quarta-feira, 25 de novembro de 2009




Os agentes e as novas adjuntas

* Por Seu Pedro

Eu que trato de “adjuntas do lar” as jovens e senhoras que, vulgarmente, são chamadas de empregadas, me alegro ao ver que o mundo parece estar evoluindo no trato com o próximo. Aberrações como a que vou narrar, espero não presenciar mais. Até porque, o acesso a um telefone celular está tão fácil, que cada um pode ter o seu. Mas certa ocasião, visitando uma madame carioca, moradora do bairro de Ipanema, surpreendeu-me o fato dela haver determinado a uma jovem, que trabalhava como sua empregada, que ao atender ao telefone, cobrisse com um pano onde se fala, “para não o contaminar com micróbios”.

A “adjunta do lar”, obrigada a tomar tal providência, não percebia que também estava protegida das bactérias da patroa. Afinal, dela não sabia onde tinha colocado a boca durante a noite, nem menos se havia escovado os dentes, como mandam os odontologistas. Mas, com todas as vantagens, não deixava de ser uma situação constrangedora. Primeiro, pela voz abafada com que se ouvia o alô no outro extremo da linha. E em segundo, ao se imaginar que cada vez que se fosse falar em telefone público, por exemplo, tivéssemos que levar um fone enroscável, para substituir o ali disponibilizado pela concessionária.

Mas, a minha euforia está ligada ao fato, pioneiro, do prefeito da cidade de Ponta Grossa, no Paraná, meu xará Pedro Wosgrau Filho. Ele sancionou a lei que regulamenta a bilhetagem eletrônica nos ônibus, como alternativa a quem não possua o bilhete; visitantes da cidade e outros. Na mesma Lei, fica criada a figura do “agente de bordo”, antes chamado de trocador ou de cobrador. A mim me parece, mesmo com o salário anterior, ser, a nova denominação, uma valorização humana. Imagine dois jovens conversando: “agora a gente é agente, igualzinho às aeromoças!”. Quando o passageiro chamá-los de trocadores, com peito empinado, dirão: “Agora nós é a gente”.

São coisas que não parecem, mas tiram as pessoas da vulgaridade e fazem-lhes um bem danado. Quem não gosta de ser chamado de um modo mais humano, menos trivial? Eu, por exemplo, fico contente quando me chamam de alguma maneira mais social do que “velho”. Não que eu não seja. Mas “velhinho” até que vai, é mais melodioso. Olhando sob a ótica do bem-estar do próximo, continuo a chamar de “adjuntas” as amigas que trabalham na minha casa, mas qualificando-as: A faxineira é agora “adjunta ecológica”, a cozinheira passa a ser “adjunta do paladar”, a lavadeira e passadeira é a “adjunta dos trajes”. Agora até engraxate da praça eu chamo de “ajunto do brilho”.

* Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.

Um comentário:

  1. Dalva era "adjunta" de um ator global, muito querida pela família. Ninguém cogitava dar um espirro sem ela. Esse ator morreu há pouco tempo
    e ela foi mencionada em seu testamento.
    Isso foi o resultado de um bom trabalho, dedicação, respeito e amor.
    Abraços Seu Pedro

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