Recriando
* Por
Evelyne Furtado
O
poeta não inventou a relva; ele deu cor e nova textura a ela. O céu,
até onde sei, não é uma criação poética; o poeta deu ao céu
sentidos outros. Do mar que ora aproxima, ora afasta, digo o mesmo.
Nem
a palavra o poeta criou, o poeta a usa como bem ou não quer. O poeta
não confeccionou cheiro, nem perfume de flor.
O
poeta não inventou o amor.
Nem eu,
nem eu, nem eu…
Ao
poeta cabe transformar e não criar. Mesmo o texto rubricado como
ficcional é baseado na vida ou na arte que a imita. Ninguém cria a
partir do nada.
Poetas
juntam fatos, vestem sentimentos, brincam com o passado e com o
futuro. Poetas são empáticos. Colocam-se na pele de outras pessoas.
Idealizam com fundamento em experiências anteriores. Lembram, sentem
e projetam sentimentos. Reduzem ou amplificam algo experimentado ou
observado.
Poetas
desejam outra vez o já desejado e nunca o que não foi um dia
aspirado. O poeta se diz fingidor de uma dor que deveras sente. O
poeta confunde e, com as mais melhores intenções, mente. Mentiras
sinceramente poéticas.
*
Poetisa, cronista e psicóloga de Natal/RN.
Não é com ele e parece ser e noutras vezes é com ele e parece não ser.
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