sexta-feira, 24 de maio de 2013

Pílulas literárias 169

* Por Eduardo Oliveira Freire

TRAUMA
Desde menina, Laura tinha pesadelos que era atacada por vários homens. Mesmo com o passar dos anos, não se acostumava com eles e ficava longos períodos em depressão.

Fez anos de análise, mas não houve melhora. Um dia, ao assistir um filme na tevê sobre uma garotinha, que houve escondida uma sessão de terapia do pai com uma paciente, vítima de estupro, uma lembrança muito antiga surgiu em sua consciência.

Quando era muito pequena foi brincar na casa de uma coleguinha, que o pai era psicólogo. Quando estavam brincando de pique-esconde, ela entrou no consultório, que ficava nos fundos do quintal da casa. Escondida embaixo do sofá, ela viu o pai da colega e uma jovem entrar. Teve medo de sair de lá e levar bronca.

Ouviu a história da paciente e mesmo não entendo muito bem, as palavras da jovem a marcaram como se fosse a própria vítima.

Depois da revelação, Laura sentiu-se livre.

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DOCES LEMBRANÇAS
Lembro-me que adorava passear na fazenda dos meus avós. Era tratado com um “reizinho” por todos. Quando brincava com os filhos dos empregados, sempre era o líder. Tempos felizes...

Mas, um dia, um monte de homens armados invadiu a fazenda, prenderam meus pais e meus avós. Os empregados com seus filhos se abraçavam felizes e fiquei sem ação. Uma antiga empregada abraçou-me e a ouvi pedir para os caras armados me deixasse ficar com ela.

Então, fui morar com ela numa casa simples da periferia. No início, fiquei revoltado, queria minha vida antiga de volta, mas, com o tempo, fui me adaptando e os dias na fazenda se tornaram um belo sonho. Anos depois, quando voltava do trabalho, na porta de casa havia uma jornalista. Queria me entrevistar sobre minha família biológica. Minha mãe de criação apareceu e a expulsou e veio conversar comigo.

Bem... É lógico que eu sabia de tudo, porém, não queria ter consciência disso, principalmente, perder as doces lembranças da infância. A verdade veio dilacerando meu reino particular.

Minha verdadeira família escravizava as pessoas para trabalhar na fazenda. Todos me tratavam bem porque eram obrigados. Fiquei alguns dias à deriva, como se estivesse acordado de um coma. O que farei?

Minha mãe adotiva me disse para tocar a vida. Seguirei seu conselho.

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ENIGMA
Ela só andava com pessoas cultas, mas ninguém conhecia aquela jovem com uniforme colegial. Todos a descreviam, mas as investigações policiais não conseguiam solucionar o mistério. As vítimas eram encontradas sem marcas e as páginas dos livros nas estantes ficavam em branco.

* Eduardo Oliveira Freire é formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, com Pós Graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá e é aspirante a escritor


Um comentário:

  1. Minicontos a cada dia mais fortes. Verdadeiros dramas psicológicos, geralmente trágicos.

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