Psicoses
* Por
Eduardo Oliveira Freire
-
Conta-me, Gustavo, o que aconteceu naquela noite, há vinte anos?
- Estou
na sala com minha babá e vejo um filme de um cara estranho, que mora num
casarão. De repente, uma mulher no chuveiro é esfaqueada...
- Você
sabe que esse filme é Psicose?
Inclusive, tinha um personagem que nutria um forte respeito e temor por sua
mãe... Mas o que aconteceu de verdade?
- Estava
fixado no filme e senti algo escorrer em mim, era o sangue da babá que me havia
pegado no colo, doutor.
- Você
viu quem a matou?
- Levei
anos para decifrar o rosto.
- Quem
era?
- Meu
irmão mais velho.
- Seu
irmão, Gustavo, que se suicidou em Genebra?
- Sim.
Ele morreu vestido de babá.
- Então,
você viu o rosto de seu irmão e...
- Mas,
ele estava diferente. Usava a roupa da babá.
- Seu
irmão matou a babá, Gustavo?
- Agora
que as coisas estão fazendo sentido, acho que sim. Ele gostava muito de mim e
pedia para eu o chamasse de babá, doutor. Meus pais o obrigaram a estudar fora
do país e ele chorava, dizendo que não queria se afastar de mim.
- Uh...
Nós progredimos bem hoje. A Sessão terminou, até sexta.
***
O terapeuta Lauro César ficou
impressionado com a história, mesmo anos de psicanálise e histórias tão quanto
terríveis, algo o atraía para esse caso de Gustavo. De repente, sentiu ser
dominado por alguma coisa e saiu do consultório sem rumo. Quando deu por si,
estava com um uniforme de babá e um sentimento de proteção em relação ao seu
paciente Gustavo.
* Eduardo Oliveira Freire é formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, com Pós Graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá e é aspirante a escritor
Loucura pouca é bobagem, mas na ficção tudo é possível, especialmente com a sua inesgotável capacidade de criar, Eduardo.
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