, onde cada um geme
de dor,
foi feito para o poeta
inspirar um amor
semelhante `a matéria, isto
é, mudo e infinito.
Reino no azul como uma
esfinge singular;
meu coração é neve e ao mesmo
tempo arminho;
odeio o que se move e faz o
desalinho.
E não sei o que é rir, nem
sei o que é chorar.
Os poetas, ante as minhas
grandes atitudes,
que aos monumentos mais
altivos emprestei,
consumirão o ser nos estudos
mais rudes;
pois para esses servis
amantes reservei
um puro espelho em que é mais
bela a realidade:
Meu olhar, largo olhar de
eterna claridade!
Tradução:
Guilherme de Almeida
* Poeta simbolista francês,
integrante do grupo conhecido como “Les cinq poétes maudites”
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