sábado, 18 de maio de 2013


Leitura Labial

* Por Rosana Hermann


Bom dia, incoerência. Boa tarde, polêmica. Boa noite, insensatez.

A leitura labial, é a bola da vez.

É ético ou não é? É invasão de privacidade ou não? Vai para o trono ou não vai?

É interessante que todos discutam se o quadro apresentado no Fantástico, com especialistas em leitura labial fazendo a transcrição do dito pelo não dito e, especialmente, do não captado pelos microfones globais. Num mundo onde empresas monitoram emails dos funcionários, câmeras escondidas gravam todos os passos de usuários, chips implantados seguem os movimentos de automóveis e pessoas e satélites fotografam com resoluções altíssimas a vida nas ruas das cidades, estamos, enfim, discutindo a bisbilhotice em sua essência mais básica, direto na fonte, a boca.

A discussão vem com alguns séculos de atraso. Poderíamos ter conversado sobre o tema em alguma década anterior, quem sabe no tempo em que se colocava um copo atrás da porta para ouvir as conversas do outro lado. Mas é oportuna. Não só porque nós, o técnico amador de futebol quer acompanhar cada mínimo detalhe da nossa seleção mas também porque o pedido de desculpas da emissora parece ter rachado o jornalismo global em dois, um time que é a favor e outro que é  contra o pedido de desculpas, já consumado no Jornal Nacional.

O curioso é que o mesmo programa, como sempre, divulgou mais uma nova doença para nosso vasto cardápio, o vício em informações de mídia. No entanto, o que vemos é que é a mídia que é viciada em nossa atenção e, para conseguir nossa total audiência e aplacar nossa fome monstruosa de tudo saber, vai até as últimas conseqüências. Acabou dando certo. O fantástico bateu mais de 40 pontos.

O próximo passo, quem sabe, seja a televisão endoscópica. Cada jogador, técnico, auxiliar, engoliria uma microcâmera e teríamos imagens exclusivas do estômago do Parreira, da bolha do Ronaldo, da virilha do Robinho, da panturrilha do Ronaldinho, do coração do Dida. Assim, quem sabe, teríamos de uma forma direta, a resposta para aquela pergunta tola repetida mil vezes por tantos repórteres para os jogadores: “qual foi a emoção na hora do gol”?

Melhor que isso, só abolir a demonstração de samba no pé.

 *Rosana Hermann é Mestre em Física Nuclear pela USP de formação, escriba de profissão, humorista por vocação, blogueira por opção e, mediante pagamento, apresentadora de televisão. 

Um comentário:

  1. Muito engraçado. Boa humorista. Pelos artistas deve ser de tempos atras, mas não tão atras, pois a vigilância 24 horas é coisa relativamente recente.

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