sexta-feira, 13 de novembro de 2009




Um passinho aqui, outro lá...

* Por Rodrigo Ramazzini

S
ábado. Na hora do almoço...
- Bom dia, Pai!
- Boa tarde! Isso são horas de acordar?
- Não enche pai... Cadê a mãe?
- No banheiro, eu acho... Que cara, hein!
- Queria o quê? Recém acordei...
- Como estava o aniversário da Carla?
- Bom! Bom...
- Pela hora que chegaste estava mesmo...
- É pai! É pai! O que tem para o almoço?
- Arroz com galinha!
- Aquele cara que trabalha contigo, o Fernando, que estava na festa...
- O estagiário? O que ele fazia lá?
- Ele iria a um velório, mas errou o endereço... Que pergunta idiota, pai! Ele é amigo da Carla... Faziam balé juntos, se não me engano...
- Como é que é? Faziam balé juntos?
- Isso! Ele chegou a ganhar um prêmio...
- Há! Há! Há! Essa o pessoal do escritório vai ficar sabendo... O estagiário fazia balé... Vou ter que sacanear!
- Pelo jeito que a Carla contou ele era bom!
- Na segunda-feira será a primeira coisa que farei na empresa: espalhar que o estagiário é “bambi”... Fazia balé a boneca! Há! Há! Há!
- Que preconceito, pai!
- Não é preconceito, filha! Mas me diz qual o homem de verdade que faz balé?
- Sei lá! Além dele, não conheço mais ninguém que faça balé...
- Bem que eu o achei com um “jeito meio estranho” desde o primeiro dia... O modo de se vestir, aquela calça colada, aquele broche...
- A calça colada e o broche representam, ou são os “símbolos”, não lembro! De um grupo, uma seita que ele participa... Sei lá o que é! Só sei que eles defendem a teoria que só o amor salvará os seres os humanos!
- Amor? Que coisa de veado! Amor é para mulher! Homem é sexo! E o que salva os seres humanos é o dinheiro...
- Que grossura, pai! Tu paraste no tempo mesmo...
- É verdade, minha filha! Parei mesmo! Que a tua mãe não me escute... Mas eu continuo como nos velhos tempos: admirando belas mulheres! E não assimilo essa “modernidade” de hoje...
- Deixa de ser careta, pai! Tu precisa te atualizar...
- Prefiro a versão antiga à atual: Gostando de mulher! O que mais que o “estagiariozinho” contou?
- Falou um monte de coisa...
- Eu imagino! Fez balé, prega o amor... Agora só falta tu dizeres que ele gosta de Nei Matogrosso para completar...
- Pior que gosta mesmo! Ele até contou que foi no último show dele por aqui...
- Há! Há! Há! Não! Não! Essa é pra matar! Deixa a galera do escritório saber disso tudo! Vão “cair na cabeça dele”! Bem que eu desconfiei que ele fosse “bambi”... Agora tenho certeza... Que coisa! Deixa o Nestor ficar sabendo disso... Vai se arriar tanto neste guri que ele não vai conseguir terminar o estágio... Há! Há! Há! Ué! Já? Aonde tu vais nesta correria? Mal almoçou...
- Preciso ir lá!
- Cadê a tua irmã que não voltou contigo do aniversário, hein?
- Ficou dormindo na casa da Carla... Estou indo!
- Por que essa pressa?
- Estou atrasada pra encontrar com eles... Marcamos no shopping!
- Eles quem?
- É... Hã... Hã... Com a mana e o Fernando... Fui! Depois eu explico... Tchau! Tchau!
- Volta aqui!

* Jornalista

Um comentário:

  1. Muito boa historia, Rodrigo. Você retratou direitinho um dos preconceitos mais arraigados em nossa sociedade. Tomara que a filha se apaixone por Fernando e os dois namorem, pra "quebrar a cara" desse pai horroroso.
    Abraços

    ResponderExcluir