sábado, 10 de agosto de 2013

A beleza

* Por Pierre Charles Baudelaire

Sou mais bela, ó mortais! Que um sonho de granito,
e meu seio, onde cada um geme de dor,
foi feito para o poeta inspirar um amor
semelhante `a matéria, isto é, mudo e infinito.

Reino no azul como uma esfinge singular;
meu coração é neve e ao mesmo tempo arminho;
odeio o que se move e faz o desalinho.
E não sei o que é rir, nem sei o que é chorar.

Os poetas, ante as minhas grandes atitudes,
que aos monumentos mais altivos emprestei,
consumirão o ser nos estudos mais rudes;

pois para esses servis amantes reservei
um puro espelho em que é mais bela a realidade:
Meu olhar, largo olhar de eterna claridade!


Tradução: Guilherme de Almeida



* Poeta simbolista francês, integrante do grupo conhecido como “Les cinq poétes maudites”

Nenhum comentário:

Postar um comentário