sábado, 10 de abril de 2010




O nome e a pessoa

* Por Rosana Hermann

Qual era mesmo o nome daquele ator da Globo que parece com o Francis Hime? Esta a pergunta que martelava minha cabeça durante a gravação de uma entrevista de tv em que o maestro participava. Dantas. Era alguma coisa com Dantas. Sabe, aquele ator que fez a minissérie JK? Então, este. Mas não me lembro o nome dele. Só sei que ele é a cara do Francis Hime.

Ontem também, vi outro ator da Globo na ilha de edição. Ele já fez mais de sessenta novelas mas não sei o nome dele. É Otávio, parece. Não é o Tatá, aquele do Sai de Baixo, lembra? É outro. Mas não sei explicar quem.

Acontece muito, a gente não consegue ligar o nome à pessoa. Eu mesma, durante anos, quando trabalhei como apresentadora, ouvia das pessoas este comentário: “eu conheço você da televisão mas... qual é mesmo seu nome?” Lembro de uma passagem cômica em que fui gravar a festa surpresa de uma senhora que completava 80 anos, numa matéria em externa com os Trovadores Urbanos. Assim que cheguei perto da aniversariante dando os parabéns e avisando que estávamos na TV, ela me abraçou dizendo: “Eu adoro você, Madalena Bonfiglioli!”. Passei a noite como Madalena.

Deve ser por isto que muita gente que busca a notoriedade faz questão de projetar o nome junto com a imagem, nem que seja o nome da empresa. Deve ser isso que leva o dono de uma rede de farmácias a estampar sua cara em outdoors, ônibus, anúncios e folhetos de sua empresa. E, claro, ele próprio faz os comerciais da marca. Da mesma forma, uma famosa dona de imobiliárias em São Paulo passou a colocar suas fotos em todas as placas de vende-se, aluga-se ou passa-se o ponto, para ligar o nome à pessoa. No caso dela, seu nome era conhecidíssimo mas ela devia se ressentir de não ser reconhecida nas ruas. Depois de colocar sua foto, aconteceu. Até na televisão ela foi.

O desejo de ser reconhecido com nome, sobrenome e foto três por quatro é muito comum e compreensível. É a vontade de ter sua existência validada. Não nos basta, como seres humanos, a carteira de identidade para o território nacional, o passaporte para o resto do mundo. Queremos ter a certeza de que estamos aqui no Planeta de forma lícita, que somos aceitos, que valeu a pena ter nascido, apesar de não termos pedido para que acontecesse. Quando alguém reconhece seu rosto, seu nome, lembra de um trabalho que você fez e, eventualmente oferece um sorriso, é como se aquela pessoa carimbasse nosso visto de permanência na Terra. Melhor que isso, só crachá VIP para bastidores de show e acesso aos camarotes, com todo mundo reconhecendo seu rosto e dizendo seu nome.

Ah, sim, lembrei. É Daniel. Daniel Dantas, o ator. Ele é a cara do Francis Hime.

*Rosana Hermann é Mestre em Física Nuclear pela USP de formação, escriba de profissão, humorista por vocação, blogueira por opção e, mediante pagamento, apresentadora de televisão.

Um comentário:

  1. Há famosos muito estranhos. Lutam para sair do anonimato e depois que passam a ser alguém, esnobam os fãs fingindo irritação ao ser reconhecidos. Querem que as pessoas os vejam e finjam que não viram nada. Francamente!

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